A Pfizer, uma das maiores farmacêuticas do mundo, está passando por mudanças relevantes no Brasil. Ao mesmo tempo em que o presidente da operação local, Victor Mezei, informou a intenção de se desligar da farmacêutica após 11 anos à frente do negócio, a companhia americana finalmente encontrou um comprador para sua fatia de 40% no Teuto, laboratório de genéricos controlado pela família Melo e sediado em Anápolis (GO).
A saída do Teuto, que se concretizará após o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), encerra um período de mais de um ano de notícias acerca da possível venda do laboratório. A Pfizer tinha a opção de comprar os 60% que ainda não detinha, mas a decisão de abandonar o mercado de genéricos e o múltiplo elevado estabelecido no contrato inicial de compra levaram a companhia a colocar à venda a sua participação.
Já a saída de Mezei, profissional bem avaliado por seus pares da indústria, surpreendeu, disse uma fonte. O executivo informou em 26 de maio a intenção de se desligar da Pfizer e o processo de sucessão, segundo a farmacêutica, já foi iniciado. Mezei, de 51 anos, deve permanecer no cargo até o dia 24. A expectativa é a de que a transição se dê nas "próximas semanas".
Em nota, a companhia informou que, sob a liderança de Mezei, "as operações da Pfizer no Brasil foram muito bem-sucedidas, com um forte empenho na promoção da saúde junto à população". "A trajetória do executivo na Pfizer se destacou pelo lançamento de medicamentos inovadores no mercado nacional, bem como por estratégias que ampliaram o alcance de medicamentos estabelecidos no mercado nacional", informou.
Mezei também pediu seu desligamento da presidência do conselho diretor da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que reúne laboratórios multinacionais no país. Diante disso, a entidade realizou reunião extraordinária em 19 de junho, na qual o diretor-geral da Chiesi, Fernando Almeida, foi eleito para o cargo. Mezei ainda teria seis meses à frente do conselho.
Segundo fontes, o executivo teria dito que razões pessoais o levaram a tomar a decisão, entre as quais a busca de novos desafios profissionais. A Pfizer, por sua vez, informou que a opção de venda do Teuto não está relacionada com a decisão de saída de seu presidente. Mezei estava à frente da Pfizer em 2010, quando foi acertada a compra da participação acionária de 40% no laboratório.
No ano passado, surgiram as primeiras notícias sobre a possível venda do Teuto, em operação que o avaliaria em até R$ 1,5 bilhão. Grandes nomes do setor, como a israelense Teva, e pelo menos um fundo de private equity, o Advent, chegaram a olhar o ativo, mas as negociações não prosperaram.
Fontes disseram ao Valor, em outubro, que problemas levantados nas diligências feitas por potenciais compradores, como questões relacionadas à qualidade da água e ao pós-registro de medicamentos, deveriam pesar sobre o valor do laboratório e teriam reduzido o interesse no ativo.
A Pfizer teria até o fim deste ano para fazer oferta pelos 60% que ainda não detinha no Teuto, por um valor final vinculado ao desempenho do laboratório e a um múltiplo de 14,4 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) - considerado muito alto -, mas acabou não exercendo esse direito. Sem um comprador para o laboratório, a família Melo decidiu recentemente recomprar sua participação, por preço inferior aos R$ 400 milhões que recebeu da Pfizer em 2010, segundo fonte da indústria.
Em nota, a Pfizer informou que "após uma cuidadosa avaliação", decidiu "encerrar a parceria com o Laboratório Teuto". Conforme disse a farmacêutica americana, a decisão está alinhada à "meta de concentrar esforços e recursos em seu atual portfólio de medicamentos, bem como seu pipeline [produtos em desenvolvimento]".
O Teuto disse em nota que a compra da fatia da Pfizer "sinaliza a confiança que os acionistas controladores possuem em suas perspectivas de crescimento ao longo dos próximos anos, com base em sua destacada atuação em mercados como genéricos, antibióticos e injetáveis". Nos primeiros cinco meses deste ano, o Ebitda do laboratório totalizou R$ 70 milhões.
Em 2016, segundo balanço publicado no Diário Oficial do Estado de Goiás, o Teuto teve lucro líquido de R$ 4,1 milhões, ante prejuízo de R$ 26,3 milhões em 2015. A receita líquida subiu 16%, a R$ 630,6 milhões. O balanço recebeu uma ênfase do auditor independente, a KPMG, por causa de uma investigação em curso no Cade, de irregularidades na venda de medicamentos a Estados brasileiros, que acabou envolvendo o laboratório. Segundo nota explicativa, advogados indicaram que o caso contra o laboratório "parece pouco sólido".