Nos últimos anos, a imunoterapia vem sendo a grande aposta e esperança entre os tratamentos contra o câncer. Contudo, além do alto custo –podendo chegar a valores próximos a R$ 90 mil–, há também graves efeitos adversos possíveis. A imunoterapia, de forma geral, busca super-estimular o sistema imunológico do paciente para que ele detecte e combata o câncer.
Pessoas submetidas à essa terapia podem apresentar reações autoimunes –em que o organismo ataca a ele mesmo– em tecidos e órgãos. Entre os problemas mais comuns estão: manifestações cutâneas, como dermatites, erupções e, dependendo do caso, vitiligo; e alterações gastrointestinais, como diarreia e colite –inflamação no intestino.
Há também relatos de problemas de hepatite e problemas endócrinos (nas glândulas que secretam hormônios), relacionados à diminuição do funcionamento da tireoide e da hipófise. Já foram encontrados raros casos de alterações neurológicas e hematológicas.
"A imunoterapia, em geral, é muito mais segura que a quimioterapia, mas há alguns efeitos colaterais que podem ser mais perigosos", afirma o médico oncologista Gilberto Lopes.
Lopes diz que alguns, se não tratados, podem levar a pessoa à morte.
Segundo Rodrigo Munhoz, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, os efeitos colaterais autoimunes ocorrem pois o tecido cancerígeno possui proteínas e substâncias presentes em órgãos saudáveis. Desse modo, por estar super-ativado, o sistema imune acaba atacando áreas além do câncer.
"No melanoma, por exemplo, tem uma relação com as substâncias que estimulam o sistema imune –os antígenos– e que são compartilhadas entre o tumor que nasce na pele e a pele saudável", afirma Munhoz.
Segundo especialistas, se o tratamento utilizar um único agente imunoterápico, efeitos adversos graves, que podem levar à interrupção do tratamento, são encontrados em menos de um quarto dos pacientes.
Os riscos e os efeitos colaterais, porém, aumentam com a combinação de medicamentos e terapias, ou seja, com a uso de mais de um agente imunoterápico ou com a combinação dele com quimioterapia ou radioterapia.
De acordo com Raphael Brandão, coordenador científico do Grupo Oncoclínicas, na prática clínica os números podem ser maiores. "Muitas vezes somos surpreendidos. Ainda estamos aprendendo", diz Brandão.
Por esse motivo, é importante grande atenção aos sintomas e aos exames. Lopes afirma que a maior parte dos efeitos colaterais podem ser controlados com medicamentos sem prejuízo do tratamento com imunoterapia.
"Na fase em que estamos, de incorporação de nova tecnologia, a conscientização, não só da equipe médica, mas do próprio paciente é fundamental. É importante que a comunicação de algum efeito colateral aconteça o mais cedo possível", afirma Munhoz.