O valor contábil da rede própria das operadoras de planos de saúde mais que dobrou em cinco anos, atingindo R$ 12,3 bilhões em 2016, segundo levantamento realizado pela Abramge, associação das operadoras de planos de saúde.
O aumento ocorreu mesmo com uma redução de 19% no número de operadoras. Atualmente, há cerca de 1,3 mil empresas de convênios médicos, sendo que 45,5% delas são donas de hospitais, clínicas ou laboratórios. "Em 2011, metade do setor era verticalizado e esse patamar se mantém. Mas as operadoras vêm fazendo fortes investimentos tanto em aquisições como em greenfield [crescimento orgânico]", disse Marcos Novais, economista chefe da Abramge.
A expansão da rede própria das operadoras deve se intensificar ainda mais daqui pra frente, com a entrada de capital novo de investidores. A NotreDame Intermédica, que foi comprada pela Bain Capital há três anos, protocolou um pedido de abertura de capital na bolsa no mês passado e a Hapvida, que é forte no Nordeste, estuda seguir o mesmo caminho. A operadora São Francisco Saúde, do interior de São Paulo, que teve 29% de seu capital vendido para o Gávea em 2016, mais do que dobrou seu investimento em expansão neste ano.
A transação mais recente nesse segmento é a aquisição de 60% da Med Imagem, do Piauí, pelos fundos Patria e Blackstone, segundo fontes. O Patria tem ampla experiência no setor de saúde - foi responsável pela expansão do grupo de laboratórios Dasa, é o principal acionista da rede Alliar e da distribuidora de medicamentos Elfa.
Aos investidores interessa ter uma operadora de planos de saúde verticalizada com presença nacional pela possibilidade de maior controle das despesas médicas. "Do custo médico de uma operadora, 50% é gasto hospitalar. Se houver, por exemplo, uma economia de 10%, é possível aumentar a margem em cinco pontos percentuais", enumerou Renato Tilkian Molinari, sócio da consultoria americana especializada em saúde MTS Health Partners
O custo dos convênios que possuem rede própria costuma ser menor quando comparado aos de concorrentes como as seguradoras de saúde, cuja legislação impede que tenham ativos como hospitais. O Ebitda médio (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das operadoras de planos de saúde cresceu 11%, enquanto das seguradoras aumentou 2,7% no ano passado, segundo a Abramge.
Do patrimônio total de R$ 12,3 bilhões que as operadoras possuem em rede própria, cerca de R$ 5,6 bilhões estão concentrados nas mãos de 40 grupos. As empresas com maior volume de ativos são Amil, Transmontano, NotreDame Intermédica, Unimed-BH e Prevent Sênior. "Esse é o valor que está contabilizado nos balanços, mas se consideramos o valor de mercado os números são ainda mais expressivos ", disse Novais.
O patrimônio mais valioso das operadoras verticalizadas são os hospitais - ativo que interessa tanto o investidor que almeja um convênio médico quanto aqueles que estão montando redes de hospitais "independentes", ou seja, aqueles que atendem todas as operadoras de planos de saúde e ainda têm uma melhor credibilidade entre os usuários e a comunidade médica. "Dificilmente um hospital verticalizado, aqueles em que 80% da receita vêm da operadora, vai conseguir se transformar em um hospital de mercado. Isso leva tempo", disse Roberto Schahin, sócio da MTS Health Partners. Não à toa, a Amil criou um braço de negócio independente de hospitais que atende as demais operadoras como, por exemplo, o Samaritano, de São Paulo.
O apetite dos investidores aumentou após janeiro de 2015, quando foi aprovada a legislação que permite capital estrangeiro em hospitais nacionais. Mesmo com a atual crise, o interesse pelo setor não arrefeceu. "Os investidores com experiência no setor de saude não desistem porque sabem que este é um mercado de médio e longo prazos. Ao contrário, para muitos a desvalorização do câmbio é um atrativo para aumentarem a posição no Brasil", destacou Schahin.
Diante da forte demanda e escassez de redes hospitalares nacionais já prontas para aquisição, vários fundos estão montando do zero uma plataforma de hospitais. Entre eles estão a gestora Bozano - que trabalha em parceria com o empresário Elie Horn, fundador da Cyrela -, e o conglomerado chinês Fosun que negocia a compra do Hospital da Bahia e um aporte de R$ 3 bilhões para montar uma rede.
Eles chegam para concorrer com a Rede D'Or que é dona de 34 hospitais e acaba de fechar um empréstimo de US$ 210 milhões com a International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, que será usado para ampliar em 72% o número de leitos nos próximos cinco anos. A Rede D'Or tem como acionistas o fundo soberano de Cingapura (GIC) e o private equity americano Carlyle que podem injetar, se necessário, mais recursos para novas aquisições.