Criada há quatro anos pelo médico italiano Marco Collovati, a OrangeLife nasceu a partir de duas experiências pessoais de seu idealizador. A primeira foi no período em que viveu na comunidade do morro Pavão Pavãozinho, no Rio de Janeiro, quando se deparou com realidades social e sanitária bem distintas da vida que levava em Florença, na Itália. A segunda foi ao trabalhar como assessor internacional de desenvolvimento econômico da Fiocruz e constatar que os processos de transferência de tecnologia por empresas transnacionais, na verdade, não geram inovação, mas apenas transferências de técnicas de produção.
Assim, a OrangeLife surgiu com a missão de auxiliar na erradicação de doenças negligenciadas, esquecidas pelos governos e pelos grandes laboratórios farmacêuticos. Trata-se de uma empresa de biotecnologia que produz testes para o diagnóstico rápido de dengue, hanseníase, leishmaniose e toxoplasmose, todos já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. Além desses testes, 70% da produção do exame para diagnóstico da tuberculose, que reconhece o bacilo da doença na tosse do paciente infectado, estão prontos. A expectativa é de que sejam finalizados para comercialização no segundo semestre.
Os testes utilizam tecnologia de ponta e são realizados por meio de uma gota de sangue, que é inserida em uma palheta. Em 10 minutos, sai o resultado, como num teste de gravidez de farmácia: duas listras para positivo, uma para negativo. Para atingir o maior número de pessoas no mundo, a OrangeLife fornece o exame por um preço variando entre R$ 4 e R$ 10.
"Desenvolvemos um teste de hanseníase que foi notícia no mundo inteiro. Somos um dos maiores fornecedores de testes para a dengue. Estamos exportando para Angola e fechando um acordo com o Irã e o Peru", diz Colovatti. Os testes da dengue incluem o NS1, que detecta a doença nas primeiras 24 horas, e os IgG e IgM, que conseguem identificar a dengue com três a quatro dias de infecção, ou ainda o combo, que combina os dois. A empresa conta com quatro patentes e tem ainda parcerias tecnológicas como a mantida com o Instituto Idre (Infectious Disease Research Institute), de Seattle, com o qual desenvolveu antídotos e anticorpos monoclonais, substâncias que são empregadas nos testes.
Outra inovação é o smart reader, um aplicativo para smartphone que auxilia no diagnóstico dessas doenças. Além de ler o resultado mostrado pela palheta, ele conta com um questionário que ajuda o médico ao pontuar os principais sintomas inerentes àquele mal - informações que podem ser transmitidas para centros de saúde a fim de monitorar o que está acontecendo na região e detectar a ocorrência de epidemia.
Atualmente, a OrangeLife fabrica 8 mil testes por dia, e a expectativa é de que, até julho, chegue a 1 milhão de unidades. O faturamento em 2012 foi de R$ 1,5 milhão e deve atingir R$ 5 milhões este ano. O salto se justifica, pois os registros dos testes foram obtidos apenas no segundo semestre do ano passado e agora os produtos passarão a ser comercializados em larga escala.
Collovati não recorreu a financiamentos públicos nem quer disputar a atenção dos fundos de investimento "que visam apenas ao lucro". "Possivelmente, aconselhariam que a empresa usasse sua expertise em áreas mais lucrativas", ele diz. Idealista, Collovati espera que a OrangeLife tenha de fechar as portas num prazo de dez anos por absoluta falta de mercado. "A minha meta é que a empresa esteja quebrada porque nosso objetivo é eliminar as doenças negligenciadas", justifica.