A economia criativa segue ganhando mercado no país. Em 2015, segundo a mais recente edição do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o setor representou 2,6% do PIB nacional, o equivalente a R$ 155,6 bilhões, com um crescimento real acumulado de quase 10% em dez anos. Para especialistas, o segmento pode ganhar escala com entrada de novos investidores, participação de grandes empresas e do fomento de órgãos públicos.
O estudo divulgado este ano aponta ainda para uma maior geração de postos de trabalho, com foco nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Das 239 mil empresas criativas no país, identificadas no período de 2013 a 2015, 99 mil, ou 41,3%, estão em São Paulo e 21 mil negócios (8,8%) funcionam em território fluminense.
O levantamento da Firjan considera a indústria criativa em 13 segmentos, divididos em quatro áreas: consumo (design, arquitetura, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual), além de tecnologia (pesquisa e desenvolvimento, biotecnologia e tecnologia da informação) e cultura (patrimônio, artes, música e expressões culturais).
"A área criativa se mostrou menos impactada ante o cenário econômico adverso do período 2013-2015, quando comparada à economia nacional", analisa Gabriel Pinto, gerente de indústria criativa do Sistema Firjan, que realiza pesquisas sobre o segmento desde 2008. "Houve mudanças importantes entre os profissionais do setor, com uma maior especialização, observada principalmente no design, moda e publicidade."
Em 2015, a indústria criativa era composta por 851,2 mil profissionais formais. Na comparação com 2013, o volume cresceu residualmente, ante a variação negativa (-1,8%) do total do mercado de trabalho, que fechou quase 900 mil postos no período.
A participação desses profissionais no mercado passou de 1,7% em 2013, para 1,8% em 2015. "A tendência é que os 'criativos' se misturem cada vez mais com outros setores econômicos", diz Pinto. "Companhias que, há alguns anos seriam chamadas apenas de chão de fábrica, hoje se apresentam como indústrias de design."
Na fábrica de móveis gaúcha Saccaro, a produção de peças com design autoral foi implementada há mais de 30 anos. A marca acaba de lançar uma poltrona de metal, madeira e couro, criada no mês passado pelo designer Bruno Faucz. "O design é uma ferramenta que pode dar resultados não só de vendas, mas na criação de uma identidade para os negócios", explica Faucz, que mantém um escritório na área desde 2013.
Antes de empreender, ele trabalhou sete anos como funcionário de uma indústria, se dividindo entre a criação, engenharia de produção e pesquisas de mercado. Hoje, além da Saccaro, desenha para outros fabricantes, como Tissot, Salvatore e Moora Mobília Brasileira. "A expectativa para 2017 é crescer, no volume de contratos, entre 20% e 25%, ante 2016", diz. "Já estou entregando projetos que serão lançados no terceiro bimestre."
Caio Bianchi, professor da pós-graduação de modelos de negócios da indústria criativa da ESPM, lembra que o setor ganha tração porque o comportamento do consumidor também está mudando. "Produtos massificados e padronizados cedem espaço a itens personalizados, com identidade própria", afirma. Para o empreendedor do ramo, qualquer que seja o nicho de atuação, é importante entregar uma experiência inesquecível para o usuário, diz.
É com essa preocupação que Rafael Bastos comanda a Dumativa Estúdio de Criação, de jogos digitais. Fundada em 2014, lançou dois games que conquistaram mais de 20 mil usuários e, agora, se prepara para iniciar as exportações. Em 2016, a empresa carioca faturou R$ 600 mil e a estimativa para 2017 é alcançar cerca de R$ 1 milhão em receitas.
Prova disso é que os lançamentos da dona do jogo "A Lenda do Herói" entraram na lista dos mais vendidos da Steam, considerada uma das maiores lojas de games digitais do mundo. "Para ter uma produção mais rápida, estamos criando uma nova base de operação, com um estúdio musical e de dublagem", afirma Bastos. O empresário também tem projetos para levar o conteúdo produzido para o cinema e quadrinhos. "A economia criativa precisa atrair o capital de risco. A maior parte dos investimentos vem dos próprios empreendedores."
Para Jorge Audy, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), a indústria criativa também pode ganhar musculatura com aportes de grandes corporações. Este ano, a Anprotec abriu inscrições para selecionar incubadoras de empresas para um programa de promoção da economia criativa, em cooperação com a Samsung e o Centro de Economia Criativa e Inovação Daegu (CCEI), da Coreia do Sul. A iniciativa existe desde 2015 e a Samsung pretende investir US$ 5 milhões no projeto, em cinco anos.
Ricardo Rozzino, sócio da produtora de filmes paulista TV PinGuim, lembra que os empreendimentos também podem ganhar financiamentos diferenciados de agentes públicos. "O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) criou linhas de longo prazo para empresas de pequeno e médio porte do setor", diz. O programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult) financia projetos de investimentos e planos de negócios em cadeias produtivas como as do audiovisual, música, artes e games. Somente no audiovisual, os desembolsos somam R$ 722 milhões, entre 2007 e 2015. Foram 432 filmes apoiados com recursos de R$ 200 milhões, via editais.
Na TV PinGuim, que produz séries de animação como "Peixonauta" e "O Show da Luna", a receita para fermentar negócios mistura vendas locais, internacionais e o licenciamento de produtos. "Consideramos o mercado externo tão importante quanto o interno", diz Rozzino, que investe em contratos globais desde 2004.
Boa parte do conteúdo da produtora já foi vendida nos principais países das Américas, Europa, África, Ásia e Oceania. Entre os clientes no Brasil, estão canais como o Discovery Kids, SBT e TV Cultura.
Com a estratégia, o faturamento da empresa conseguiu dobrar a cada ano, nos últimos três anos, e o número de funcionários aumentou 20%, entre 2014 e 2017. A expectativa até dezembro é que o volume de negócios cresça entre 50% e 100%, diz o empresário, sem revelar números. "Teremos uma ampliação da receita com royalties sobre licenciamentos no Brasil e no exterior."
A marca tem 38 licenças de produtos e segue firme no desdobramento das atrações que criou. A série "Peixonauta" ganhará um filme em 3D, feito exclusivamente para os cinemas, com estreia prevista para o final do ano.