A Votorantim Metais, uma das cinco maiores produtoras de zinco do mundo, fez seu primeiro investimento na área de startups. Criou um programa de apoio a empreendedores, batizado de Mining Lab, com o objetivo de incentivar inovações para a indústria da mineração e metalurgia. O primeiro ciclo da ação deve durar um ano, com recursos de R$ 1 milhão, e será focado em soluções para os setores de energias renováveis e nanotecnologia. O grupo informou ao Valor que tem a intenção de ampliar o programa e estuda novas áreas de interesse.
No semestre passado, a empresa abriu inscrições para startups interessadas na iniciativa e recebeu 115 projetos. Selecionou 18 para uma fase de imersão de três semanas, com treinamentos sobre gestão financeira e marketing. Em fevereiro, escolheu oito companhias para testes industriais.
"Vamos analisar investimentos para o desenvolvimento das soluções, além de comprar ou distribuir os produtos e serviços das startups", diz Rodrigo Gomes, gerente de inovação e tecnologia da Votorantim Metais e responsável pelo Mining Lab. "Não queremos ser sócios das empresas, mas aumentar a nossa competitividade com contratos de parcerias a longo prazo".
A ação conta com o apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e da aceleradora de startups Techmall. As cinco operações industriais da Votorantim Metais no Brasil estão em Minas. Entre os oito finalistas, além de mineiros, há startups de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Do conjunto, três empreendimentos já são apoiados pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para chegar às vencedoras, a mineradora utilizou critérios como a existência de um protótipo a ser testado. No setor de nanotecnologia, procurou empreendimentos com aplicações para a recuperação de afluentes ou de partículas durante processos metalúrgicos. Na área de energia, o foco foi para tecnologias que substituam matrizes energéticas tradicionais da mineração, como combustíveis fósseis e eletricidade, por alternativas "verdes", como biomassa e energia solar.
Nessa linha, uma das escolhidas é a Bchem Solutions, que produz biodiesel a partir de óleo de fritura. A empresa desenvolveu usinas móveis, montadas em caminhões, que serão utilizadas para abastecer equipamentos de uma mina de zinco da Votorantim em Vazante (MG). As unidades têm capacidade para produzir 30 mil litros de combustível ao mês.
Outra empresa do grupo é a nChemi, uma spin-off do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec) da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), em São Paulo, considerado um centro de excelência na pesquisa de nanomateriais. Criada há dois anos, a empresa se especializou no desenvolvimento de nanopartículas em escala industrial, sob encomenda, para grandes empresas. Com parceiros como a Dow Química, com quem desenvolve novos polímeros, vai criar para a Votorantim películas para a captação de energia solar. Também desenvolveu uma técnica de retirada de íons metálicos de líquidos com o auxílio de ímãs, sem precisar acrescentar reagentes químicos.
Segundo o sócio-fundador Bruno Lima, a expectativa de faturamento para 2018 é de R$ 360 mil. A companhia já recebeu aportes de R$ 1,3 milhão da Fapesp e está aberta a investidores. A meta é captar até R$ 20 milhões para a construção de uma fábrica, compra de equipamentos e contratação de pesquisadores.
Uma das maiores dificuldades de empreender em novos nichos, afirma, é a falta de hábito dos investidores de apoiar projetos de longo prazo. No caso da nChemi, o período estimado para a entrega de uma solução customizada, a partir do primeiro contato com o cliente, é de um a dois anos. "Por isso, a maioria investe em negócios de tecnologia da informação, de retorno mais rápido". A companhia foi selecionada para o programa Leaders in Innovation Fellowships (LIF), da Royal Academy of Engineering, da Inglaterra, para capacitação de empreendedores apoiados pela Fapesp.