O IRB Brasil Resseguros (IRB) e a NotreDame Intermédica protocolaram ontem seus pedidos de oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), elevando para três o número de empresas que decidiram seguir com suas operações apesar da crise política e das turbulências nos mercados. Na terça-feira da semana passada, o Carrefour Brasil tinha dado entrada ao pedido na CVM.
A oferta do IRB era uma das mais aguardadas nas últimas semanas, após várias tentativas dos acionistas, entre eles o governo federal e os maiores bancos do país, terem sido frustradas no passado devido a condições de mercado consideradas desfavoráveis.
O IRB pretende fazer uma oferta secundária de ações, em que os atuais sócios vendem as suas participações. No dia 19, os acionistas aprovaram a abertura de capital em assembleia. Pela composição atual, a União tem 27,44% da companhia e uma "golden share". O Banco do Brasil e o Bradesco têm 20,43% cada um, o Itaú 14,94% e os fundos de pensão, pelo FIP Caixa Barcelona, possuem 9,85%.
Segundo um executivo que acompanha a oferta do IRB, ainda é necessário mais um arquivamento na CVM, previsto para o começo de julho, que vai definir a operação. A ideia dos acionistas continua sendo deixar tudo pronto para aproveitar alguma janela de oportunidade antes do período de férias no hemisfério norte.
Em junho de 2016, a expectativa era que a oferta movimentasse cerca de R$ 5 bilhões, com a venda de até 45% do capital da empresa, então avaliada em R$ 11 bilhões. Desse total, o governo ficaria com cerca de R$ 1,9 bilhão, referente à fatia da União. O processo de venda das ações no mercado segue comandado pelo Banco do Brasil, Bradesco, Itaú BBA e J.P. Morgan.
No caso da operadora de planos de saúde NotreDame Intermédica, controlada pela Bain Capital, o oferta também será totalmente secundária. A Bain Capital, que adquiriu a companhia há três anos, vem trabalhando paralelamente com a possibilidade de fazer o IPO ou de vender pelo menos uma fatia da empresa para um investidor estratégico internacional, segundo reportagem publicada em março pelo Valor. Na ocasião, a expectativa era que a oferta de ações da NotreDame movimentasse cerca de R$ 1,5 bilhão. O Itaú BBA é o coordenador líder do processo de IPO.
Na fila para abrir o capital, estão ainda companhias como Tivit, de software; Hapvida, de planos de saúde; além de PagSeguro, de meios de pagamentos. No grupo de ofertas subsequentes, o destaque fica para a varejista Magazine Luiza, que tem a intenção de levantar cerca de R$ 1 bilhão.
Segundo analistas, o mercado de oferta de ações segue aberto, mas não para qualquer empresa nem para qualquer operação. No caso de companhias que já têm papéis negociados, muito vai depender da disposição dos acionistas de aceitar o preço que o mercado está disposto a pagar neste momento.
O primeiro teste importante veio de BR Malls, já listada em bolsa, que conseguiu levantar R$ 1,73 bilhão na segunda-feira passada. As ações da BR Malls foram vendidas a R$ 11, com desconto de cerca de 1% em relação ao fechamento de R$ 11,12 no dia da operação. Por outro lado, a Ser Educacional preferiu cancelar sua oferta subsequente na quarta-feira da semana passada por divergência de preço.
Para executivos de bancos de investimento, nomes com fundamentos sólidos e boas perspectivas de crescimento têm chances de estrear na bolsa assim que diminuir as turbulências nos mercados. Passado o estresse inicial com as implicações do presidente Michel Temer no caso JBS, a avaliação nos bancos é que ainda há investidor disposto a bancar boas histórias, especialmente diante da velocidade com que os mercados caminham para a normalização.
Na avaliação desses executivos, a tendência é que companhias menos conhecidas e que ainda estavam em estágios preliminares do processo - caso da empresa de energias renováveis Ômega e da fabricante de medicamentos Biotoscana - tenham de aguardar mais para fazer seus IPOs.