Cabral vira réu pela 8ªvez em ação que investiga desvios de R$ 300 milhões em material hospitalar.
Ao apresentarem denúncia contra o ex-governador Sérgio Cabral pelo esquema de desvios do dinheiro da saúde no Rio, que o tornou réu pela oitava vez em menos de um ano, os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato no estado afirmaram que o rombo descoberto até agora representa apenas “a ponta do iceberg” da corrupção no setor. Além de Cabral, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes e outras cinco pessoas foram denunciadas ontem.
De acordo com a investigação, Cabral cobrava 5% de propina sobre todos os contratos firmados pelo estado – sistema que se ramificou na Secretaria de Saúde, segundo o MPF. A organização criminosa era chefiada pelo ex-governador e operada por Côrtes e pelo subsecretário da pasta, César Romero, de acordo com o MPF. Os dois direcionavam licitações de serviços e equipamentos médicos ao cartel organizado pelos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita, sócios nas empresas Oscar Iskin Ltda e Sheriff Serviços e Participações, que negam irregularidades.
César Romero, Carlos Miranda e Carlos Bezerra, apontados como operadores de Cabral, e Miguel Iskin e Gustavo Estellita também vão responder criminalmente pelas irregularidades cometidas na Secretaria de Saúde, entre 2007 e 2014. Eles são acusados de desviar até R$ 300 milhões em contratos fraudados da Secretaria de Saúde e do Instituto Nacional de Traumatologia (Into).
– Essa denúncia engloba 35 repasses mensais de propinas pelos empresários, levantadas através da contabilidade paralela na residência do Carlos Bezerra. Esses aportes eram de R$ 400 a R$ 500 mil por mês, somando em torno de R$ 16 milhões. A gente sabe que essa quantia é maior. Essa denúncia de hoje é só a ponta do iceberg da corrupção na saúde no Estado do Rio – disse o procurador regional da República José Augusto Vagos.
A força-tarefa da Lava-Jato no Rio aposta na cooperação internacional com os Estados Unidos, as Ilhas Virgens Britânicas e as Bahamas para rastrear o dinheiro de propina recebido pelo empresário Miguel Iskin no exterior e depois distribuído para outros integrantes da organização criminosa.
– As investigações estão caminhando para valores muito maiores. Só de importações, a Secretaria de Saúde fechou contratos de US$ 277 milhões nesse período. Está sendo descortinado que o Miguel Iskin ganhava de 30% a 40% desses valores no exterior e depois fazia a distribuição desse sobrepreço, da propina, tanto para o Sérgio Cabral quanto para outras pessoas que ainda não estão denunciadas, mas que fatalmente vão cair nas investigações, tanto da parte administrativa do Into até agentes públicos em Brasília, no Ministério da Saúde – disse a procuradora da República Marisa Ferrari.
Segundo Vagos, o desvio de dinheiro na secretaria de Saúde foi instituído quando Cabral tomou posse como governador, em 2007. Ainda de acordo com o procurador, Sérgio Côrtes teria sido nomeado secretário já com o objetivo de transferir para lá o esquema de corrupção que havia no Into, do qual era diretor.
Em depoimento à Justiça Federal, Sérgio Cabral reconheceu somente a movimentação de recursos de caixa dois de campanha. Cabral e Cortês afirmam que só vão se manifestar nos autos do processo.