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Os hábitos não saudáveis podem implicar em perdas para a economia do país de até US$ 49 bilhões entre 2005-2015
A elevação dos gastos com saúde representa um desafio para o governo e para as famílias, pois ambos devem alocar recursos finitos às suas demandas virtualmente ilimitadas. Esses gastos crescem em função da incorporação de novas tecnologias, do envelhecimento da população, do aumento da renda e da maior exposição para doenças crônicas. Todos esses fatores estão direta ou indiretamente relacionados aos hábitos de vida, que são escolhas individuais e, portanto, passíveis de modificação. Quem opta por hábitos não saudáveis sofre as consequências físicas em seu próprio corpo, mas onera financeiramente toda a sociedade.
Se nada for feito, o desafio pode tornar-se ainda maior devido ao envelhecimento. Conforme o Gráfico 1, é esperado para 2040 que 22,7% da população seja hipertensa; 6,7% terá alguma doença do coração; 6,1% será diabética; e o câncer acometerá 1,0% da população.
Algumas políticas de saúde pública têm sido exitosas. Na França, nas cidades de Fleurbaix eLaventie, para a redução da obesidade infantil as crianças são informadas sobre o valor nutricional das refeições ofertadas em escolas. Além disso, os médicos generalistas são incentivados a identificar crianças obesas e encaminhá-las para tratamentos nutricionais. Na cidade de Colac, na Austrália, os nutricionistas estão dentro das escolas e os professores são treinados para informar os alunos sobre hábitos de alimentação. Em São Paulo, foi proibida por lei a venda de alimentos com alto teor calórico nas escolas. Em algumas cidades brasileiras comemora-se o dia da atividade física. Todas são atividades que promovem mudanças nos hábitos de vida e, como tal, cabe ao setor público incentivá-las.
Os hábitos de vida são passíveis de intervenção
Os fatores de risco para doenças crônicas podem ser divididos entre os passíveis ou não de modificação pelo indivíduo. Os hábitos alimentares, a prática de atividade física e o tabagismo são escolhas de cada um, enquanto o envelhecimento e as condições de saúde herdadas são imutáveis (Figura 1). Por exemplo, a alimentação inadequada e a falta de atividade física podem provocar obesidade e hipertensão e ainda podem desencadear a hiperglicemia (taxa de açúcar elevada) e aumento dos níveis de colesterol (gordura) no sangue.
Em 2004, 1,3 milhão de pessoas morreram de câncer de pulmão no mundo e, em 71% dos casos, a causa foi o tabagismo. No Brasil, é preocupante constatar que, entre 2003 e 2008, aumentaram as prevalências de cânceres, diabetes, hipertensão e de doenças do coração. Por trás destes números estão a piora na qualidade da alimentação e falta de atividades físicas.
A pesquisa de orçamento familiar do IBGE mostra que, aos poucos, passamos a consumir menos cereais e leguminosas e mais gorduras e açúcar industrializado. As quedas no consumo se pronunciam principalmente no arroz, feijão e raízes e tubérculos, frutas e sucos naturais, enquanto cresce o consumo de cerveja, refrigerantes, proteínas animal e refeições prontas.
No Brasil, a inatividade física está mais presente na população do que o tabagismo: 17,4% dos entrevistados não pratica nenhuma atividade física e 16,1% são fumantes (Vigitel, Ministério da Saúde, 2008).
Os Hábitos não saudáveis e as perdas para o País
O aumento dos gastos com saúde tem potencial de alavancar o setor de saúde e, consequentemente, gerar elevações no PIB. Entretanto, quando o aumento dos gastos é vertiginoso e exige desvios de poupança e investimentos para custeá-los, a consequência é redução na taxa de crescimento da economia. Além deste, o aumento da prevalência de doenças tende a reduzir a quantidade e produtividade da mão-de-obra disponível e, por conseguinte, a tendência é, novamente, diminuição da taxa de crescimento do PIB.
A OMS estimou o montante de perda do PIB de alguns países devido às doenças do coração, derrame e diabetes (Tabela 1). Os efeitos sobre a economia brasileira são expressivos: em 2015, o PIB poderá ser reduzido em US$ 9 bi devido às doenças. Projeta-se que no acumulado entre 2005 e 2015 as perdas chegarão a US$ 49 bi.
Considerações
O tratamento das doenças que se originam de hábitos inadequados onera todos os participantes do sistema de saúde. Se o doente não é beneficiário de plano de saúde, os custos recaem sobre toda a sociedade; se for beneficiário, os custos serão repartidos entre todos os participantes do mútuo.
É importante estabelecer os incentivos certos, pois assim será possível mudar hábitos e promover saúde. A conscientização deve atingir a todos os brasileiros e o setor público deve estar preparado para desenvolver ações nesta área. As atitudes são diversas e poderiam abranger: a regulação da indústria de alimentos, o planejamento urbano que priorize as atividades físicas, as mídias educacionais e os incentivos para os programas de atividade física em empresas e escolas. Algumas dessas ações já estão sendo desenvolvidas pelo poder público e por empresas e poderiam ser expandidas. Outras devem ser debatidas e colocadas em prática.
Documentos de Suporte: 1 - Hábitos de vida no Brasil – Uma análise dos hábitos de alimentação, sedentarismo e tabagismo, em: http://www.iess.org.br/html/ TDIESS00412011habitos.pdf. 2 - Preventing CHRONIC DISEASES a vital investment (OMS), em: http:// www.who.int/chp/chronic_disease_report/full_report.pdf |
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