Não sou fã da ANS, nem do Bradesco – é só olhar meus posts para ver quantas vezes bati na ANS e nas seguradoras.
Mas é um absurdo o que está em pauta recentemente: a questão da quebra unilateral dos contratos coletivos. É impressionante como as pessoas manipulam a mídia de forma irresponsável quando têm interesse.
Sou fã de uma rádio de São Paulo que escuto desde a minha infância, e fiquei pasmo ao ouvir tanta bobagem sobre o assunto nos últimos dias, por parte de pessoas que aprendi a admirar, mas que não estão se dando conta do grande erro que estão cometendo sobre o tema.
Resumo do cenário: “a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal pretende discutir o descaso dos planos de saúde que rompem contratos da noite para o dia deixando milhares de beneficiários sem atendimento médico, cobrar da ANS que faça fiscalização ….”.
De que planeta estas pessoas vieram?
Ainda apareceu gente dizendo-se especialista em direito do consumidor, e que o código de defesa do consumidor proíbe que o segurado do plano de saúde fique sem atendimento médico … de onde saiu isso?
Antes de tocar no assunto para defender o Bradesco e a ANS neste caso, me permita fazer uma comparação bem simples:
Se uma empresa quer, ou é obrigada, a fornecer alimentação aos seus funcionários, e o fornecedor da empresa não quiser mais fornecer para a empresa, a empresa pode obrigar o fornecedor a fazer isso?
A questão é bem simples e provavelmente cada 1 milhão de pessoas que ler isso vai dizer que a responsabilidade da alimentação é da empresa e não do fornecedor – mais lógico que isso não existe.
É como se uma empresa comprasse alimentos da Nestlé para dar aos seus funcionários, a Nestlé não quisesse mais fornecer para a empresa, e a empresa culpar a Nestlé porque seus funcionários ficaram sem alimentos … tem alguma lógica nisso?
Vamos voltar para a saúde: se a empresa quer, ou é obrigada, a fornecer plano de saúde para seus funcionários e o fornecedor (no exemplo, o Bradesco) não quiser mais fornecer para a empresa, o Bradesco fica obrigado a continuar fornecendo?
É claro que não. A empresa que contratou o Bradesco que deve contratar outro fornecedor – mais claro que isso é impossível!
Então vem um político dizendo que o beneficiário não pode interromper seu tratamento, portanto o Bradesco deve continuar com o contrato.
Quer maior absurdo que isso: conhece alguém que é tratado pelo Bradesco?
É claro que não. O beneficiário é tratado pelo médico, pelo hospital, pela clínica – a empresa que contratou o Bradesco para pagar estes serviços de saúde que contrate outro fornecedor que pague o mesmo serviço … só isso!
E aí vem um político bater na ANS para fiscalizar.
Terceiro absurdo … é uma sequência de absurdos … “absurdos no atacado”.
Quando a ANS regulamentou os planos coletivos e permitiu que os contratos pudessem ser celebrados e cancelados unilateralmente nenhum político apareceu para bater na ANS. Ela errou, mas errou ao fazer a regulamentação, que foi criticada por centenas de pessoas (inclusive eu na época) mas como não interessava nenhum político fez nada. Agora vem dizer que ela tem que fazer o quê?
Se a regulamentação permite, ela tem que ficar quietinha no canto dela e não se meter no assunto – ela mesma definiu a regra!
Estes absurdos acontecem na saúde e parece que nunca vão acabar, porque diariamente tem alguém fazendo alguma coisa para piorar a saúde, e quando surge algo que causa ruído vem um monte de pessoas que não conhecem o sistema de saúde, e os políticos de carteirinha pensando na próxima eleição dizer bobagem.
Este evento, que prejudica milhares de pessoas não é nada perto de tanta coisa errada que prejudica muito mais pessoas, mas nos outros casos como não há interesse eleitoral todos se omitem. Vamos lembrar:
Vou parar por aqui – só estes 3 entre centenas de coisas erradas no sistema de financiamento da saúde, prejudicam 100 vezes mais pessoas que o caso do cancelamento unilateral, que como defendi acima, não é problema do Bradesco ou da ANS, mas da empresa que ao invés de pagar um plano de saúde para seu funcionário, que é caro, contrata um plano coletivo que é mais barato, sabendo que é mais barato porque pode ser cancelado a qualquer momento.
Qual a minha indignação?
Ninguém dá chance para as pessoas que conhecem o sistema de saúde e o sistema de financiamento da saúde possam denunciar os problemas e discutir soluções, porque não interessa aos controladores do sistema.
Mas quando um evento prejudica um grupo específico ganha dimensão, acusa indevidamente uma operadora que só está fazendo o que a lei permite, e critica a reguladora porque ela não está fazendo o que não pode fazer!
Porque esta mídia leiga e os políticos não estão procurando saber o que vai acontecer quando forem regulamentados os planos de saúde populares?
Sabe quanta gente vai sofrer por causa deles?
Pergunte para quem é do ramo e durma se for capaz.
Me poupe!