A arte de antever o mercado
Valor Econômico
21/05/2013

A arte de antever o mercado

Por Sérgio Tauhata | De São Paulo

O sucesso e, em última análise, a capacidade de antever movimentos do mercado elevaram alguns investidores à categoria de lendas. De Benjamin Graham a Warren Buffett - este último, não por acaso, apelidado de "Oráculo de Omaha" - a lista inclui nomes que passaram à história como visionários. Mas de onde vem essa capacidade de enxergar mais longe? Teriam eles "bolas de cristal" de verdade - ferramentas, princípios e técnicas que lhes possibilitariam estar sempre à frente dos demais?

Embora o amanhã faça parte do horizonte dos investimentos em geral, qualquer corrente de análise de mercado, mesmo as mais exóticas, entende que prever o futuro é impossível. Mas "existem situações em que alguns mercados têm maior ou menor inércia que outros", afirma o coordenador do mestrado profissional em finanças quantitativas da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Afonso de Campos Pinto. Ou seja, existem tendências e movimentos eventualmente detectáveis com maior probabilidade de ocorrer.

 

 

Variáveis macroeconômicas, por exemplo, têm impacto direto em alguns segmentos. Quando o Banco Central iniciou um afrouxamento monetário em agosto de 2011, o mercado identificou rapidamente a vantagem para as NTN-Bs, títulos públicos que rendem uma taxa prefixada mais a inflação medida pelo IPCA. Só não era possível prever o tamanho e a velocidade do movimento. No fim, os fundos que estavam recheados com estes papéis tiveram ganho de quase 22% no ano passado.

Na maioria das situações, entretanto, o impacto das múltiplas variáveis e suas consequências não fica tão claro. É para suprir essa demanda que entram em ação os diferentes tipos de análises. As mais conhecidas são a fundamentalista, focada, como o nome diz, nos fundamentos das companhias e em cenários macroeconômicos; a técnica, que usa gráficos para identificar padrões de mercado; e a quantitativa, na qual modelos matemáticos e algoritmos avaliam o rumo dos negócios.

No entanto, quando o assunto é vislumbrar o futuro, investidores apelam até mesmo para abordagens esotéricas. Uma corretora de Hong Kong, a CLSA publica todo ano o Feng Shui Index, com dicas dos momentos mais favoráveis para se aplicar os recursos, de acordo com os preceitos da filosofia de criação de ambientes - e carteiras - harmoniosos. A astrologia também tem sido usada para embasar decisões financeiras.

Em que pese acreditar ou não, a questão é como saber se essas "bolas de cristal" funcionam. Um termômetro pode ser os resultados. A prática mostra que sim. Mas nem sempre.

A análise fundamentalista é uma das abordagens mais utilizadas pelo mercado. De corretoras a bancos, instituições que mantêm ou indicam carteiras de ações, recorrem às interpretações de balanços, informações das empresas e avaliações macroeconômicas para embasar suas decisões. "A análise fundamentalista é uma forma de projetar e administrar riscos", diz Campos Pinto, da FGV. O risco, no caso, é de o cenário projetado falhar. "As promessas das empresas balizam as análises. Então o mercado compra um 'management' que consiga executar as estratégias", afirma Rodrigo Alves, presidente da consultoria MZ Group.

Muitos fundos de ações usam a análise fundamentalista, com foco no "valuation", ou seja, no valor da companhia definido por informações financeiras e contábeis, que podem indicar se a ação está cara ou barata. Não raro, como no caso de Graham e Buffett, essa análise inclui também uma avaliação do valor intrínseco da empresa.

Alguns dos mais antigos fundos do mercado brasileiro, como o Dynamo Cougar, da gestora carioca homônima, ou o IP Participações, da Investidor Profissional, estão entre os que têm foco nos fundamentos e no valor intrínseco das companhias (além de outros aspectos analisados) para embasar investimentos em renda variável. No caso do Dynamo Cougar, a rentabilidade acumulada é de 5.285% brutos de janeiro de 1997 a 20 de maio de 2013. O IP Participações acumula ganhos de 4.405% de setembro de 1998 a abril de 2013.

Como a análise fundamentalista exige um grau de acompanhamento das empresas impraticável sem uma infraestrutura razoável, entre as pessoas físicas a análise técnica acabou se tornando popular. O apelo é irresistível: segundo seus defensores, os padrões gráficos refletem todas as variáveis do mercado. "Os gráficos revelam o comportamento do investidor, se está com medo ou confiante. E o estudo do passado permite identificar esses padrões", explica Leandro Ruschel, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer.

Embora popular, a análise técnica não é unanimidade. Muitos fundamentalistas questionam a eficiência do método e consideram a visão grafista apoiada em premissas sem comprovação. Para Dalton Vieira, analista técnico parceiro do site Investmania, "tem muita gente que usa o método, mas pouco o estudam o suficiente". Esse uso indiscriminado, diz, reforça uma fama negativa.

O termômetro prático, no entanto, sinaliza que pode funcionar. Um balanço da coluna Monitor Técnico, do Valor, dedicada à análise gráfica, mostra que as operações indicadas pelos analistas acumulam rentabilidade de 194% de fevereiro de 2012 a abril de 2013. Em relação à tendência de alta ou baixa, o grau de acerto chegou a 83% no período.

 

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