Hospitais não são feitos para serem lugares agradáveis. Considerando a ocorrência de adversidades nesses locais, dificilmente o seriam. Há um ramo da medicina, no entanto, que tem voltado a atenção para a importância do ambiente na cura de pacientes.
“Como um médico, me espanto diariamente pensando como hospitais poderiam ser melhor desenhados”, escreveu o americano Dhruv Khullar em um artigo publicado no final de fevereiro no jornal “The New York Times”.
Khullar é médico residente do Massachusetts General Hospital, de Boston, um dos melhores hospitais dos Estados Unidos, vinculado à Universidade Harvard. Em seu texto, ele escreveu impressões colhidas ao longo de plantões de até 30 horas de duração. “Não importa o quão difícil é para médicos descansarem [durante o plantão], é definitivamente pior para pacientes”, disse.
Hospitais estão entre os equipamentos mais custosos de serem construídos, lembra ele. A infraestrutura hospitalar envolve uma complexidade de tecnologias, regulações e códigos de segurança que não podem ser ignorados. Pense nos lixos especiais, elevadores que comportam macas e sistemas de comunicação entre pacientes, médicos e enfermeiros. Ainda assim, insiste Khullar, as evidências apontam para o fato de estarmos construindo hospitais da forma errada.
“No passado, o design de instalações de saúde era focado mais em prover suporte para a equipe médica do que ao paciente”, diz Scott Habjan, diretor-associado de uma empresa dedicada ao design de hospitais, ao site Fast Coexist. “Instalações construídas sem pensar no paciente podem ser particularmente estressantes e deprimentes para alguém que já se encontra em um estado vulnerável.”
Principais problemas apontados por Khullar
LEITOS MUITO PRÓXIMOS
Quartos privados reduzem o risco de contaminação hospitalar, fator responsável por 30% das doenças e mortes em unidades de tratamento intensivo, apontam estudos. Para além da possibilidade de contaminação, a separação por cortinas apresenta um desconforto considerável aos doentes: tiram a privacidade e levam perturbações de uma maca para outra. Um paciente que passar a noite tossindo, por exemplo, não apenas terá seu sono perturbado, como perturbará o do vizinho.
RISCO DE QUEDA
Pisos escorregadios, ambientes mal iluminados, macas, pias e privadas posicionadas de forma muito alta ou muito baixa são responsáveis por inúmeras quedas. Pacientes no geral já têm dificuldade de locomoção devido à fragilidade do corpo em tratamento. Quartos e corredores de hospitais deveriam facilitar esse deslocamento.
DISTÂNCIA ENTRE MÉDICOS, ENFERMEIROS E PACIENTES
O tempo que a equipe médica leva para chegar a um paciente é crucial, destaca Dhruv Khullar. Ele sugere que deveria haver estações descentralizadas de enfermeiros de forma a agilizar esse processo.
BARULHO
No geral, o ruído sonoro de hospital é muito superior ao recomendado, dificultando o sono e descanso de pacientes. Barreiras à prova de som, tampões de ouvido e análise de alarmes desnecessários são algumas das soluções sugeridas.
Hospitais exemplos
Existem, no mundo, instituições que servem de modelo ao ideal de hospital. No geral, são lugares que valorizam a natureza e o espaço. Janelas amplas, paisagens bonitas, espaços verdes e preocupação estética estão entre os fatores que já se mostraram influentes na recuperação de doentes, além de quartos privados, confortáveis e até mesmo luxuosos.
Pesquisas também mostram que o aumento dos investimentos na infraestrutura da instituição podem compensar, devido à redução de custos com infecções, quedas e perda de pacientes.
Um exemplo de bom design hospitalar é o Providence Sacred Heart Medical Center, de Washington nos EUA, construído com madeira, paredes de cores aconchegantes e muita luz natural. Além disso, tem um jardim no qual as famílias podem relaxar e que pode ser visto do interior, para crianças que não podem sair do hospital.
Também preocupado com a luz e ambiente natural, o Bridgepoint Active Healthcare, de Toronto, no Canadá, tem janelas panorâmicas em todos os quartos. As escadas, envoltas também em janelas de vidro, motivam famílias a preferirem os degraus em vez de pegar elevadores fechados.
Outro exemplo recorrente é o Veterans Administration Hospital, de Nova Orleans, nos EUA, completamente reconstruído após a passagem do furacão Katrina na cidade, em 2005. Além de ter sido projetado para resistir a possíveis novos desastres naturais, a construção foi feita após diálogos com os principais interessados: os veteranos de guerra.
A instituição atende a mais de 70 mil veteranos da região. Para saber a melhor forma de recebê-los, os arquitetos responsáveis pelo projeto conduziram uma série de entrevistas, realizaram workshops e passaram horas observando pacientes. Eles também foram até os bairros onde os veteranos vivem, para entender a cultura e costumes locais.
Entre os resultados, arquitetos e designer evitaram, na construção do hospital, utilizar tons que remetessem ao exército, como verde e cinza. Além disso, cômodos foram feitos de maneira a permitir que os pacientes possam ter uma vista do entorno — prática de vigilância mantida dos tempos de guerra. Os especialistas também se certificaram de que não haveria locais escuros e apertados.