Resultado de imagem para obesidade.Dados inéditos de um estudo feito pelo Ministério da Saúde e ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostram que a proporção de obesos entre usuários de planos de saúde subiu 36% em sete anos: de 12,5%, em 2008, para 17%, em 2015.
Se considerados todos os usuários que estão acima do peso ideal, esse índice já chega a 52,3% -um aumento de 12,5% no mesmo período.
Os números fazem parte da nova edição do Vigitel da Saúde Suplementar, estudo criado para analisar a presença de fatores de risco de doenças crônicas, como excesso de peso, hábitos alimentares, consumo de cigarro e nível de adesão a atividades físicas.
Foram ouvidas por telefone em todas as capitais 30.549 pessoas com planos de saúde (com peso e altura fornecidos por elas). As entrevistas foram de maio e dezembro de 2015 -com margem de erro de dois pontos percentuais.
O excesso de peso é uma tendência crescente também nos últimos anos entre a população geral -na qual esse índice é de 53,9%, segundo dados gerais de estudo ampliado do Vigitel divulgado em 2016 pelo ministério.
Em sete anos, a alta na taxa de excesso de peso entre os brasileiros foi de 20% -em 2008, ela era de 44,9%.
Não há dados separados apenas para usuários do SUS. Hoje, 47,5 milhões de brasileiros têm plano de saúde.
São consideradas acima do peso as pessoas cujo IMC (índice de massa corporal), que é calculado com base no peso e altura, é igual ou maior que 25 kg/m². Já a obesidade vale para aqueles cujo índice é igual ou maior a 30 kg/m².
Especialistas apontam maior consumo de alimentos processados, baixo estímulo em educação alimentar e sedentarismo como alguns fatores que levam ao aumento da obesidade no país.
“Temos uma população geneticamente predisposta e uma mudança no acesso à alimentação nos últimos anos. As pessoas estão tendo mais acesso a alimentos e muitos deles são processados e palatáveis demais, porque são ricos em açúcar e gordura. Com isso, tendem a comer mais em termos de paladar do que precisam para ter uma vida saudável”, afirma Maria Edna de Melo, presidente da Abeso (associação brasileira para estudos da obesidade).
IMPACTO NO SETOR
Para a diretora de normas e habilitação da ANS, Karla Coelho, os dados evidenciam a necessidade de aumentar o debate com as operadoras de planos de saúde sobre alternativas para estimular os usuários a adotarem padrões de vida mais saudáveis. Isso porque a obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas e cardiovasculares, por exemplo.
A boa notícia é que os usuários já começam a se mexer: questionados sobre atividades físicas, 43,4% dizem fazer mais de 150 minutos de exercícios por semana, um aumento de 16% desde 2008.
Há porém outros desafios. Ao todo, 16% dos usuários ainda afirmam estar completamente “inativos” -ou seja, não fizeram nenhum exercício físico moderado (nem mesmo caminhadas de 10 minutos para deslocamentos) nos últimos três meses.
Na alimentação, outros fatores de risco. Embora os dados apontem crescimento no número de usuários que consomem a quantidade recomendada de frutas e verduras, esse percentual ainda é baixo -32% dos usuários. Cerca de 24% comem doces mais de cinco dias na semana, e 27% admitem comer carne com excesso de gordura.
“Apesar do aumento do consumo de frutas e hortaliças, os brasileiros ainda comem muito mal”, diz Deborah Malta, professora da UFMG (federal de Minas).
“O plano de saúde ainda tem uma visão muito assistencial. Já há algumas práticas de promoção à saúde, mas elas ainda precisam ser mais incisivas”, afirma.
PREVENÇÃO
Ao mesmo tempo em que tem registrado forte avanço nos últimos anos, a oferta de programas de prevenção e promoção à saúde por operadoras de planos para tentar estimular uma vida saudável e deter o crescimento da obesidade ainda atinge poucos usuários desse modelo de assistência.
Hoje, há 1.481 programas ativos no país, ofertados por 379 das operadoras de planos de saúde -o equivalente a 34% do total. Em 2010, eram apenas 82 programas semelhantes.
Além do controle da obesidade, são iniciativas com foco no combate ao tabagismo, estímulo a exercícios físicos e mapeamento precoce de doenças.
Juntos, esses programas cobrem 1,7 milhão de usuários -a saúde suplementar, porém, tem 47,5 milhões.
“Os planos tem caminhado para isso, mas ainda é pouco”, diz a diretora de normas e habilitações da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Karla Coelho.
Segundo ela, em meio ao avanço em indicadores que apontam fatores de risco de doenças crônicas, a ANS lançou uma meta para tentar dobrar o alcance desses programas até o fim deste ano.
A ideia é que, a partir de iniciativas já consolidadas, sejam criadas diretrizes para estimular mais operadoras a ofertarem projetos semelhantes aos beneficiários.
Em troca, planos podem receber benefícios, como bônus em indicadores de qualidade.
“Não estamos preocupados só com a quantidade de beneficiários, mas de ter um programa que oferte resultado em saúde. Só ofertar uma palestra, sem acompanhamento, não é suficiente para resolver”, diz.
Após ver a balança atingir 109 kg, a dona de casa Monalisa Quirillo, 41, descobriu, pela internet, que havia um “clube” contra a obesidade ofertado pelo seu plano de saúde “”ela se refere ao projeto Clube Vida de Saúde, da Amil, ofertado em Duque de Caxias (RJ) e outras dez unidades do Rio e São Paulo.
Na época, Monalisa vivia com problemas de pressão e já sofria de problemas agravados pelo excesso de gordura, como pedra na vesícula.
Estimulada pelo grupo, formado por uma nutricionista, psicólogo e clínico geral, passou então a participar de consultas e encontros sobre alimentação saudável e aumentou a quantidade de exercícios.
Hoje, após dois anos de acompanhamento, o resultado na balança é outro: 66 kg. “Me sinto outra pessoa. Antes, vira e mexe eu estava na emergência, com dor e pressão alta. Agora quero envelhecer com saúde.”
Objetivo semelhante tem a aposentada Dirce Fernandes, 64, que frequenta reuniões semanais de um grupo de combate à obesidade da Unimed Fortaleza.
“Não me considero obesa, mas sempre tive tendência a engordar. E o grupo está me ajudando a ter esse controle”, relata ela, que elogia o formato de atendimento. “Se todos os planos olhassem por esse lado, valeria a pena.”
TENDÊNCIA
Para Solange Mendes, da FenaSaúde, associação que representa algumas das maiores operadoras de planos de saúde do país, a tendência é que mais planos ofertem iniciativas voltadas à prevenção nos próximos anos como forma de evitar um aumento de custos no setor.
“Não diria que é uma redução de custos, mas que é uma forma de contê-los. Hoje a medicina tem avanço constante e o cuidado cada vez é mais caro. Se não houver esse cuidado com saúde, a explosão de custos no cuidado da doença vai tornar proibitivo os preços para o acesso da população [aos planos].”
Antônio Carlos Abatepaolo, diretor-executivo da Abramge, concorda que há necessidade de uma mudança no modelo de assistência aos usuários, com maior foco em prevenção do que apenas no cuidado de doenças.
“Mas não é uma coisa que acontece da noite para o dia. Há necessidade de uma mudança cultural”, afirma ele, que cita ainda a necessidade de discutir alterações na forma de remuneração para que o novo modelo possa ser implementado.
Apesar desses impasses, a avaliação é que essas iniciativas têm tido maior apoio. “No mercado, o número desses programas ainda é incipiente. Mas, como ideia, está cada vez mais consolidada.”
DEMANDA
Além da melhora na saúde do usuário, representantes de planos que possuem programas de promoção da saúde e prevenção de doenças já relatam redução na demanda por atendimentos de urgência e nos gastos com doentes crônicos, por exemplo.
“Temos custos evitados significativos de até 13% em relação a pessoas com características semelhantes e não abordadas”, diz Regina Mello, superintendente-executiva de saúde da SulAmérica, sobre o projeto de monitoramento de doentes crônicos, como hipertensos e diabéticos.
A iniciativa faz parte do Saúde Ativa, programa que mapeia fatores de risco de doenças entre usuários e presta consultoria para adoção de uma vida saudável.
Resultados semelhantes também já começam a aparecer no programa Viva com Saúde, da Fundação Copel, que já registra redução de 10% no número de internações de pacientes com doenças crônicas.
Segundo o responsável técnico pelo programa, Luiz Henrique Furlan, ao mesmo tempo em que já gera bons indicadores, o programa, que envolve 9 mil usuários, ainda enfrenta desafios.
Uma das principais dificuldades é sensibilizá-los para a prática de atividades físicas, como caminhadas. “Temos, em geral, 200 pessoas que participam [desses encontros]. Se considerarmos que temos 42 mil vidas, esse é um número ainda pequeno.”