RIO- O impacto social provocado pela evolução das telecomunicações, particularmente da internet, consagrou de vez o casamento entre medicina e a comunicação à distância, cujo efeito é a telemedicina. Com objetivo levar a intervenção médica aonde ela não pode estar, as tecnologias de ponta que integram a especialidade, nascida no auge da Guerra Fria, têm hoje muito mais utilidade que cuidar de astronautas. No Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, nesta quarta-feira, na Casa do Saber O GLOBO, a telemedicina foi tema de palestras que mostraram como, por exemplo, um robô comandado remotamente por um especialista pode checar sinais vitais de pacientes e percorrer corredores do hospital, no papel de uma espécie de avatar médico.
As palestras dos cardiologistas Marcos de Souza, Evandro Tinoco, e Eduardo Saad serão tema de reportagem no próximo domingo, assim como a apresentação de Antonio Marttos Jr, diretor de telemedicina de Trauma do Hospital da Universidade de Miami. Com mediação da jornalista Ana Lucia Azevedo, editora de Ciência e Saúde do jornal O GLOBO, e a coordenação, do cardiologista Cláudio Domênico, da Sociedade Europeia de Cardiologia, o evento discutiu um dos caminhos do futuro da medicina.
— A médio e a longo prazo, com o barateamento da tecnologia, a telemedicina no Brasil se fará ainda mais presente, possibilitando mais segurança para pacientes, sobretudo de regiões mais afastadas. Para os médicos, haverá a chance de decisões mais acertadas, com o compartilhamento de informações — prevê Domênico.
Diagnóstico à distância
Nas Olimpíadas de Londres, a ginasta Laís Souza teve uma fratura na mão dias antes de sua estreia nos Jogos. A equipe médica do time brasileiro, por meio da telemedicina, discutiu o diagnóstico com um especialista em lesões de mão da Universidade de Miami, o que resultou, infelizmente, no corte da atleta.
Fora do mundo dos superatletas, se um paciente com sintomas de derrame cerebral chega a uma emergência sem um neurologista de plantão, o acesso virtual a um especialista pode significar a indicação do tratamento certo dentro das quatro horas críticas para evitar sequelas permanentes.
— Nos EUA, a telemedicina já é uma grande realidade. Imagino que, com a evolução tecnológica, será possível ter um apoio especializado inclusive para operar um paciente, por exemplo, no interior do Amazonas, em regiões onde há menos médicos — explica o cardiologista Eduardo Saad, da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca.
Já Marcos de Sousa explica o que difere a telemedicina de uma simples conferência entre internautas em banda larga:
— Por meio de um robô, é possível circular dentro de um hospital, visitar pacientes e ter acesso a exames como se o médico estivesse ali presente. É mais que um Skype, pois o robô oferece um ambiente de transmissão de dados mais seguro e estável, pois estamos tratando de informações médicas.
Para o futuro, Tinoco estima uma medicina cada vez mais integrada:
— A tendência é que a telemedicina evolua a ponto de ser possível, progressivamente, conectar qualquer centro de medicina no mundo, o que ajuda o médico na tomada de decisão clínica.