Os laboratórios nacionais têm abocanhado fatia crescente nas vendas de medicamentos no varejo farmacêutico e hoje já fornecem mais de dois terços do volume comercializado no país. Em receita, a participação das farmacêuticas brasileiras também é superior à das multinacionais, mas menor do que a presença em unidades: 58%, ante 67%.
É o que mostra uma extensa análise produzida pela Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), com base em dados da consultoria IMS Health relativos ao desempenho do varejo farmacêutico de janeiro a setembro deste ano. Nesse intervalo, as vendas de medicamentos nas farmácias brasileiras cresceram 12,4%, para R$ 37 bilhões. Em número de doses, a alta foi de 4,9%, a 109 bilhões.
Na avaliação do presidente-executivo Alanac, Henrique Tada, o avanço demonstra que os remédios das empresas brasileiras conseguem, de fato, chegar a um custo mais baixo ao consumidor, seja em mercados mais competitivos, como o de genéricos, seja em classes com maior valor agregado. "Há alguns poucos produtos que ainda não são produzidos no país e têm preço mais elevado, sem a concorrência local. Mas, na maior parte dos segmentos, a indústria brasileira já está presente", afirma o executivo.
Além disso, o setor tem assistido ao fechamento de fábricas e redução da produção de multinacionais no país, ao mesmo tempo em que marcas brasileiras investem em capacidade e vão entrando em nichos considerados extremamente sofisticados, como o de medicamentos biológicos e biossimilares. "Os últimos eventos de inauguração foram de empresas nacionais e, além de demonstrar a tecnologia alcançada, há redução de custo", analisa Tada.
No próximo dia 25, por exemplo, a Libbs inaugura em Embu das Artes (SP) a Biotec, fábrica voltada ao desenvolvimento de anticorpos monoclonais, considerados uma nova fronteira para a indústria global. E, hoje, grandes empresas de capital nacional, como EMS, Hypermarcas, Eurofarma e Aché, desbancaram as chamadas "big pharma" e aparecem entre as seis maiores no ranking local em vendas (considerando-se os descontos concedidos na cadeia).
Conforme o estudo da Alanac, entre janeiro e setembro de 2012, os laboratórios nacionais responderam por 58% das vendas de remédios (em unidades) em drogarias e farmácias. Em 2014, essa fatia chegou a 63% e, neste ano, a 67%. Os números mostram que, nesse período, a taxa média de crescimento anual das vendas das farmacêuticas brasileiras foi de 3,7 enquanto as multinacionais tiveram desempenho negativo.
Em receita, a taxa média de crescimento anual das empresas brasileiras, entre 2012 e 2016, foi de 3,8%, também comparável a taxas negativas das concorrentes internacionais. "O ritmo ainda é de crescimento, mas a tendência é de desaceleração neste ano e no ano que vem, porque a base [de comparação] se tornou maior e a crise tem afetado principalmente os laboratórios que tem vendas para setor público, o que impacta diretamente o desempenho da indústria", afirma Tada.
No Farmácia Popular, programa do governo federal que amplia o acesso a tratamentos para doenças mais comuns no país, os laboratórios nacionais também têm presença majoritária, com 67% em unidades e 61% em valor, ante 25% e 34%, respectivamente, das multinacionais.
O maior preço médio praticado pelos laboratórios estrangeiros explica a diferença menor de participação nas vendas em valor. "A participação dos nacionais é bem maior também por causa de sua capacidade de resposta rápida", diz o presidente da Alanac. Conforme o levantamento, no geral, o preço médio da unidade vendida pelos laboratórios nacionais é de R$ 20,76 neste ano, abaixo dos R$ 30,37 médios das múltis.
De acordo com Tada, a análise dos números da IMS também confirma a dominância da indústria nacional nas categorias de medicamentos genéricos e similares, com participação de 79% e 78% nas unidades vendidas, respectivamente. Em remédios de referência, porém, é folgada a liderança das farmacêuticas estrangeiras e as brasileiras têm apenas 22%.
No fim dos anos 90, lembra Tada, quando foi lançada a proposta do genérico no país, os laboratórios nacionais adotaram a ideia e se tornaram grandes fornecedores. "A indústria é ágil e consegue responder rapidamente ao governo. Também nas PDPs [Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo] os laboratórios nacionais têm maior participação", acrescenta. No recorte por modalidade, laboratórios nacionais respondem por 62% das vendas de medicamentos isentos de prescrição e 69% de remédios sob prescrição.