Operação em rede
25/10/2016


A complexidade das soluções, o preço da mão de obra dos especialistas, a acelerada obsolescência dos equipamentos e a dependência cada vez maior de sistemas interconectados têm levado um número crescente de empresas a utilizar a terceirização para dispor de recursos atualizados de tecnologia da informação.

Ao invés da contratar mão de obra ou adquirir equipamentos, elas fazem contratos com outras empresas, que fornecem esses recursos como prestação de serviço, com níveis de qualidade que dificilmente seriam alcançados por esses clientes.

A comprovação dessa tendência aparece nos resultados da maioria das principais empresas do setor, entre as quais a brasileira Stefanini, que em 2015 faturou o equivalente a R$ 2,6 bilhões (10% mais do que em 2014), e pode crescer 11% neste ano, segundo previsão de seu presidente, Marco Stefanini: "No Brasil, poderemos crescer perto de 20%", acrescenta.

Focada exclusivamente em prestação de serviços de TI, a empresa tem crescido organicamente e também por meio de aquisições aqui e no exterior: "Já estamos em 39 países", detalha Stefanini, que tem 40% de sua receita em outros países.

A expansão para o exterior aconteceu inicialmente na América Latina, conta ele, com o favorecimento da familiaridade cultural. "Numa segunda fase de expansão, escolhemos novos países para entrar, com base no mercado consumidor para os nossos serviços, e nesse caso estamos falando de Europa e Estados Unidos. Mas, atualmente, nossas expansões acontecem também por causa da solicitação de clientes."

É o caso da Coca-Cola Helenic, por exemplo, um cliente que tem presença em 30 países europeus, com sede na Grécia e base fiscal na Áustria, explica. Para atender a essa companhia, a Stefanini precisou abrir operações nesses dois locais. 

Apesar de tanta diversidade de culturas, línguas e fusos horários, Marco Stefanini acha relativamente simples gerir essa complexidade da empresa. Para isso, a operação é dividida em quatro grandes regiões: Brasil, América Latina sem Brasil (cuja sede fica no México), América do Norte com Ásia-Pacífico (com sede em Detroit) e Europa mais Oriente Médio/África, com sede em Bruxelas.

"Se vou abrir operação num novo país, quem vai cuidar dela é a regional com mais afinidade cultural", explica.

A Sonda IT, uma das quatro maiores empresas de serviços de TI no mercado brasileiro, segundo seu presidente, Eduardo Borba, teve em 2015 um faturamento global da ordem de US$ 1,2 bilhão, o dobro do que faturava cinco anos atrás, dos quais um terço com origem no Brasil.

Com sede no Chile e operações em dez países da América Latina, a Sonda tem sido procurada neste ano principalmente pelos clientes que desejam reduzir custos. "Em 2016, não é novidade que a crise teve um grande impacto no volume de negócios de todos, e aumentou as discussões sobre terceirização, até porque falta capital para investimento", afirma.

A principal vantagem da terceirização para o cliente, destaca Borba, está na elasticidade, na alavancagem e na possibilidade de reagir mais rapidamente. Mas, em 2016, "infelizmente", diz ele, a grande motivação foi cortar custos.

"Do nosso ponto de vista, o cliente deve não só olhar o custo, mas também o custo de oportunidade. Por exemplo, verificar quanto tempo se consome de máquinas e de gente em operações que não são exatamente a finalidade da empresa", acrescenta.

No entanto, segundo pesquisa global da consultoria Deloitte sobre o assunto, 59% das empresas continuam buscando a terceirização para cortar custos.

Na consultoria Accenture, que teve em 2015 um faturamento de US$ 31 bilhões, a unidade de negócios que mais cresce é justamente a que oferece serviços terceirizados, informa Alexandre Colcher, líder de operações empresa para o Brasil e América Latina: "A terceirização começou no Brasil na década de 90, num modelo mais orientado ao 'body shop', ou seja, terceirização de mão de obra para reduzir despesas de pessoal. Mas esse modelo se esgotou ao longo do tempo e está migrando para uma terceirização de servicos aperfeiçoada, vinculada a indicadores de negócios", diz.

Nesse modelo, relata Colcher, a cobrança não é feita pelo número de pessoas alocadas a determinado serviço, podendo ser feita pela medição dos resultados: "Quem consegue fazer isso vai muito bem no mercado: esse modelo traz benefícios substanciais, porque na crise de hoje o cliente busca justamente ganhos de produtividade."

Hoje, o modelo ideal, de acordo com ele, é o que proporciona o que chama de 'economia-as-a-service': "É, por exemplo, quando conseguimos implantar um processo de compras apoiado por uma plataforma de compras em cloud, numa dinâmica em que se pode cobrar por transação".

Esse modelo da Accenture tem atendido clientes como bancos e fabricantes de produtos de consumo, diz Colcher. Embora a empresa seja global, o executivo diz que menos de 15% dos serviços nos clientes latino-americanos são prestados por funcionários fora da região: "O primeiro segredo do sucesso é ter locução e presença local. Nosso cliente não precisa falar com alguém na Índia. Fala com alguém daqui", afirma.

Com sede na França e faturamento de € 11,9 bilhões em 2015 (um crescimento de 12% sobre o ano anterior), a Capgemini tem uma política semelhante para o atendimento de clientes brasileiros, segundo o CEO da empresa no Brasil, Paulo Marcelo Moreira. "Atendemos no Brasil geralmente de um ponto às vezes bem próximo ao cliente, às vezes remoto (que chamamos de near shore), mas também temos o modelo off-shore, embora aqui ele não seja utilizado em larga escala", diz Moreira. Para isso, a empresa tem uma grande operação de serviços na Índia, que atende clientes na Europa e nos Estados Unidos.

Com operações em 44 países e 180 mil funcionários, a Capgemini tem de atender clientes 24 horas por dia, detalha o CEO da empresa. "Para conseguirmos fazer uma operação global, desenvolvemos um modelo industrializado que inclui serviços, processos, automação e pessoas, num atendimento comum e integrado."

A espanhola Indra, outra das empresas líderes no Brasil em terceirização de serviços de TI, teve em 2015 um faturamento global de € 2,85 bilhões, 3% abaixo do total de 2014, mas em 2016 no Brasil "apresenta Ebit positivo, crescimento e rentabilidade", diz Jorge Arduh, CEO no Brasil.

Com grande especialização em segurança e defesa, a empresa está neste momento ampliando sua atuação em países africanos como Zimbábue, Zâmbia, Etiópia, Uganda, Camarões, Gana, Quênia e Moçambique, com projetos que incluem os de controle de distribuição de energia elétrica.
Fonte: Valor




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