Uma geração atrás, uma situação de 7,6% de desemprego seria considerada uma recessão grave nos Estados Unidos. Agora, é um sinal de melhora e motivo de inveja para ministros da Fazenda de vários países. Nos 17 países que usam o euro, o desemprego está em 12% e continua subindo; o da Espanha chegou a 27%. A economia britânica se contraiu em 10 dos últimos 19 trimestres.
Será que isso é o melhor que podemos fazer?
Muitos livros foram escritos, e outros virão, sobre como evitar uma nova crise financeira. Mas eis aqui uma questão importante: O que os últimos anos nos ensinaram sobre como acelerar a recuperação depois que uma economia sofre um grave choque financeiro? Não é uma tarefa fácil e, como esse episódio ainda não acabou, ninguém pode saber as consequências finais do que já foi feito. Dito isto, algumas lições iniciais parecem claras:
1. Faça o diagnóstico correto
Ken Rogoff, economista de Harvard que escreveu o livro mais influente sobre a história das crises financeiras ("Oito séculos de delírios financeiros: Desta vez é diferente", com Carmen Reinhart) e cujos dados sobre a relação entre a dívida pública e o crescimento foram questionados por outros economistas recentemente, diz que o que precisamos lembrar é o seguinte: "Quando há uma recessão acompanhada de uma profunda crise financeira, segue-se um longo período de crescimento lento."
Esse tipo de recessão mais parece uma doença crônica. "Se você perceber que não vai conseguir crescer para sair da crise depressa", diz Rogoff, "isso muda o cálculo do risco". Isso significa tomar medidas prejudiciais politicamente (e talvez economicamente) no curto prazo, como, por exemplo, dar baixa contábil de dívidas incobráveis, pois são medidas que vão compensar mais tarde. "Trata-se realmente de saber se teremos crescimento lento durante 5 ou 15 anos", diz ele. Nem os EUA nem a Europa compreenderam isso quando sofreram os primeiros grandes choques financeiros.
2. Na dúvida, faça mais, não menos
Isso parece imprudente, sobretudo considerando que a crise foi causada pelo excesso de crédito e de riscos. Mas a história recente demonstra que as previsões iniciais raramente são negativas o suficiente, e que depois de um choque financeiro é mais provável surgirem surpresas desagradáveis do que agradáveis. Desde 2009, as autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, têm demonstrado constantemente um otimismo excessivo sobre o crescimento. Se o Fed tivesse que fazer tudo outra vez, provavelmente teria cortado mais os juros, imprimido mais moeda e comprado títulos de dívida antes. A maioria dos consultores econômicos do presidente Barack Obama teria lançado mais estímulos fiscais, se o Congresso tivesse permitido.
Há, com certeza, uma visão contrastante, segundo a qual não foi a dose, mas sim o próprio remédio fiscal que estava errado. A história recente ainda não dá muito apoio à noção de que menos estímulo teria sido melhor. O resultado da experiência do Reino Unido com a austeridade fiscal é, até agora, pouco atraente, com um crescimento econômico mais lento que o previsto, apesar dos esforços do Banco da Inglaterra para compensar os severos cortes de gastos governamentais.
3. Crise financeira é questão de economia, não de moral
Existe a tentação de fazer sermões depois que tanta gente cometeu tantos erros: evite os pecados que criaram a crise; puna os culpados; adote a retidão e a frugalidade na economia.
No longo prazo, isso é correto, com certeza. Mas logo após um megachoque financeiro, se todos reduzirem as dívidas ao mesmo tempo, a economia vai continuar se contraindo. Há um forte argumento a favor de estimular os empréstimos e os gastos no rescaldo de uma crise financeira e abandonar temporariamente o medo de que isso possa induzir as pessoas a pecar mais no futuro.
4. Cuide dos bancos
Durante a Grande Depressão, como o presidente do Fed, Ben Bernanke, demonstrou em seu trabalho acadêmico, a economia dos EUA sofreu porque o Fed não conseguia perceber que os bancos moribundos estavam entupindo as artérias de crédito da economia. Durante os anos 90, em casos que Bernanke examinou no meio da crise recente, tanto a Suécia como o Japão tiveram crises bancárias gravíssimas. A Suécia fez uma limpeza nos seus bancos e restaurou sua economia, rumando para o crescimento. O Japão não fez isso e entrou em dez anos de estagnação. Nos anos 2000, os EUA aprenderam com esse episódio, mas a Europa não.
O contraste entre os EUA e a Europa quanto ao teste de estresse dos bancos é instrutivo. O objetivo dos testes é garantir aos mercados que os bancos possuem (ou serão obrigados a captar) capital suficiente para aguentar um período de economia fraca.
Nos EUA, os testes de estresse de 2009 conseguiram credibilidade junto aos mercados, e o governo prometeu capital vindo do contribuinte para ajudar os bancos que não conseguiam captá-lo no mercado. Já os testes de estresse europeus não obtiveram credibilidade, em parte devido à delicada questão de reconhecer que os títulos do governo podiam valer menos que o seu valor nominal.
Agora, os bancos americanos são considerados saudáveis e começam a emprestar mais facilmente. Em contraste, alguns dos principais bancos europeus ainda são considerados instáveis. Eles relutam em emprestar. E agora os governos estão embarcando em mais uma rodada de testes de estresse.
5. Cuide ainda dos devedores
Se uma pessoa não pode pagar um empréstimo, fingir que ela vai pagar não faz bem nem ao credor nem a quem deve - e pode prejudicar gravemente a economia. Mas o custo político de perdoar dívidas, principalmente à custa do contribuinte, pode ser um obstáculo intransponível.
Nos EUA, quando mais de um quarto dos donos de residências hipotecadas tinha empréstimos superiores ao valor da casa, economistas pediram para que muitas hipotecas fossem refinanciadas ou tivessem seu valor reduzido. Nem o governo de George W. Bush nem o de Obama encontraram um veículo para isso com um resultado que considerassem compensador em vista do custo econômico e político. Seus críticos dizem que essa cautela excessiva prolongou a crise imobiliária e retardou a recuperação.
Na Europa, houve certa relutância em parecer que se estava recompensando economias perdulárias de países periféricos ao perdoar suas dívidas. Isso deixou os bancos sobrecarregados com títulos de dívida públicos. Os governos devedores foram forçados a cortar drasticamente os gastos e aumentar os impostos, com o risco de provocar uma espiral descendente em que o aperto de cinto agrava a recessão, a qual, por sua vez, aumenta o déficit público.
6. Política fiscal duradoura
Em retrospecto, o pequeno estímulo fiscal de Bush de 2008 e o grande estímulo fiscal de Obama de 2009 foram inadequados. Dar incentivos fiscais para comprar casas e carros deu à economia um impulso temporário. Mas ele se esgotou e deixou a economia em dificuldades. Mais recursos para a infraestrutura, por exemplo, teria dado um impulso mais duradouro à economia.
7. Tenha uma estratégia de saída e saiba explicá-la
Ainda há uma preocupação persistente de que tudo isso vai acabar mal, o que pode levar empresas e consumidores a reduzir os gastos, prejudicando a economia. As grandes empresas continuam a acumular enormes reservas de caixa, como se estivessem se preparando para uma catástrofe. O Fed já expôs sua estratégia de saída, dizendo aos mercados o que precisa acontecer antes que ele aumente os juros e esboçando um plano para diminuir sua carteira de US$ 3 trilhões, algum dia. Mas ninguém pode garantir que o Fed vai acertar ou ter a coragem política de atuar no momento preciso.
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