Tempo de rever os velhos “mantras”
22/09/2016
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Mantra número 1 – “A saúde se constitui no segundo item em custos na folha de pagamento das empresas”. Esta frase tem sido cada vez mais repetida, em inúmeras ocasiões. Trata-se de uma realidade, ou seja, as despesas com os planos de saúde estão, realmente, no segundo lugar na escala de gastos com pessoal. No entanto, esta frase traz uma mensagem que pode trazer uma conotação bastante negativa. Ou seja, quando temos uma “despesa”, conceitualmente, temos algo a ser gerenciado ou, na pior das hipóteses, cortado.  Ou foca o investimento em saúde somente no campo assistencial, para pagar laboratórios, hospitais, médicos e clínicas.

A simples educação (naturalmente necessária) da educação do consumidor sobre o uso do sistema de saúde não será suficiente para abordar a questão, mesmo com a inclusão de elementos de incentivo ou penalidade. As recentes pesquisas que indicam um aumento exponencial dos casos de diabetes, câncer, AVC e doença cardiovascular em nosso país demonstram a necessidade de uma ação integrada, com escala e que atinja os diferentes estratos da população.

No entanto, sabemos que, em grande parte, as empresas são avaliadas, atualmente, principalmente pelo seu capital intangível que é construído pelo seu capital humano e intelectual. Neste contexto, a saúde passa a assumir um papel central e deve ser visto como um investimento.  Esta é a visão proposta pelo “International Integrated Reporting Council – IIRC” ao sugerir que devemos avaliar e relatar os “seis capitais” da organização (financeiro, manufaturado, intelectual, natural, humano e social).

Naturalmente que, neste contexto, não se inclui somente o plano de saúde, mas todo investimento em ações e programas que mantenham o nível de saúde da força de trabalho, previnam doenças e mantenham a produtividade. Os programas não podem mais, ser isolados, sem integração com as estratégias das companhias e sem indicadores claros de desempenho.

Mantra número 2 – “Qual é o ROI desta ação?”. Influenciados por autores americanos, que há algumas décadas propuseram avaliar o retorno-sobre-o-investimento (ROI) para as ações, em termos de sinistralidade em seguros de saúde, surgiu uma prática de se buscar o ROI para todas as atividades e programas de saúde.

Naturalmente se busco controlar os custos assistenciais e equilibrar uma carteira de beneficiários é importante avaliar o perfil de utilização, discutir o modelo assistencial utilizado, identificar as fraudes, redesenhar o acesso aos serviços e a rede de beneficiários, dentre outras medidas gerenciais.

No entanto, quando se avalia a utilização do plano de saúde (no caso assistencial) ou a taxa do FAP (no caso ocupacional-previdenciário) se está abordando as consequências e os agravos que já ocorreram. A busca de um  “ROI” como fator determinante do investimento em saúde levará, inevitavelmente, a opções por ações com resultados de curto prazo e que não são sustentáveis ou que envolvam a abordagem dos fatores determinantes dos agravos.

Sabemos que as doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doença pulmonar crônica), em grande parte, estão relacionadas a questões de estilo de vida como atividade física, alimentação e tabagismo. Obviamente, a promoção de tais fatores não traz, certamente, um ROI em sinistralidade no curto prazo. Mas estas questões precisam ser enfrentadas pelas empresas, pelos planos de saúde e pela comunidade. As pesquisas populacionais recentes mostraram que a população brasileira possui, em geral, indicadores ruins no que se refere aos fatores de risco e de proteção para doenças crônicas. Com o envelhecimento da população e o aumento de doenças crônicas, o melhor sistema de saúde não será suficiente ou sustentável.

Não se trata de uma visão romântica ou superficial. Constitui-se numa visão de custos.  O controle das doenças crônicas evitará a avalanche de utilização de “stents”, cirurgias bariátricas, tratamentos quimioterápicos caríssimos, diálises ou transplantes renais, etc. Nenhum sistema de auditoria ou controle de custos vai conseguir controla-la. Uma visão mais ampla e estratégica evitará eventuais decisões imediatistas que tragam um “ROI” no curto prazo.

 





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