Nos últimos cinco anos. os hospitais públicos e particulares da capital federal extinguiram 571 leitos de internação. O recuo de 8,3% é quase o dobro da média nacional, de 4,6%. No período, segundo dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, passou de 6.799 vagas, na rede pública, para 6.228. O serviço fica ainda mais desequilibrado com as unidades que não deixaram de existir, mas estão bloqueadas por deficit de recursos para manutenção. O mais recente levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 225 leitos estão nessa condição — sendo 97 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A interpretação dos números do setor revela um cenário tão desorganizado que é preciso repensar a concepção da assistência, segundo análise de especialistas consultados pelo Correio. A situação fica ainda mais desarmônica com o crescimento da demanda. Entre 2010 e o ano passado, os hospitais gerais do governo (urgência e emergência) perderam 10,1% dos leitos. Saíram de 4.244 vagas para 3.812. As unidades especializadas diminuíram 7,4% — com 5.242 ante 5.665.
A rede privada, apesar de ser acometida por menos problemas, enfrenta conjuntura semelhante. Sozinha, ela representa uma retração de 4,3%. Entretanto, os índices dos hospitais gerais da iniciativa privada são os únicos que apresentam um tímido crescimento. Nessas unidades, o volume de leitos aumentou 0,6%, com a criação de apenas nove leitos entre 2010 e 2015. Eram 1.421 vagas e agora são 1.430. Contudo, os hospitais de especialidades particulares acumulam a maior retração: 11,9%, com menos 113 leitos.
O maior problema, de acordo com Vitor Gomes Pinto, integrante do Observatório da Saúde e especialista em gestão pública, é a desproporção da oferta frente à procura. Ele examinou os números a pedido da reportagem. “Diminuir oferta é uma estratégia suicida. Os efeitos disso ficam na lista de espera por procedimentos eletivos, por exemplo, para cirurgias. Com isso, temos uma crise maior ainda, aliada aos outros fatores que prejudicam a assistência”, avalia.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 2.570.160 habitantes no DF em 2010. No ano passado, a população da capital alcançou 2.914.830 pessoas — crescimento médio de 13,4%. A Secretaria de Saúde mapeia os atendimentos da cidade. A pasta garante que 75% dos moradores recorrem ao sistema público. Apesar do panorama, em cinco anos, das 571 vagas de internação fechadas nos hospitais do DF, 467, ou seja, 81,7%, ocorreram na rede pública.
Manutenção
Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), garante que a principal causa de fechamento de leitos está relacionada ao custeio das unidades. Segundo ele, o governo preocupa-se em criar espaços, mas não se atenta para o financiamento da manutenção. “Esse é um problema generalizado. Se tornou um ciclo vicioso. Diminuem-se os leitos, aumenta-se a demanda, não se atende à totalidade e isso aumenta filas e tudo fica desordenado. Vamos ter uma legião de gente doente sem condições de tratamento”, crítica.
Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, os dados revelam uma realidade que, diariamente, aflige médicos e pacientes em unidades hospitalares de todo o país. “A insuficiência de leitos para internação ou realização de cirurgias é um dos fatores que aumenta o tempo de permanência dos pacientes nas emergências. Por falta desses leitos, os pacientes acabam ‘internados’ nas emergências à espera do devido encaminhamento ou referenciamento”. Segundo Vital, a falta de leitos para internação é considerada a principal causa da superlotação e do atraso no diagnóstico e no tratamento, que, por sua vez, aumentam a taxa de mortalidade.