Uma equipe da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo está testando a eficácia do uso de réplicas do coração do paciente impressas em 3D para aprimorar cirurgias cardíacas realizadas na instituição.
Três pacientes já foram operados com o uso de recurso e outros estão sendo recrutados. Os resultados preliminares do estudo, que vem sendo conduzido há três anos, foram apresentados neste domingo (11) no Congresso da Sociedade Mundial de Cirurgiões Cardiotorácicos, na África do Sul.
A impressão em 3D tem colaborado com a medicina ao possibilitar a criação de biomodelos, objetos que reproduzem nos mínimos detalhes a anatomia do órgão de um paciente, permitindo que os médicos diagnostiquem com mais precisão e façam um preparo mais minucioso do procedimento cirúrgico.
A pesquisa, conduzida pela pesquisadora Leila Nogueira Ferreira de Barros, avalia se o recurso possibilita melhores resultados em cirurgias para tratar aneurismas do ventrículo esquerdo. Como os biomodelos ainda são muito caros, o estudo só foi possível graças a uma parceria dos pesquisadores com a empresa BioArchitects, que desenvolve os biomodelos, e com financiamento do fundo de amparo à pesquisa da faculdade.
A experiência com os primeiros pacientes operados mostra que a réplica permite que o cirurgião entre no procedimento com uma ideia mais precisa do que vai encontrar.
"A imagem pode ser perfeita e dar uma boa ideia do que vamos encontrar, evoluímos muito por causa da imagem. Mas o fato de perceber o órgão tridimensionalmente, colocando a mão e vendo sob todas as posições traz uma contribuição muito maior do que a imagem sozinha", diz o cirurgião Luiz Antonio Rivetti, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e orientador da pesquisa.
Como facilita a cirurgia?
O aneurisma do ventrículo esquerdo, caso estudado pelos pesquisadores, ocorre geralmente após um infarto agudo do miocárdio, que leva à morte de parte do músculo cardíaco, que deixa de contrair da forma correta. O paciente passa a ter, então, sintomas de insuficiência cardíaca ou arritmia. Além do infarto, o problema também pode ser ocasionado pela doença de Chagas.
A cirurgia é indicada para pacientes que já têm sequelas devido ao mal funcionamento do músculo cardíaco e consiste em ressecar a porção do músculo que não funciona e remodelar o coração para que ele volte a ter um funcionamento adequado, explica Leila.
Para fazer o procedimento, o cirurgião deve saber exatamente a porção do músculo que não está mais contraindo. É aí que entra o biomodelo, segundo a pesquisadora. A réplica reproduz o coração do paciente no momento exato da sístole, ou seja, da contração do órgão. Assim é possível observar em detalhes a região que não contraiu de maneira adequada. A impressão em 3D é feita a partir das imagens feitas por tomografia.
"Quando se usa o biomodelo, o cirurgião já vai planejar e imaginar o quanto vai poder ressecar na cirurgia. Ele deu ao cirurgião uma segurança maior para que a gente entre mais tranquilamente no procedimento", diz Rivetti.