Italiana é a mãe do primeiro bebê com material genético do zika no cérebro
29/08/2016
Debora Diniz, autora do livro "Zika - Do sertão nordestino à ameaça global", revelou a identidade da "mulher eslovena" cujo bebê, morto na 32ª semana de gestação, entrou para a história da medicina como o primeiro a ter identificado o material genético do vírus zika no cérebro. O caso foi publicado na revista "The New England Journal of Medicine", em fevereiro de 2016.

Na realidade, Sofia Tezza é uma italiana de 25 anos que casou com um brasileiro. Contudo, o casamento acabou e ela voltou para a Itália aos seis meses de gestação, três meses depois de ter sido infectada pelo zika em Natal (RN), onde morava.

No Brasil, os ultrassons do feto pareciam normais. Na Itália, porém, ouviu de vários médicos que o cérebro do bebê estava comprometido e que o filho seria "um vegetal". A suspeita era de que um vírus havia causado a má-formação, mas ninguém ainda a relacionava com o vírus da zika.

Sofia passou então a investigar por conta própria a relação entre o vírus que assolava o Nordeste e a má-formação de Pietro, o seu bebê.

A italiana chegou a enviar uma mensagem com a questão a um médico brasileiro em setembro de 2015, dois meses antes de o Ministério da Saúde confirmar a relação.
À autora, Sofia sustenta que Pietro morreu no útero. O artigo científico, porém, informa que, por causa da doença severa no cérebro e da microcefalia, a mãe solicitou que a gravidez fosse interrompida, o que ocorreu em um hospital na Eslovênia.

"Foi o único lugar onde fui tratada como ser humano, e meu bebê também. Lá eles organizaram uma celebração junto com outros bebês que voaram para o céu porque os bebês têm que ficar juntos."

PACIENTE ZERO
O paciente número zero afetado pelo vírus da zika no primeiro mês de gestação é gêmeo com outro menino, que aparentemente não foi afetado. A família mora no município de Custódia (340 km de Recife). Ele foi nomeado paciente zero pela neurologista pernambucana Vanessa Van der Linden não por ser o primeiro afetado pelo zika, mas por despertar a medicina para a tragédia em curso.

O pai, Paulo, é professor de geografia e comerciante. Ele não quer saber de lamúria sobre o filho e se recusa a expor a família na imprensa.
Ele insiste numa pergunta: "Por que estamos isolados? Só em Custódia, há crianças com microcefalia meses mais velhas que meu filho", indaga na obra de Debora Diniz.
Os gêmeos completaram um ano em julho.

O isolamento não é geográfico. A família sabe por que o filho foi o paciente zero. Porque faz parte do topo da estratificação social.
Tem acesso a médicos e serviços privados de saúde, possui carro próprio, viaja 160 km várias vezes na semana para que o filho receba estímulo em um centro especializado no município vizinho.

"Há muitas, muitas mulheres sozinhas com suas crianças com microcefalia. Muitos bebês estão morrendo, outros precisam de internação."
Outra angústia que ainda persegue Paulo é a suspeita de que ainda hoje os médicos não sabem o que realmente está acontecendo: "Será que algo pode acontecer ao outro gêmeo", indagou à autora. Ele está certo: a medicina ainda não tem essa resposta.
Fonte: Ana HP




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