Hospitais de ponta implantam até biometria para controlar remédios
26/08/2016
Eles se parecem com uma máquina de refrigerantes.

Do tamanho de uma geladeira, têm porta de vidro e bandejas com fileiras de produtos variados. Mas, em vez de latinhas ou guloseimas, estocam remédios.

Os chamados dispensadores automáticos são mais um dos equipamentos que grandes hospitais implantaram para agilizar a distribuição de remédios em perder o controle.

No Sírio Libanês, hospital de ponta na zona central de São Paulo, o controle está no dedo dos funcionários. O sistema de segurança usa a biometria e só abre depois de validar a impressão digital.

Além disso, auxiliares de enfermagem só conseguem retirar um medicamento de um dos 20 dispensários eletrônicos se ele tiver sido receitado.

Para qualquer outro produto, será preciso chamar uma enfermeira, relata Débora de Carvalho, gerente da farmácia.
As máquinas substituíram os armários fechados a chave, e guardam remédios para casos de urgência (dor, náusea, hipertensão) e psicotrópicos.

"Isso acelera o atendimento em casos de dor aguda ou febre alta", diz Débora.

O Sírio usa códigos de barra para produtos médicos desde 2007 e, desde 2009, o controle conhecido como beira-leito, que registra que profissional ministrou cada unidade de remédio para qual paciente internado.

Neste ano, investiu R$ 8 milhões em robôs que separam, etiquetam, armazenam e reúnem os medicamentos por ordem cronológica de administração, por paciente.

Outro hospital de ponta paulistano, o Albert Einstein, deve implantar até o final deste ano o sistema beira-leito (que registra que unidade de medicamento foi ministrada a cada um dos pacientes, e por qual profisisonal) em todos os departamentos, incluindo pronto atendimento e setor cirúrgico.

Os robôs para separar remédios virão em 2017, diz Nilson Malta, diretor de automação hospitalar da instituição.
No total, o projeto está orçado em R$ 180 milhões.

Será preciso fornecer crachás com chip e leitores ópticos para os profissionais de enfermagem e todo o sistema de prontuário eletrônico deve ser trocado.

O passo seguinte, diz Malta, seria robotizar a manipulação de produtos injetáveis.

Mas não há prazo para isso, porque não há no Brasil fornecedores cujo custo compense o investimento. Para o diretor, o principal ganho com a tecnologia na logística é a agilidade.

ATIVIDADE-FIM
Ganha-se também a possibilidade de concentrar na atividade-fim do hospital -o tratamento dos pacientes- funcionários que cuidavam de tarefas manuais ou burocráticas.

Estudo da McKinsey, de 2012, estima que a cadeia global de suprimentos de remédios gaste até 270 milhões de horas-homem de trabalho para rastrear ordens de suspensão e chegue a perder até 180 milhões de unidades de medicamento nessas operações.
Para a consultoria, o sistema digital libera até 40% de tempo da equipe clínica para se dedicar a pacientes, além de reduzir a perda de medicamentos e os erros de medicação.

No Sírio, o investimento nos robôs e nos dispensários permitiu aumentar o número de leitos de internação de 260 para 462, sem necessidade de aumentar nem o estoque nem a equipe na mesma proporção, diz Edi Carlos Reis de Souza, diretor de logística do hospital.

Para atender ao novo número de leitos, havia sido prevista uma equipe de 120 profissionais para recebimento, central de etiquetagem, farmácia central e almoxarifado. O sistema permitiu mais eficiência com 80 pessoas.

Débora de Carvalho diz que era necessário um número alto de funcionários para manter o percentual de perdas em níveis aceitáveis, o que gerava banco de horas e cansaço.

Para Souza, a implantação de um sistema completo de controle como o do Sírio só é economicamente viável para hospitais com mais de 400 leitos.

"É preciso ter uma escala suficiente para que o ganho de eficiência e a redução de custos compensem o investimento", afirma Malta, do Einstein.

Uma das principais fontes de economia é a redução de perdas de medicamentos, relevante porque os insumos são o segundo item de maior custo em hospital, superado pela folha de pagamento.

A má-gestão, segundo empresas do setor, provoca perdas de até 20% dos insumos e pode reduzir a margem de lucro em até 15%, segundo estudo da consultoria McKinsey.

Um escoadouro de recursos é o vencimento do prazo de validade. Estudo da McKinsey feito em 2011 com 80 executivos de hospitais no mundo calculou perdas de até US$ 50 bilhões em um ano com remédios vencidos, tendo como base uma perda de até 20% do estoque por caducidade.

Sem um controle eficaz, os funcionários pegam a caixa de remédio que está mais perto, não a mais antiga, o que eleva o desperdício.

A consultoria estima que os sistemas de controle permitem aos hospitais cortar até 40% do custo de mão de obra com recall, 20% do custo financeiro do estoque, 15% do custo de gestão de estoque, até 55% do custo com prazo de validade vencido e 45% do custo com registros. No total, a economia de custos fica entre 25% e 35%. Projetado mundialmente, o dado representava, em 2012, uma economia de até US$ 100 bilhões.

Estimativa feita para um hospital de 300 leitos, com 20 mil pacientes por ano e receitas anuais de US$ 300 milhões (perto de R$ 1 bilhão) resulta em economia seria de até US$ 4,3 milhões por ano, ou 1,4% do faturamento.

Além disso, segundo a McKinsey, o aumento de eficiência e a liberação de funcionários para cuidar dos pacientes traz ganhos adicionais, elevando o custo-benefício em até 20 vezes num período de dez anos.

No caso do Sírio, além do controle digital, comissões de padronização e homologação discutem os medicamentos a ser usados, para evitar compras desnecessárias e vencimento do prazo de validade.

Segundo Débora, o Sírio trabalha com uma meta de 0,3% de perda. "Só mesmo o inevitável, como a quebra de um frasco por acidente", diz Souza, o diretor de logística.
Fonte: Ana HP




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