Uma hora de atividade física compensa os riscos de 8 horas sentado
17/08/2016 - por Zosia Chustecka

Todos já sabem dos perigos de ficar sentado por longos períodos, mas para aqueles com trabalhos sedentários, há agora uma boa notícia – uma hora de atividade de intensidade moderada compensa os riscos para a saúde de oito horas sentado.

Esta foi a conclusão de uma meta-análise de estudos com mais de um milhão de pessoas, publicada online em 27 de julho no periódico Lancet. Ela é um dos artigos de uma série especial sobre atividade física produzida para coincidir com os Jogos Olímpicos.

Esta é a segunda vez que o periódico publica uma série deste tipo. A mensagem principal há quatro anos foi de que a inatividade física é uma assassina, levando a 5,3 milhões de mortes prematuras por ano em todo o mundo, o que corresponde ao mesmo número causado pelo tabagismo e duas vezes maior que o associado à obesidade. A descoberta desencadeou campanhas de saúde pública advertindo que "Ficar sentado é o novo tabagismo" e que "Ficar sentado por muito tempo pode te matar".

A nova mensagem é de que "é possível reduzir – ou mesmo eliminar – esses riscos se formos suficientemente ativos, mesmo sem praticar esportes ou ir à academia", diz o autor principal da meta-análise, Ulf Ekelund, da Norwegian School of Sports Sciencesem Oslo e Cambridge University, Reino Unido.

O estudo mostrou que os riscos para a saúde de permanecer sentado por oito horas ao dia pode ser compensado por uma hora de atividade física de intensidade moderada, que inclui caminhada rápida (a 5,6 km/h) ou andar de bicicleta por diversão (a 16 km/h). Cerca de um quarto de todos os indivíduos no estudo relataram este nível de atividade física.

Mas mesmo períodos mais curtos de atividade (cerca de 25 a 35 minutos ao dia, que é o frequentemente recomendado nas diretrizes de saúde pública) atenuaram o risco de mortalidade associado a permanecer sentado por períodos prolongados, observaram os pesquisadores.

"Para muitas pessoas que se deslocam para o trabalho e têm empregos em escritórios, não há como escapar de ficar sentado por longos períodos", disse Ekelund em um comunicado. "Para estas pessoas em particular, não podemos destacar o quão importante é fazer exercício, seja caminhar na hora do almoço, fazer uma corrida de manhã ou ir de bicicleta para o trabalho. Uma hora de atividade física é o ideal, mas se isso é possível, então, pelo menos, fazer algum exercício todos os dias pode reduzir o risco", ele disse.

"O mundo precisa levar a sério a atividade física", os editores do Lancet escreveram em um editorial de acompanhamento. O estudo de Ekelund e colaboradores mostra "como atividade regular pode diminuir o risco de mortalidade aumentado de ficar por longos períodos sentado... e deve ajudar a mudar o foco atual em apenas reduzir o tempo sentado e a dar mais ênfase em atividades regulares", acrescentam.

Esta é a primeira meta-análise a usar uma abordagem harmonizada para comparar diretamente a mortalidade entre pessoas com diferentes níveis de tempo que ficam sentadas e de atividade física, comentam os pesquisadores. Eles incluíram 16 estudos, com dados de 1.005.791 indivíduos (com idade > 45 anos) dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Austrália.

A equipe confirmou o achado de que ficar sentado por longos períodos está associado a um aumento na mortalidade por qualquer causa. Cerca de 75% dessas mortes foram devidas à doença cardiovascular e câncer (mama, cólon e colorretal), Ekelund comentou.

Além de considerar por quanto tempo os indivíduos ficavam sentados por dia, os pesquisadores também dividiram os participantes do estudo em quatro grupos com mesmo tamanho, de acordo com a quantidade de atividade física que relataram. O grupo menos ativo relatou realizar atividades por menos de cinco minutos ao dia, o próximo grupo por 25 a 35 min/dia, o outro grupo por 50 a 65 min/dia, e o grupo mais ativo por 60 a 75 min/dia.

"Entre os mais ativos, não houve relação significativa entre o tempo sentado e as taxas de mortalidade, sugerindo que a muita atividade física eliminou o risco aumentado de permanecer sentado por longos períodos sobre a mortalidade", observam os pesquisadores.

Mas, à medida que a quantidade de atividade física diminuía, o risco de morte prematura aumentava.

"Foi observada uma clara relação dose-resposta, com um risco aumentado de forma quase curvilínea para a mortalidade por todas as causas com o aumento no tempo sentado em combinação com níveis mais baixos de atividade", comentam os pesquisadores.

Estes indivíduos mais ativos foram utilizados como o grupo de referência para a análise (razão de risco HR de 1).

Sob maior risco estavam os indivíduos que relataram a menor taxa de atividade física, mesmo que não ficassem muito tempo sentados por dia. Para o grupo que era menos ativo (menos de 5 min/dia), mas que também ficou menos tempo sentado (menos de 4 h/dia), a razão de risco (HR) de morte prematura foi de 1,27.

Este resultado foi significativamente maior (p <0,0001) do que para os indivíduos que eram os mais ativos (60 a 75 minutos de atividade física ao dia), mas que também relataram ficar sentados pelos períodos mais longos (> 8 h/dia), que tiveram um HR de morte prematura de 1,04.

Este HR não foi significativamente diferente do grupo de referência, o que levou à conclusão principal de que uma hora de atividade pode compensar oito horas sentado.

Os pesquisadores enfatizaram que os resultados sugerem que a atividade física é particularmente importante, não importa quantas horas por dia se passa sentado.

Falando a repórteres em uma conferência de imprensa do Lancet em Londres, Ekelund disse que os mecanismos biológicos responsáveis pelos resultados não estão claros, mas estudos com animais sugerem que a inatividade está ligada a uma diminuição na produção de certos hormônios.

Ele também enfatizou a mensagem sobre "movimentar-se mais", sugerindo que as pessoas devem andar tanto quanto podem e, se elas precisarem ficar sentadas por períodos prolongados, devem fazer intervalos com séries curtas de atividade, como andar por cinco minutos a cada hora.

Questionado pelo Medscape Medical News se ele pratica o que prega, Ekelund, que é alto e magro, riu e disse que sim, que ele está no grupo de alta frequência de atividades. Ele é um esquiador de cross-country e faz cerca de cinco a sete horas de exercício por semana.

Fonte: LANCET




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