Os Estados Unidos registraram o primeiro caso em que o vírus da zika foi transmitido sexualmente de uma mulher para um homem. O contrário, a transmissão de homem para mulher, já tinha sido apontado anteriormente também nos EUA e na Europa. Cientistas já haviam levantado ainda a possibilidade de o vírus da zika ser transmitido pelo sexo oral.
Os casos eram basicamente de homens que viajaram para áreas onde ocorre a transmissão pelo Aedes aegypti e depois voltaram para sua terra natal, onde não há sinal do mosquito, e levaram o vírus da zika às suas parceiras pela relação sexual.
A história agora é de uma mulher jovem de Nova York que viajou para um país onde há transmissão do zika -o CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA não informou onde- e, na volta, fez sexo com seu parceiro sem preservativo.
Ela começou a sentir os sintomas da infecção do zika no dia seguinte; ele, apenas alguns dias depois.
Os dois se consultaram com o mesmo médico, que levantou a possibilidade da transmissão sexual já que o rapaz não sai dos EUA há mais de um ano.
O caso foi levado ao Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York, que entrevistou o casal. Os relatos eram consistentes e, pela sucessão dos eventos, a hipótese mais provável é que ela tenha passado o vírus ao rapaz.
Um estudo publicado no último dia 11 na revista médica inglesa "The Lancet Infectious Diseases" tinha descrito, pela primeira vez, o achado do vírus da zika no trato genital feminino. Ele já tinha sido encontrado na saliva, na urina, no sangue, sêmen, no leite materno e também no líquido amniótico.
O artigo conta o caso de uma mulher de 27 anos de Guadalupe, departamento ultramarino da França no Caribe e área oficial de transmissão do vírus. Foram feitas coletas de material genital e do colo do útero da paciente, e todos deram positivo para o vírus. Onze dias depois do início dos sintomas as amostras de sangue e urina deram resultado negativo, mas o muco do colo do útero dela ainda dava sinais do vírus da zika.
"Já imaginávamos que isso seria possível [a mulher transmitir o vírus para o homem], ainda mais depois desse estudo, mas é importante que haja a descrição para confirmar a hipótese e fortalecer a ideia de que existe uma transmissão sexual do zika", diz Max Igor Banks, infectologista do HC da USP.
Para Paolo Zanotto, virologista da USP, o registro faz com que seja necessário reavaliar o papel da transmissão sexual na epidemia.
"O que estamos vendo é que o vírus da zika está persistindo por bastante tempo nas pessoas e, com isso, a questão sexual passa a ter um papel extremamente relevante na epidemia."
Segundo Zanotto, os casos de transmissão sexual do zika são mais facilmente identificáveis quando o casal mora em áreas sem o mosquito e um dos parceiros viaja para região de risco. No Brasil, diz, é mais difícil provar que esse foi o meio de transmissão porque os dois podem ter sido picados pelo mosquito.
O cientista, porém, afirma que um grupo de homens que têm zika no sêmen está sendo acompanhado na USP. "Vamos desenvolver estudos para entender a transmissão sexual no Brasil e ver se aqui ela é exceção ou um componente da epidemia."