Fila por consulta pode cair com nova organização
19/07/2016
É possível reduzir a fila de consultas com especialistas sem aumentar o número de profissionais, afirmam pesquisadores em saúde pública. Para isso, é preciso mudar a forma de encaminhamento dos pacientes.

Hoje, durante o atendimento inicial, ao primeiro sinal de doença o paciente é encaminhado para um médico especialista. Analistas defendem que muitos casos poderiam ser tratados no primeiro atendimento, nas unidades básicas de saúde ou no Programa Saúde da Família.

Com o sistema atual, o paciente espera, em média, cinco meses por um atendimento na rede municipal. Mais de 690 mil pessoas estão na fila, segundo dados oficiais de junho. De acordo com a Secretaria de Saúde, quando não há vaga no ato do encaminhamento, o paciente fica aguardando um contato posterior informando a data e local do procedimento.

Eugênio Vilaça Mendes, médico e consultor da área de saúde do Banco Mundial, afirma que o atendimento especializado é mais caro, porque exige mais exames, e não beneficia pacientes que apresentam risco mais baixo.

"O especialista não olha a saúde como um todo. Ele vai direto num órgão ou num sistema. Aí vai medicar, pedir muito exame", diz Mendes.
O consultor cita como exemplo a ortopedia, que tem a maior fila da capital: quase 42 mil pessoas esperam pelo atendimento de um especialista. Segundo ele, cerca de 70% desses casos poderiam ser resolvidos na atenção primária com o acompanhamento de um médico generalista e de um fisioterapeuta.

Eder Gatti Fernandes, presidente do Sindicato dos Médicos de SP, defende redução nos procedimentos complexos. Ele afirma ser preciso investir na atenção básica à saúde, com mais postos e mais profissionais.

Casos mais brandos de doenças crônicas, como hipertensão –normalmente indicados para acompanhamento especializado– poderiam também ficar na rede primária, dizem os especialistas. Apenas os mais graves seriam repassados para atendimento especializado.

Os encaminhamentos seriam sistematizados por protocolos. Para organizar o sistema, o consultor sugere dividir os pacientes que têm a mesma doença em grupos de acordo com o risco oferecido pela enfermidade, em níveis de um (menos grave) a três (mais grave).
Apenas os pacientes de nível dois e três seriam encaminhados para especialistas. Os de nível um (aproximadamente 75% dos enfermos) receberiam atendimento na atenção básica, segundo o consultor do Banco Mundial.

O município de Toledo (PR) adota o modelo há menos de dois anos. De acordo com o diretor geral da Secretaria de Saúde da cidade, Fernando Pedrotti, a espera por cardiologistas caiu de três meses para uma semana.

Apesar de a cidade paranaense ter aproximadamente 130 mil habitantes, equivalente a 1,1% da população de São Paulo, o consultor Eugênio Vilaça Mendes acredita que o modelo também funcionaria. "A cidade é menor, mas o orçamento também é", diz.

O QUE DIZ A PREFEITURA
A coordenadora de atenção básica da Secretaria Municipal da Saúde, Rejane Calixto, diz que desde 2013 vem sendo implantado um novo modelo de gestão no atendimento básico. O sistema busca reduzir os encaminhamentos para especialistas por meio de avaliação mais criteriosa dos pacientes na atenção básica, afirma Calixto.

A solução para o problema das filas, entretanto, virá com o tempo, diz a coordenadora, pois depende de aumento no número de funcionários.
Fonte: Ana HP




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