Após profissionalização da área de captação, 14 Santas Casas e hospitais beneficentes de São Paulo conseguiram arrecadar R$ 10 milhões em doações, em 2015.
A capacitação oferecida pela Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo) e pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) atraiu 104 instituições do Estado no ano passado.
“Hoje no Brasil são fechados por volta de mil leitos de hospitais beneficentes por ano”, diz Marcos Kisil, consultor do Idis. Como o tamanho médio desses estabelecimentos em São Paulo é de 80 leitos, ele calcula o fechamento de 13 hospitais por ano, diante da crise generalizada entre as entidades.
O caso mais bem-sucedido de captação é o do Hospital Nossa Senhora da Piedade de Lençóis Paulista (SP), o único do município. A instituição manteve as portas abertas graças aos R$ 2 milhões arrecadados por meio de doação de empresas e de pessoas físicas, por meio da Nota Fiscal paulista.
O orçamento de R$ 3,5 milhões foi fechado com outros R$ 1,5 milhão vindos de aprovação de emendas parlamentares. Em 2014, quando Ricardo Conti Barbeiro assumiu a diretoria administrativa, o hospital não recebia repasses federais e os recursos municipais e estaduais vinham diminuindo. O déficit contábil era de R$ 2 milhões ao ano e a captação acontecia de forma amadora.
“Começamos a trabalhar com metas e ampliamos nossa arrecadação em três vezes”, afirma Barbeiro, sobre os ganhos após a capacitação. “Se não houvesse doações, o hospital estaria hoje de portas fechadas.”
QUEBRADAS
A iniciativa para fomentar a arrecadação comunitária dos hospitais beneficentes de São Paulo veio em resposta à crise enfrentada pelas Santas Casas, exposta no segundo semestre de 2014, com o encerramento de alguns serviços e falta de pagamento.
“A partir de 2013, o governo federal passou a atrasar os pagamentos”, explica Kisil. “Com isso, as Santas Casas entraram numa crise muito forte porque faltava dinheiro para pagar pessoal.”
O símbolo maior dessa crise foi a Santa Casa de São Paulo, que em julho de 2014 chegou a interromper durante 28 horas os atendimentos de urgência e emergência.
A situação se agravou com ameaça de corte de fornecedores e a demissão de 1.397 colaboradores.
“Era um absurdo a Santa Casa não usar a captação de recursos”, avalia o novo provedor da instituição José Luiz Egydio Setúbal, acionista do banco Itaú, que assumiu em junho de 2015.
Em meio à crise, a Santa de Casa de SP não participou da capacitação, mas montou um grupo interno para discutir formas de aumentar a participação da sociedade no financiamento da instituição.
No ano passado, as doações de pessoas físicas e jurídicas somaram R$ 5,5 milhões.
Com uma dívida de R$ 770 milhões, revelada por uma auditoria em dezembro de 2014, a ideia é profissionalizar a captação.
Em agosto, deve ter início o primeiro projeto, elaborado junto com o Idis. O primeiro público alvo são alunos e ex-alunos de medicina da própria Santa Casa. Eles serão convidados a dor para um fundo patrimonial que vai oferecer bolsas de graduação, pós-graduação e pesquisa como uma forma de reter talentos para a instituição.
Esse tipo de fundo é comum nos Estados Unidos. O da Universidade de Harvard possui US$ 40 bilhões em caixa, a ajuda a financiar a instituição.