Até o início do século XX, a disponibilidade de medicamentos era limitada (pouco mais de 200) e o acesso era restrito a poucas pessoas por motivos geográficos e sócio-econômicos. A partir da década de 40, houve uma explosiva descoberta de novas drogas e de informações sobre o uso, aumentando rapidamente a complexidade do exercício da terapêutica medicamentosa.
Com isso, aumentaram as exigências sociais (tanto no aspecto qualitativo quanto quantitativo) em relação a eficácia e segurança de serviços de saúde, medicamentos e produtos farmacêuticos em geral. Tudo levou a alterações na estrutura da sociedade, no papel de governos e de instituições privadas quanto ao provimento de artigos e serviços de saúde. É dentro desse contexto que a farmacoeconomia se mostra fundamental.
A farmacêutica-bioquímica Nilceia Lopes da Silva, responsável pela área de Economia da Saúde e Pesquisa de Desfechos do laboratório farmacêutico Novartis, esteve recentemente em Porto Alegre para falar sobre a relação da farmacoeconomia e a atuação dos profissionais da área da auditoria em saúde. A atividade foi promovida pela Sociedade dos Auditores em Saúde (Sauds) em parceria com o Sistema Fehosul (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul) e a Fasaúde (Faculdade de Tecnologia em Saúde). “Foi muito enriquecedor entender um pouco mais sobre os desafios enfrentados pelos profissionais de auditoria em saúde”, comentou.
Para o médico e coordenador do MBA Auditoria em Saúde da Fasaúde, Eduardo Dias Lopes, “os encontros que fazemos são essenciais pois permite que os profissionais entendam a importância dos estudos que avaliam o impacto de diferentes ordens, não apenas financeiro, na implementação dos tratamentos. ”
A especialista da Novartis destacou que “a farmacoeconomia é uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisões em saúde, na medida em que procura responder se uma nova alternativa de tratamento traz benefícios para a saúde que justifiquem seu custo adicional. Ou qual seria o impacto financeiro de sua incorporação pelo sistema de saúde”.
Os altos custos da assistência à saúde geram preocupações entre governos, organizações de saúde e pacientes. Embora de extrema importância, a plena liberdade requerida por médicos e profissionais de saúde no exercício de suas funções pode levar a despesas que inviabilizariam os sistemas. Por outro lado, reduzir gastos sem critérios pode ser uma medida enganosa, resultando em maiores custos imediatos ou tardios, além de ineficácia. Conciliar a necessidade de reduzir custos com a manutenção ou aperfeiçoamento da qualidade do tratamento são os objetivos da farmacoeconomia.
Para a fixação do preço de medicamentos, cada vez mais, são incorporados resultados de estudos farmacoeconômicos, com a finalidade de situar o valor terapêutico do medicamento, justificando o seu preço no mercado. Esta estratégia é utilizada para negociação de preços com autoridades sanitárias. Assim, um determinado medicamento, quando comparado à outra alternativa, pode apresentar um menor preço dependendo das vantagens terapêuticas. Portanto, os estudos farmacoeconômicos podem servir de base para negociação de preços com ambulatórios, hospitais e setores de assistência médica suplementar.
Medicamentos são essenciais na absoluta maioria das ações em saúde. Do ponto de vista financeiro, os medicamentos geralmente constituem a menor parte dos custos que podem ser atribuídos a uma enfermidade, mas mesmo assim o gasto da sociedade com os mesmos pode chegar a 8% a 10% do total investido no setor.
“Em um cenário de escassez de recursos e de crescente demanda por serviços e produtos de saúde, a busca por eficiência na alocação de recursos é fundamental para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”, explicou Nilceia Lopes da Silva, que é responsável pelas avaliações econômicas de medicamentos e estudos de custo de doenças, de utilização de medicamentos e pesquisa de desfechos além da síntese de evidências para avaliações de tecnologias em saúde (ATS) na Novartis.