O SUS na capital
28/06/2016

Depois de denúncias feitas por um médico do Hospital de Base, a Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara dos Deputados verificou, no fim do mês de maio, a situação in loco. “Descobrimos que tudo o que a gente achava que era ruim, na verdade era muito pior. Saímos de lá absolutamente estarrecidos”, conta o deputado Professor Reginaldo Veras, presidente da Comissão.

Segundo o relatório emitido pelos deputados, há somente um aparelho de radioterapia funcionando. Outros dois estão sem manutenção há dois anos, quando a obrigatoriedade do ajuste é a cada dois meses. O hospital também tem um equipamento de ponta, o pet-scan, que rastrea tumores pelo corpo, mas nunca foi instalado. Além disso, faltam vários medicamentos.

“A primeira coisa que temos que reconhecer é que as definições de ‘caótico’ ou ‘calamidade’ correspondem à realidade. A situação é grave e, feito esse reconhecimento, as frentes estão abertas. A necessidade de normalização do abastecimento e dos contratos de manutenção é aguda”, garante Bruno Sarmento, gerente de cuidados com câncer da Secretária de Saúde do DF.

Há problemas em todas as etapas do tratamento oncológico em Brasília. Na área de diagnóstico, a tomografia é o principal gargalo, uma vez que não atende a demanda total, que extrapola os casos de câncer. Nas cirurgias, necessárias para quase 70% dos pacientes, o modelo que funciona atualmente não é o ideal. Os procedimentos são feitos nos hospitais regionais e, como o tratamento oncológico é de alta complexidade, exige especialização. “Tem gente sendo operada por médicos não especializados e os pacientes de câncer disputam espaço com as vítimas de traumas urgentes”, afirma o médico.

Quanto aos remédios, há uma lista de 53 remédios listados para tratamento oncológico e, hoje, faltam 12 na capital. Se o paciente precisa de um tratamento que está disponível, tem que esperar uma semana ou até 10 dias. Caso a droga possa ser substituída por outra disponível, o paciente começa a se tratar com mais rapidez. Mas se o remédio está em falta, o hospital tenta comprar, respeitando um orçamento máximo de R$ 8 mil reais. Quando não consegue, o paciente pode entrar na justiça. “Os medicamentos que faltam estão em processo de compra”, Bruno tranquiliza.

O cenário mais grave em todo o tratamento oncológico é o da radioterapia. A rede não foi ampliada nos últimos anos de acordo com o crescimento e a necessidade da população. A OMS recomenda a existência de uma máquina para cada meio milhão de habitantes. Pela SES-DF, no entanto, existem apenas três disponíveis, que atenderiam 1 milhão e meio de pessoas, ou seja, a metade da população da capital. Para agravar a situação, os aparelhos não trabalham com o desempenho máximo. Por serem muito antigos, é difícil encontrar manutenção. “O funcionamento é confiável, porque a cada dia o físico responsável faz medidas. Mas não podemos tratar muitos pacientes e trabalhamos com mais ou menos a metade da capacidade. A fila já supera 900 pessoas atualmente”, lamenta Bruno.

Mas, este ano, há pelo menos uma boa notícia. A fila de pacientes aguardando consulta em oncologia clínica chegou a zero. “Sabemos que não quer dizer que o paciente vai ser tratado, mas é uma vitória que precisa ser registrada. Sem a consulta, o paciente fica em casa, ansioso, sem saber qual a chance de cura, enquanto a doença progride. Quando ele entra no consultório, as perguntas são respondidas e alguns sintomas começam a ser tratados, além de conseguir a prescrição do tratamento”, comemora.

No começo deste mês, os deputados da Comissão tiveram uma audiência de quase duas horas com o governador e representantes da SES-DF para encontrarem, juntos, formas de amenizar as carências. “O secretário disse que era questão de orçamento, então, conseguimos fazer um remanejamento de crédito de R$ 35 milhões para o Hospital de Base”, explica o deputado Reginaldo Veras.

A verba será destinada, principalmente, para quitar as dívidas com os fornecedores de remédios, comprar novos medicamentos, garantir a manutenção dos equipamentos de radioterapia, concluir a instalação do pet-scan, além de contratar clínicas particulares em caráter emergencial para atender a população que depende urgentemente do serviço público. “Estamos otimistas. Agora, é fiscalizar cada passo”, garante o deputado.

Obviamente, o dinheiro soluciona alguns problemas, mas outros não são resolvidos apenas com o auxílio financeiro. Para instalar o pet-scan, por exemplo, é preciso um projeto de engenharia. “Esperamos lançar um edital em 30 dias para contratar prestadores de serviço privados, mas é caro e a expectativa de oferta de vagas é pequena”, afirma.

Há planos de dar início a obras e recuperar os centros de tratamento já existentes, além de criar o Hospital Oncológico de Brasília. O projeto, em parceria com o Ministério da Saúde, existe desde 2012, e a expectativa é de que a licitação saia ainda este ano. A equipe que desenhou o projeto é a mesma que participou da construção do Icesp e da ampliação do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Será uma referência regional, com capacidade para fazer no mínimo 5 mil cirurgias por ano. Serão 162 leitos, sete salas para cirurgia e uma para emergências, com a capacidade total de absorver mais 2 mil pacientes. Continuaremos com os atendimentos no Hospital de Base e no Hospital Universitário, mas a pressão vai diminuir bastante”, prevê. Se tudo correr bem, a expectativa é que o hospital esteja funcionando em, no mínimo, três anos. “Temos a perspectiva de que, daqui a quatro ou cinco anos, tenhamos uma assistência oncológica decente, no nível que a população deseja e espera.”

Fonte: Abramge




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