Análise Preditiva: a Aplicação “Killer” de Big Data em Saúde
13/06/2016

Nesse cenário da Saúde do futuro temos uma série de componentes que serão muito importantes na transformação da medicina, a saber: inteligência artificial (que inclui “machine learning” e “deep learning”) [2], telemedicina [2.1], genômica, edição de gene [3], microbiome [3.1], medicina personalizada [4-5], impressão 3D, diagnóstico digital [6], sistemas de “cloud”, entre outros.

Um componente tecnológico que será muito importante no futuro da Saúde é o “dado” [6.1]. Simples assim! Nos próximos anos o “dado” vai ajudar a transformar a Saúde fazendo com que os 90% dos dados não-estruturados hoje existentes nesse setor – e que não são utilizados – sejam transformados em informação estratégica e, consequentemente, utilizados. Essa é a visão estratégica da Sra Ginni Rometty que vem a ser a CEO da IBM [7]. O “dado” será muito importante na “eficiência operacional” das organizações (incluindo as de Saúde) [7.1].

O “novo tempo” da importância do “dado” na Saúde traz à baila o conceito de “Data-driven Healthcare” (ou “Saúde Orientada a Dados”) [8-9]. O dado médico é (e será mais ainda) um “tópico muito quente” para os investidores e para inovação de produtos e, a recompensa, será uma melhor saúde, com certeza!

Entre alguns exemplos de dados não-estruturados na saúde temos: imagens (p. ex., mamografia), campo de Observações/Notas (“EHR Notes”) dos PEPs (Prontuários Eletrônicos dos Pacientes), Exames Médicos de Pacientes (que normalmente estão no formato .Doc ou .Pdf), PEPs manuscritos e outros documentos ou relatórios manuscritos de saúde. Cabe ressaltar, que no Brasil acreditamos que muitas organizações de saúde ainda possuem prontuários de pacientes não automatizados, o que complica mais ainda mais a situação!

A nova realidade da relevância do “dado” na saúde destaca a importância da NOVA tecnologia de Big Data (com seus algoritmos de “machine learning”). Big Data está atualmente presente em vários segmentos da Saúde [10] mas nós compartilhamos uma visão com vários analistas de mercado que a aplicação “killer” de big data é a Análise Preditiva [11] (ou “data analytics” [12]). Para mais detalhes da tecnologia de Big Data em Saúde ver as referências [12.1] e [12.2].

A tecnologia de Big Data traz – agora – a oportunidade de explorar novos modelos de negócios na saúde de forma geral [12.3] e, notadamente, a Análise Preditiva nos possibilita explorar diferentes “ofertas” de novos negócios no segmento de Saúde. A Análise Preditiva permite explorar ofertas de Saúde Preventiva – a partir de dados estruturados e não-estruturados – que sem ela não seria possível! Segundo o analista de indústria McKinsey o negócio de Saúde tinha um orçamento de 2 TUS$ em 2013 e o negócio de Big Data girava em torno de 375 BUS$ (em média) e a grande maioria desse valor é “prevenível”. É aqui então que temos uma grande oportunidade para utilizarmos os algoritmos de Análise Preditiva [13] para prever doenças na população e, consequentemente, reduzir custos na Saúde.

Com evolução da tecnologia na Saúde temos um ponto importante: a partir de agora, cada pessoa individualmente vai querer uma ação personalizada de saúde para ela e não para outra pessoa qualquer. Isso é um grande efeito motivador quando conseguimos “prever” a doença (ou doenças) a que ela pode ser submetida [14]. Aqui temos um grande diferencial para reduzir o custo da saúde se ampliamos o foco dessa prevenção para uma população em vez de uma pessoa isolada apenas! Um exemplo: hoje temos um percentual de 7% de pacientes na população brasileira que sofre de Diabetes Tipo 2 [14.1]. Em dez anos a expectativa é que esse percentual suba para 15%. Imagine então quanto o custo do tratamento da doença Diabetes Tipo 2 poderia ser reduzido se utilizássemos a tecnologia de Big Data para ajudar às pessoas a não se tornarem pacientes dessa morbidade, ou melhor, não deixar uma pessoa Pré-Diabética tornar-se Diabética Tipo 2. Uma quantidade gigantesca de recursos poderia ser economizada apenas em uma doença crônica, se ampliamos o foco dessa prevenção para uma maior quantidade de pessoas.

A ação preventiva na identificação de doenças é muito importante na área da Saúde. Considere um algoritmo que avalias os aspectos do comportamento de saúde de uma pessoa a partir dos seus dados médicos e do uso de medicamentos para definir as suas rotinas particulares de exercícios físicos e de alimentação. Os técnicos de Big Data já estão trabalhando em programas computacionais que podem ser aptos para prever se a pessoa passará parte do ano que vem saudável ou no hospital onde um tratamento mais caro de saúde é prestado. A Modelagem Preditiva (baseada na Análise Preditiva) vai permitir que operadoras de saúde, médicos e empresas de “bem-estar” (“wellness”) desenvolvam planos de ação (intervenção) com os pacientes. Esses desenvolvimentos não somente reduzem os custos de saúde como também salvam vidas. Em 2020, nos EUA muitas morbidades crônicas (Cardíaca, Diabetes Tipo 2 e Câncer) serão provocadas pela obesidade. Os especialistas americanos em saúde esperam que em 2020 a obesidade mate mais nos EUA que o cigarro! [14]. Os EUA gastam 17% do seu PIB em Saúde mas não significa que seus resultados nessa área não sejam algumas vezes piores do que de outros países desenvolvidos. Nesse cenário, muito poderia estar sendo feito utilizando a Modelagem Preditiva!

A seguir destacamos 03 casos de Modelagem Preditiva na saúde, a saber: Reospitalização (ou reinternação) de Pacientes com ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva), Prevenção da Diabetes e Prevenção na Insuficiência Renal, a saber:

(a) Reospitalização de Pacientes com ICC

Um caso interessante de Análise Preditiva utilizando algoritmos de Big Data é aquele para reduzir o risco de “reospitalização” (retorno ao hospital de um paciente por causa da mesma enfermidade) de pacientes com ICC. A doença de ICC tradicionalmente é uma morbidade de alto custo. Nos EUA, o total das reospitalizações em geral é de 20% em 30 dias e de 32% em 60 dias. Em termos apenas de ICC, temos que 25% das reospitalizações são de ICC. Adicionalmente, em termos gerais, o custo de reospitalizações por ano nos EUA representam um custo de 17 BUS$ e a grande maioria de 76% das reospitalizações poderiam ser evitadas (sic!).

A estimativa do risco de reospitalização de pacientes de ICC tem sua Análise Preditiva elaborada a partir de algoritmos de “machine learning”.

Para implementar a Modelagem Preditiva nesse caso, as variáveis de risco (ou “preditoras”) utilizadas nos algoritmos segundo a referência [15] são: variáveis demográficas, testes de laboratórios, sinais vitais, “comorbidades” e parâmetros de internação/reospitalização.

Para mais detalhes desse caso de reospitalização de pacientes de ICC acessar as referências [15-17].

(b) Prevenção da Diabetes

Quem trabalha com Saúde sabe que a Diabetes é uma doença “silenciosa” mas de um potencial destrutivo gigantesco quando não controlada. A Diabetes é uma enfermidade que tem graves consequências para a saúde dos pacientes: cegueira, amputação de membros, impacto em insuficiência cardíaca e/ou renal, entre outras. Quando o quadro clínico evolui para uma situação aguda, o custo do tratamento do paciente cresce muito e impacta nos resultados das Organizações de saúde.

A Diabetes é hoje uma enfermidade em ascensão no mundo. Calcula-se que a nível mundial 382 milhões de pessoas sofrem dessa doença e espera-se que em 2035 em número suba para 592 milhões de pessoas. Noventa por cento dos casos de Diabetes correspondem a Diabetes Tipo 2 [18]. A rápida urbanização e a mudança nos hábitos alimentares, combinadas com o estilo de vida progressivamente sedentário, têm causado uma ampla propagação da Diabetes Tipo 2 e o seu aumento recente nas últimas décadas. Em resumo: hábitos pouco saudáveis e pouco exercício físico! Com vimos acima, atualmente 7% da população brasileira sofre dessa enfermidade.

No caso da Diabetes Tipo 2 temos uma grande oportunidade de redução de custos operacionais quando gerenciamos antecipadamente os pacientes pré-diabéticos para que eles não se tornem diabéticos.

Para implementar a Modelagem Preditiva das pessoas pré-diabéticas com o potencial de se transformarem em Diabéticos Tipo 2 temos que escolher as principais variáveis de risco (ou “preditoras”) que comandam essa transformação (de pré para diabético).

No caso da Diabetes Tipo 2 esse gerenciamento deve ser feito com pacientes de um “grupo de risco” com síndrome metabólica que é um grupamento com 05 fatores de risco tais como: medida da cintura (e/ou peso), alta taxa de açúcar no sangue, pressão alta, alto nível de triglicerídeos e baixo nível de colesterol (“bom”) HDL. Uma pessoa com três ou mais desses fatores de risco é cinco vezes mais suscetível de desenvolver a morbidade Diabetes Tipo 2 [19].

Para se ter uma ideia, de como é muito importante o gerenciamento da comunidade pré-diabética, nos EUA atualmente para uma população de 324 milhões de habitantes, existem 29 milhões de Diabéticos Tipo 2 e 85 milhões de pré-diabéticos [20].

Dessa forma, para uma organização de saúde é importante desenvolver um Plano de Prevenção de Diabetes [21] integrado a uma estratégia de Big Data [19] e [22-23].

No futuro, a tarefa de monitoração dos pacientes diabéticos, e a consequente coleta do nível de glicose, será facilitado através das novas tecnologias de “monitoração contínua de glicose” [24-25].

(c) Prevenção na Insuficiência Renal

Uma outra morbidade também “silenciosa” (pelo menos no estágio inicial) similar a Diabetes é a Insuficiência Renal cujo a adoção de um Programa de Prevenção é muito “benvinda” pois impede que um paciente com Insuficiência Renal evolua para um quadro de Crônico Renal onde o custo do tratamento aumenta substancialmente por causa da necessidade de diálise rotineira ou de transplante. O estágio Crônico Renal é irreversível e de alto custo.

De maneira similar à Diabetes que vimos anteriormente, para implementar a Modelagem Preditiva das pessoas com Insuficiência Renal com o potencial de se transformar em Crônico Renal temos que escolher as principais variáveis de risco (ou “preditoras”) que comandam essa transformação do estágio da doença. Embora o estágio de evolução da Modelagem Preditiva da Insuficiência Renal ainda esteja menos desenvolvido que o caso de Diabetes que vimos anteriormente, já existem trabalhos científicos que estabelecem algumas variáveis “preditoras” [26-28]. Essas variáveis incluem o nível de ureia e creatinina mas pode também incluir outras variáveis. Na referência [28] temos uma abordagem de diferentes cenários de variáveis de risco. Um fato de destaque: Diabetes e Hipertensão são responsáveis por 2/3 dos casos de insuficiência renal. Outros movimentos de modelagem do risco de Insuficiência Renal constam das referências [29-30].

Recentemente, alguns pesquisadores manifestaram “explicitamente” o interesse no uso da tecnologia de Big Data para “tratar melhor” os pacientes com Insuficiência Renal [31]. A taxa de hospitalização de pacientes com Insuficiência Renal é alta (430 por 1.000 pacientes-ano). Mas se conseguimos identificar os pacientes com maior risco de serem hospitalizados por Insuficiência Renal, nós temos como concluir quais os principiais fatores preditivos que levam ao declínio das hospitalizações.

Para mais detalhes de Programas de Prevenção de Insuficiência Renal ver as referências [32-33].

Destacamos aqui apenas 03 casos – a título de exemplo – da utilização da tecnologia de Big Data em Saúde Preventiva mas diversos outros podem ser explorados.

Finalmente, pelo que vimos acima, existe – ainda – um caminho longo a ser percorrido no uso da tecnologia de Big Data na Análise Preditiva em Saúde. Esse investimento pode ser fundamental na redução dos custos das doenças crônicas pois, com o uso da Modelagem Preditiva baseada em algoritmos de Big Data, poderemos apostar mais em ações de Saúde Preventiva em vez de “ficar apagando incêndio” das doenças crônicas e reclamando do aumento em “espiral” dos custos da Saúde!





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