O conservadorismo do profissional de medicina é visto como obstáculo ao avanço mais rápido na adoção de tecnologias da informação e comunicação (TICs) em hospitais e consultórios. Já para os hospitais - públicos ou privados - o uso dessas ferramentas é indispensável para melhorar o desempenho e ganhar eficiência.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), não há números oficiais sobre a utilização do prontuário eletrônico do paciente (PEP) no país. Mas a estimativa é de que, até 2012, menos de um terço dos hospitais tinham algum tipo de sistema de informação. Desses, menos de 5% utilizavam o PEP.
Entre as exceções está o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul que, desde a década de 1980, passou a automatizar processos. Lá, o PEP foi implantado e passou a integrar diversas áreas do hospital em meados da década de 1990. Iniciativa semelhante foi tomada na rede pública do Distrito Federal, integrada por 12 hospitais, mais de 30 centros de saúde e cerca de 20 laboratórios. No DF, a implantação do PEP começou em 2007, no Hospital Regional do Gama.
Hoje, mais de 2,5 milhões de pessoas têm seu histórico médico registrado no sistema (consultas, diagnósticos e exames realizados). Resultado: com o armazenamento eletrônico, os gastos com exames e remédios caíram pela metade.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo iniciou um processo para também se tornar referência em TI na área de saúde. "O HC precisa ter uma TI do tamanho e com a maturidade que a instituição precisa", afirma o engenheiro Jacson Barros, diretor coordenador de TI do Núcleo Especializado em Tecnologia da Informação do HCFMUSP. Todos os prédios do quadrilátero do HC (oito institutos, dois hospitais auxiliares e 62 laboratórios de investigação médica) são interligados por fibra óptica. Há oito anos, foi implementado um anel óptico redundante que suporta a comunicação de seus quase 20 mil funcionários, entre os quais de três a quatro mil médicos.
"Quando assumimos, em 2011, os maiores desafios eram prover os serviços essenciais, correio eletrônico, segurança e compartilhamento de serviços", conta Barros. Isso para não falar da falta de interoperabilidade dos sistemas instalados. Foram adotados alguns pilares estratégicos: reutilizar o que havia de bom dentro de casa e ir ao mercado, sem procurar reinventar a roda; não desenvolver software in house e reestruturar a gestão. O projeto foi desenhado em 2011 e a implantação do sistema de gestão começou em janeiro deste ano. Levará 36 meses para finalização.
Quanto ao atendimento dos 3,8 mil usuários de e-mails, a disponibilidade per capita passou de 25 Mbps para 30 Gbps, e o correio eletrônico está na nuvem do Google, enquanto as ferramentas de colaboração dispõem do Google Apps. A segurança é garantida pela adoção do Single sign-on (SSO), uma ferramenta de controle de acesso, independente dos softwares existentes. Com o SSO (integrado ao Google Apps), o usuário faz login uma única vez e tem acesso a todos os sistemas disponíveis no HC, sem precisar de nova senha para entrar em cada um deles. "Uma identidade digital (ID) única, que pode ser 'apagada', caso seu portador saia do HC", explica Barros. Há, ainda IDs eventuais para convidados.
Hoje, equipamentos como monitores, desfibriladores, aparelhos de ultrassom, entre outros não são mais exclusivos de UTIs. Podem ser incorporados à beira do leito do paciente, informa Eliezer Silva, gerente médico de pacientes graves do Hospital Albert Einstein. Mais: um eletrocardiógrafo portátil na casa do paciente pode enviar sua imagem ao hospital via iPhone, afirma Ricardo Santoro, diretor de TI do Einstein.
O Hospital Vitória (grupo Amil), de São Paulo, optou pela modernização desde o layout do prédio, passando pelo atendimento integrado por meio do prontuário eletrônico do paciente, utilização de tablets e do servidor PACS - Picture Archiving and Communication System (sistema de comunicação e arquivamento de imagens). O pediatra Luiz Cervone, diretor médico do hospital, conta que a implementação da rede Wi-Fi começou pela UTI de adultos, seguiu para a infantil, depois para a neonatal. Em seguida, a expansão incluiu os 11 pavimentos do edifício e o pronto socorro. "Tudo isso nos transformou em um hospital sem papel. Ganhamos em segurança e agilidade", garante.
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