Um estudo apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago, sugere que a quimioterapia intraperitoneal (IP) é uma abordagem ainda pouco utilizada no tratamento de câncer de ovário. Os cientistas pretendem usar a via intraperitoneal para reforçar a ação da quimioterapia.
Uma injeção intraperitonial (na membrana que envolve os órgãos e vísceras do abdômen) significa uma entrega “expressa” da droga, sem ter de passar antes pela corrente sanguínea.
Segundo pesquisadores do Canadá, Reino Unido e EUA, ao diversificar a abordagem e aplicar um quimioterápico dessa maneira, além da via intravenosa, pacientes tiveram melhores resultados em um protocolo de tratamento de câncer de ovário em estágio avançado. O tratamento final era cirúrgico e a quimioterapia precedia a operação.
A pesquisa envolveu 275 mulheres com idade média de 62 anos, que foram acompanhadas entre 2009 e 2015.
Entre as pacientes que combinaram tanto a forma tradicional de aplicação do medicamento (intravenosa) com a intraperitonial, após nove meses apenas 23,3% apresentaram progressão da doença. Já as mulheres que só realizaram o tratamento intravenoso (padrão), 42,2% tiveram um avanço da doença nove meses após a cirurgia. A explicação dos investigadores para a combinação intravenosa-intraperitonial seria a possibilidade de uma quantidade maior da droga alcançar o tumor. Uma segunda via para cercar o alvo a ser eliminado.
A média de sobrevida livre de progressão foi semelhante entre os dois grupos: 11,3 meses para tratamento de quimioterapia e 12,5 meses para o tratamento em combinação. A taxa de efeitos colaterais graves foi menor entre mulheres que receberam a terapia com quimioterapia intravenosa e intraperitoneal (16%, em comparação a 23% da tradicional), mas a diferença não é estatisticamente significativa.
Por ser um estudo de fase 2, – não é conclusivo ao ponto de poder recomendar a abordagem atual de tratamento –, Helen Mackay, líder do trabalho e médica do Sunnybrook Odette Cancer Centre em Toronto, afirma que o objetivo é compor um cenário, junto com outros estudos semelhantes, de novas possibilidades de abordagem no tratamento de casos avançados de câncer.
“Mesmo sem o poder estatístico para avaliar a sobrevivência, nosso estudo informa como incorporar o tratamento quimioterápico intraperitonial por mulheres com câncer de ovário seguida por cirurgia”, declarou Helen Mackay, no Asco 2016. O índice de efeitos colaterais foi semelhante e não houve indício de maior toxicidade no grupo de terapia combinada.
Em reportagem do jornal Folha de São Paulo, o oncologista clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Jacques Tabacof, afirmou que “alguns estudos mostram benefícios, mas em outros, poucas pessoas conseguiram completar o tratamento. Como esse estudo atual foi feito com poucas pacientes, temos de ter cautela ao extrapolar”, alertou. “É uma quimioterapia que dói, feita com um catéter que entra na barriga. Tem mulheres que não toleram. A distribuição da droga nem sempre é tão homogênea quanto gostaríamos. A vantagem seria a de dar um ‘banho’ nas células, valendo-se da proximidade com o tumor, mas é ainda um tema controverso”, completou.
Estima-se que 239 mil novos casos de câncer de ovário sejam diagnosticados anualmente. No Brasil, dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontam para 6 mil casos anuais, sendo que cerca de metade resulta em mortes.