O Roteiros da Saúde, evento itinerante promovido pelo Sistema Fehosul (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul), teve mais duas edições realizadas nos dias 1 e 2 de junho, nas cidades de Ijuí e Santa Maria, respectivamente. As atividades foram promovidas em parceria com o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde da Região Serrana, presidido pelo advogado e administrador hospitalar Fernando Scarpellini Pedroso; e com Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde da Região Centro, presidido pela médica Ana Maria Zimmermann.
Os encontros do Roteiros da Saúde são voltados especificamente para dirigentes e lideranças de hospitais, clínicas e laboratórios filiados ao Sistema Fehosul, e oportunizam a troca de informações e o conhecimento das demandas dos prestadores de cada região.
Ijuí e Santa Maria
Nas duas atividades, a gerente de relacionamento com o mercado, administradora hospitalar Shirlei Gazave, apresentou os serviços e produtos da entidade e a nova configuração da área de ensino e pesquisa da Fehosul. A Faculdade de Tecnologia em Saúde (Fasaúde), braço educacional da entidade patronal, mereceu especial atenção na explanação. “Este movimento é a concretização da área de aprendizagem vinculada ao setor da saúde, cumprindo com o nosso compromisso como Federação representativa no âmbito do desenvolvimento dos nossos profissionais”, disse Shirlei Gazave.
Cursos de graduação, pós-graduação e extensão são ofertados com condições especiais – inclusive gratuidades -, aos colaboradores das entidades filiadas à Fehosul. Está prevista ainda, o lançamento da área de pesquisa e estudos de mercado, que irá desenvolver indicadores para diferentes segmentos do setor, como oncologia, hemoterapia e análises clínicas, dentre outras.
O advogado José Pedro Pedrassani e o diretor-executivo, médico Flávio Borges, apresentaram tendências e informações consolidadas sobre o mercado, principalmente relacionadas às negociações com operadoras de planos de saúde, Ipergs, sindicatos profissionais e Secretaria Estadual da Saúde (SES); além de aspectos jurídicos que impactam a atuação e a sustentabilidade dos prestadores de saúde no Estado.
José Pedro Pedrassani falou sobre insalubridade, jornada de trabalho e negociação com os sindicatos dos trabalhadores da saúde. “A crise está aí, se acentuando. Tentamos seguir em uma linha de negociação clara e aberta com os trabalhadores, que mostre as perdas dos prestadores e a necessidade de buscarmos a manutenção dos empregos, como prioridade”, disse o advogado da Fehosul.
Sobre o Ipergs, Flávio Borges disse que a “parametrização gera 10 milhões de reais de economia para o Ipe-Saúde, mas prejuízos para os prestadores”. Existem práticas que não têm correspondência com a realidade, que geram seguidamente glosas. “Se está escrito que para um paciente deve ser utilizado 4 fraldas, mas ele usa 10, o Ipe-Saúde somente paga as 4, por exemplo”. Estamos conversando com a direção da autarquia, já que esta deficiência impõe uma condição injusta para os prestadores.
Flávio Borges destacou: “o Ipergs não reajusta há cinco anos, mas estamos conseguindo adicionar serviços que antes ainda não estavam no rol”.
O executivo também abordou o tema PRM (Preço de Referência de Medicamentos), proposto pela Fazenda do RS. Se for adotado no Ipergs, a totalidade dos hospitais que trabalham para o Ipe-Saúde, terão dificuldades imensas, quase intransponíveis, em manter a prestação dos serviços. “Alguns hospitais quebrarão. Em taxas e diárias não nos remuneram como deveriam. Aceitamos construir um novo modelo que contemple o equilíbrio financeiro no contrato, com reajustes periódicos ou compensação remuneratória para não ocorrer as perdas”, defendeu. Para Flávio Borges, outra consequência da adoção deste modelo, que levou em conta apenas a questão técnica e desconhecendo a realidade assistencial; é a perda da rede de prestadores, que deixarão de atender o Ipergs em virtude da adoção do PRM como proposto pela Fazenda. “Seria no mínimo um erro para a imagem do governo junto aos servidores e seus familiares.”
Em relação ao SUS, Flávio Borges alertou que o setor de hemodiálise está recebendo apenas 60% dos seus custos efetivos. “Duas clínicas fecharam no interior recentemente, obrigando pacientes a se deslocaram a cada três dias para as sessões em localidade distantes. Estamos mostrando ao governo isto, dialogando com a Secretaria da Saúde. É uma situação que nos preocupa muito. Com o Ipergs, avançamos com a adoção do valor da sessão de R$ 286 a partir de maio, o que foi uma conquista nossa e do grupo de Nefrologia da Fehosul.”
Assim como está ocorrendo com a nefrologia, análises clínicas e outras especialidades, Flávio Borges disse que os avanços somente acontecem com a mobilização das lideranças. “As especialidades precisam ter claro as suas necessidades, para podermos apresentar as demandas. O conteúdo deve estar suficientemente forte e bem amparado. As questões têm que ser trazidas pelas bases para que a Fehosul possa apresentar um material conciso e sermos incisivos para exigir uma tomada de decisão”.
A viabilidade do Ipergs também foi pauta dos encontros. “O Ipergs é viável? Sim definitivamente. O que falta é gestão, e esta direção está dando sinais de que está melhorando este quesito. Pela primeira vez na sua história, a autarquia está fazendo cálculo atuarial, cumprido o que rege a lei. Há imóveis pertencentes ao Ipe-Saúde, subutilizados, que estão sendo avaliados para venda. O risco é a crise do Estado, que pode atingir a autarquia. Hoje, apesar dos problemas de falta de reajuste, recebe-se em dia”, completou o dirigente da Fehosul.
Nas duas atividades, as mais de três dezenas lideranças que estiveram presentes puderam dialogar e fazer perguntas aos especialistas da Fehosul e de seus Sindicatos.
O Roteiros da Saúde já visitou 13 cidades deste 2014 (Bagé, Camaquã, Canoas, Caxias do Sul, Cruz Alta, Erechim, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Tramandaí). Canoas e Santa Maria já receberam duas edições, totalizando 15 no total. A próxima atividade ocorrerá no final do mês, provavelmente na cidade de Livramento, na fronteira com o Uruguai, e subsequentemente nova edição em Pelotas.