Mais do que o custo financeiro de uma visita ao médico, há também o tempo gasto em uma consulta, dentre deslocamentos – que podem ser longas viagens –, tempo na sala de espera que pode levar várias horas e muitas vezes interrompe o trabalho ou os estudos.
Como aponta um artigo do jornal The New York Times, “apenas 17% desse tempo (20 minutos, em média) é gasto realmente com a consulta médica, de acordo com um estudo da Universidade de Pittsburgh liderado pela médica Kristin Ray e colegas da Harvard Medical School e da RAND Corporation, empresa de pesquisa e análise dos EUA”.
Segundo o jornal, “em um ano, os norte-americanos gastam 2,4 bilhões de horas visitando o médico. Avaliando em média salarial, equivale a mais de US$ 52 bilhões – referente ao tempo total de trabalho e renda de 1,2 milhões de pessoas. Em média, paga-se US$ 32 em uma consulta (operadoras de planos de saúde pagam quase US$ 250). Mas separadamente, ao valor do nosso tempo acrescenta-se mais US$ 43”, de acordo com estudo da Dra. Ray.
Para certos tipos de serviços, há uma maneira melhor. “Muito tempo depois de a comunicação eletrônica e a tecnologia terem revolucionado outras áreas (como pagamentos de contas e reservas de viagens, por exemplo), emails, telefonemas, vídeoconferências e outras aplicações da telemedicina estão gradualmente complementando ou substituindo alguns tipos de consultas”.
A telemedicina mantém a promessa de recuperar um pouco desse tempo perdido, além de outras vantagens. “A assistência prestada desta forma não requer viagens, e se é preciso esperar pela consulta, é possível que isso seja feito em casa ou no trabalho, não em um consultório”. Em uma era repleta de reuniões por videoconferências via ferramentas como o Skype, pacientes estão começando a esperar por um acesso mais conveniente. “A grande maioria dos pacientes relatam que querem ser capazes de se comunicar com seus médicos por email. Talvez por essa razão, o mercado da telemedicina está crescendo rapidamente”, enfatiza o The New York Times.
Algumas seguradoras estão acolhendo a telemedicina. A Kaiser Permanente, do Norte da Califórnia, oferece aos seus pacientes de 10 a 15 minutos de consultas via telefone, bem como um site seguro onde os pacientes podem trocar mensagem com seus médicos”. Metade das visitas são virtuais, e 80% dos casos de dermatologia envolvendo erupções são resolvidos através da comunicação digital. “O crescimento da telemedicina no Programa de Administração de Veteranos (Veterans Health Administration’s – programa de assistência a veteranos de guerra) está ligado à redução do tempo gasto por pacientes no hospital. O número médio de dias para agendar uma consulta caiu 31% em uma comunidade rural do Alasca, depois que os serviços de otorrinolaringologia foram fornecidos por telemedicina”.
A telemedicina pode ser mais conveniente para os pacientes. Mas será que piora a prestação de serviço em si? “A pesquisa indica que, no conjunto, não é. Um estudo publicado em 2015 descobriu que pacientes com insuficiência cardíaca que foram atendidos via telemedicina e vieram a morrer, não tinham taxas mais elevadas do que aqueles que não foram tratados por esse método. Os resultados foram os mesmos para a saúde mental, abuso de substâncias e dermatologia, em comparação entre aqueles que usaram a telemedicina e os que seguiram os meios tradicionais”.
A análise também constatou que a telemedicina ajudou diabéticos a manterem um melhor controle de açúcar no sangue, diminuírem o colesterol e a pressão arterial. “Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes”, salientou o artigo.
A telemedicina pode também levar o atendimento a localidades mais remotas. “Certos tipos de AVCs são efetivamente tratados com medicamentos intravenosos, anti-coagulantes que exigem perícia para a administração correta. Essa experiência não está disponível em alguns hospitais rurais, mas pode ser transmitida por videoconferência para os médicos do departamento de emergência. É chamado de ‘telestroke’, e um estudo de 2010 revelou que a medida é capaz de reduzir a mortalidade”.
A telemedicina não pode, contudo, cuidar de cada problema de saúde. “Os médicos muitas vezes precisam de uma consulta de perto, para examinar presencialmente os pacientes. Mas uma revisão de prontuários de pacientes descobriu que 38% das visitas pessoais, incluindo 27% dos atendimentos de urgência, poderiam ter sido substituídos pela telemedicina”.
Naturalmente, alguns médicos e enfermeiros podem estar relutantes em oferecer tal serviço, pela preocupação de que receberão inúmeros emails e telefonemas que não serão compensados financeiramente, alguns dos quais podem não ser clinicamente relevantes. “No entanto, uma pesquisa com médicos que usaram mensagens eletrônicas com pacientes em um centro médico para veteranos, informou que o volume de mensagens foi administrável e o conteúdo era adequado, consistente com outros estudos”.
Outro obstáculo é que algumas operadoras resistem à telemedicina, talvez por temerem um aumento de custos para quaisquer benefícios adicionais de saúde. “A cobertura de seguros para a telemedicina é irregular. O sistema público dos EUA (Medicare) cobre apenas quando o paciente está internado em uma clínica do Interior ou em um hospital. Alguns planos de saúde, por outro lado, oferecem a telemedicina de forma mais ampla”.
Apenas 21 Estados dos EUA exigem que as seguradoras privadas cubram consultas por vídeo, mas muitos não o fazem. Programas estaduais variam no pagamento da telemedicina, e os Estados são inconsistentes em permitir que os médicos de fora do Estado ofereçam serviços de telemedicina. Há debates contínuos sobre a possibilidade de expandir a cobertura de telemedicina, e os grupos médicos estão considerando questões éticas e de riscos de responsabilidade.
O maior obstáculo pode ser as juntas médicas estaduais. “O licenciamento médico em Idaho pune o médico que prescrever um antibiótico por telefone, multando em US$ 10 mil e proibindo o profissional de fornecer telemedicina. As leis estaduais que restringem a telemedicina – por exemplo, exigindo que os pacientes e os médicos tenham estabelecido relações pessoalmente – têm gerado processos”. Na Georgia, a categoria médica requer uma consulta em pessoa antes de permitir a telemedicina, enquanto em Ohio isso não acontece.
Um estudo realizado por Julia Adler-Milstein, professora assistente na Faculdade de Informação e na Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan, descobriu que tais leis estaduais e respectivos requisitos influenciam a extensão do uso da telemedicina em hospitais. “Enquanto 70% ou mais, dos hospitais, em Maine, Dakota do Sul, Arkansas e Alasca utilizam a telemedicina, apenas 13% em Utah e nenhum em Rhode Island fazem o mesmo”, exemplifica o texto.
Ao abordar a hesitação das instituições em adotar a telemedicina, David Asch, um médico da Universidade da Pensilvânia, salientou que a inconveniência do atendimento frente a frente limita o seu uso, mas de forma arbitrária e invisível. “Os custos de espera e tempo de viagem e os custos das populações de regiões mais remotas com pouco acesso aos cuidados presenciais não aparecem nos livros de registros. A inovação que a telemedicina promete não está apenas em fazer a mesma coisa remotamente” salienta o Dr. Asch. Na verdade “nos desperta para as muitas coisas que nós pensamos serem necessárias no contato frente a frente, mas na verdade ainda não fazemos”, conclui.