Ano passado, inflação médica foi de 19,5%, maior índice desde 2007. Alta superior ao IPCA obriga empresas a rever planos e empurra mais pessoas para o SUS.
Por João Guilherme Frey
O custo da saúde privada deve pressionar ainda mais o custo da saúde pública no país. Ano passado, a inflação médica bateu em 19,5%, quase o dobro dos 10,71% medido pelo IPCA, que determina a inflação geral do país. Foi a maior variação desde 2007. Para este ano, a previsão é similar: 20% de inflação médica, quase o triplo do IPCA projetado.
O resultado é um efeito em cadeia sobre empresas e usuários. As operadoras de planos de saúde precisam fazer esforços de redução de gastos, as empresas que as contratam buscam renegociar as condições e os beneficiários têm de arcar com uma fatia maior desse custo.
Nos últimos quatro anos, o custo médio mensal per capita de planos de saúde empresarial saltou 42%, de R$ 158,42 para R$ 225,23. Atualmente, as empresas que oferecem assistência saúde gastam o equivalente a 11,5% da folha de pagamento para sustentá-la. Como o percentual tende a crescer, muitas companhias têm buscado formas de reduzir esse gasto. As principais soluções têm sido a negociação de contratos, que inclui a busca de planos mais em conta, e o aumento do compartilhamento das despesas com os funcionário, que pagarão mais em coparticipação. Em outra frente, as empresas começam a investir em iniciativas de saúde preventiva.
“As empresas chegaram no limite da economia, então a bola da vez são os programas de gestão de saúde”, diz Francisco Bruno, consultor da área de saúde corporativa da consultoria Mercer Marsh Benefícios. Segundo ele, atualmente, apenas 20% das empresas adotam programas com foco na prevenção e manutenção da saúde dos funcionários.
Outro efeito da alta dos custos é que os planos individuais e familiares, com preços regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, estão sumindo do mercado. Nesses planos, o reajuste tem ficado abaixo da inflação médica, tirando o interesse de quem os oferece.
“Muitas operadoras nem têm oferecido planos individuais. Elas constatam que estão tendo prejuízos nesta carteira e em uma atitude racional deixam de oferecer o produto”, relata Antônio Carlos Abbatepaolo, diretor executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde.
SAÚDE SUPLEMENTAR
Os planos coletivos empresariais, cujo reajuste não está submetido ao teto estipulado pela ANS, cresceram mais de cinco vezes desde o ano 2000, enquanto os planos individuais, que dependem de autorização da ANS para serem reajustados, cresceram apenas duas vezes no mesmo período.
MAIS GENTE NO SUS
Neste ano, o setor de saúde suplementar viu sua carteira de clientes diminuir 2,7%, com a saída de 1,3 milhão de usuários, em grande parte pessoas que perderam o emprego com o benefício. A maior parte dificilmente entrará em planos individuais, caros e com pouca oferta – hoje, quase 80% do mercado, que tem 48,8 milhões de clientes, se concentra em planos empresariais, que não têm preços regulados. Um fenômeno que aumentará a demanda por serviços no SUS.
SISTEMA VICIADO
Hospitais forçam consumo para aumentar fatura, diz pesquisa Para o superintendente do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, toda a cadeia de saúde está orientada para o consumo em excesso. “O sistema hospitalar, de conta aberta, leva os hospitais a gerarem o máximo possível de consumo para elevar a conta paga pela operadora de plano de saúde”, afirma. Essa informação aparece em uma pesquisa do Insper encomendada pelo IESS para avaliar falhas no setor. O estudo diz que os sistemas de remuneração da prestação e serviços médicos incentivam o desperdício e o pouco cuidado com relação à eficácia e os custos de produtos e procedimentos.
“Não adianta incorporar uma tecnologia altamente dispendiosa que não traz benefícios para a saúde das pessoas. São mudanças sem efeitos perceptíveis nos resultados, mas de efeito dramático na multiplicação de preços”, diz o diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar, José Cechin.