Saúde ainda não entrou na era digital como outros segmentos
Greg Caressi, da Frost&Sullivan, falou sobre “consumerization of healthcare”
23/05/2016
Saúde ainda não entrou na era digital como outros segmentos
 

O economista Greg Caressi, da Frost&Sullivan, empresa presente em mais de 20 países, que desenvolve análises e perspectivas para identificar oportunidades, acredita que o mercado da saúde ainda apresenta barreiras importantes a serem transpostas no campo da eHealth.

A saúde ainda não conseguiu entrar na era de entrega de valor para o consumidor que utiliza as novas tecnologias. “A informação não é algo fácil de se conseguir na saúde. Não é uma indústria que é amigável ao consumidor”, comparando com outros segmentos de serviços como restaurantes e agendamento de voos. Ele falou sobre “consumerization of healthcare” (consumerização da saúde), na Hospitalar 2016, em programação da Hospitalar Digital Health, no dia 20, em São Paulo.

O especialista diz que ainda faltam soluções para atender as expectativas como consultas via internet ou agendamentos de consultas para o dia seguinte. “Não estamos atendendo estas necessidades, o que cria uma oportunidade para novos negócios”, explicou.

Greg Caressi elencou 3 elementos prioritários, baseado em pesquisas onde os consumidores indicaram o que queriam receber:

1) Conveniência – querem ver a agenda do médico e escolher um horário, e ocasionalmente, poder conversar com ele via internet

2) Engajamento – querem saber sobre a sua doença, ouvir especialistas e compartilhar experiências

3) Personalização – nem todos são iguais, querem ser diferenciados, o que cria a necessidade de customização

Nos dados apresentados, de diferentes estudos, 64% aceitam ter consulta por vídeo. “Acesso é mais importante do que ver pessoalmente o médico”. Outra informação apresentada foi a de que os consumidores não se importariam em ter seus dados em nuvem. Em outra pesquisa, fica claro, que mesmo nos Estados Unidos, 84% ainda não utilizaram telemedicina. Mas dentre aqueles que utilizaram a tecnologia, 86% acharam excelente ou muito bom.

Muitas vezes, os médicos criam barreiras para a não implementação das novas tecnologias. “Não quer dizer que você [médico] não vai nunca tocá-lo [paciente], mas é um complemento do atendimento”, defendeu Greg Caressi. Esta barreira poderia ser em decorrência do próprio ego do médico, que sente sua importância reduzida pela forma como é feita a consulta pela internet.

Compartilhamento

E na internet, como é utilizada as informações de saúde? Conforme apresentou o especialista, 90% acreditam nas informações compartilhadas nas redes sociais. As pessoas buscam desde sintomas, medicamentos, efeitos colaterais; a suporte emocional e troca de experiências com outros na mesma condição.

Os hospitais, por exemplo, perdem uma grande oportunidade para “dar um lugar pra eles [pacientes e familiares] criarem uma interação”, em um ambiente próprio para discussão.

Muitos aplicativos e wearables, como são chamados as tecnologias vestíveis como relógios que monitoram o batimento do coração, não passam de três meses de adesão, e depois de um tempo, deixam de ser utilizadas. Muitas vezes, por seus desenvolvedores não estarem enxergando os públicos corretos. O principal cliente, em alguns casos, são os pagadores, ou seja, operadoras e seguradoras que realmente terão um benefício com a monitorização das condições de saúde. “Os pagadores querem ter mais tempo de ´contato´ com os doentes crônicos. Monitorar e reduzir riscos. É preciso criarmos a sistemática correta para criar valor. Temos que vender para os pagadores, pois eles enxergam o benefício ou vantagem de forma mais clara”.

A doenças que apresentam mais oportunidades para criar soluções de monitorização são as crônicas, como diabetes e doenças do coração, assim como Alzheimer. Os médicos, mas principalmente as seguradoras, têm o maior interesse em reduzir os custos decorrentes de atendimentos tardios, que necessitem de longa permanência em hospital, ou um acompanhamento diário após a ocorrência de um AVC grave, por exemplo.

Monitorar dados de saúde e aconselhamento tipo coaching de saúde, são demandas latentes para pessoas com condições que requerem cuidados especiais também. “Mas cada um quer receber de forma diferente, uns de forma mais dura, outros com mais sensibilidade. Esta personalização é outra oportunidade para as empresas de tecnologia”.

“Mas as soluções devem ser amigáveis e menos complexas. Temos que integrar dados, deixar acessível a um maior número de pessoas”, finalizou o conferencista.

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