É interessante observar o quanto o “sigilo” pode ser fator de competitividade ou de “falência” dependendo da forma como é utilizado.
Neste momento estou ajudando 5 hospitais a redefinir alguns parâmetros de faturamento SUS, utilizando a técnica mais simples do mundo: o benchmark (ou comparação objetiva de produtos, se assim preferir). A técnica é bem simples: dado um procedimento, comparar como o hospital fatura este produto em comparação com a forma que outros vários hospitais o fazem.
A questão não é comparar preço – no caso do SUS o preço é sempre o mesmo – mas sim o que é lançado na conta. Chega a ser engraçado: a regra do SUS é a mesma, mas os hospitais faturam diferente … uns mais outros menos, ou seja, uns faturam adequadamente o código principal e os complementares, outros simplesmente ignoram os complementares.
A ignorância, na maioria das vezes, advém do fato de que o hospital não sabe que pode faturar, por mais incrível que possa parecer. Ao bater o ticket médio de um hospital em relação a outros, com a mesma tabela de preços e para o mesmo procedimento, chega-se a diferenças inacreditáveis: 30, 40 … 50 %.
Já comentei em diversos posts as várias razões que fazem os hospitais deixarem “dinheiro debaixo do tapete”, e de vez em quando sou abordado por alguém que diz que exagero – preciso mostrar casos reais para a pessoa verificar que não é uma opinião: é uma constatação.
Nos cursos GFACH tenho a oportunidade de demonstrar inúmeros cases. Estamos com inscrições abertas para 2 oficinas no meio do ano, por exemplo, e nelas os participantes conseguem não só verificar o quanto de verdade existe nisso, mas também como é importante e simples de se fazer o benchmarking. O mais interessante é que mesmo o hospital que se acha “o rei da cocada” porque para um procedimento seu ticket médio é maior que os demais, aprende que mesmo assim um ou outro item os outros hospitais costumam faturar e ele não, ou seja, seu ticket médio é maior, mas poderia ser maior ainda.
É o que está acontecendo no momento nos projetos que comentei estar participando: 1 dos 5 hospitais na média sempre fatura mais que os demais quando remete suas contas – é um hospital acima da média nos seus processos de faturamento, a ponto de eu já ter elogiado em outros posts – mas mesmo assim, em vários procedimentos analisados tem deixado de faturar alguns itens que aumentariam ainda mais seu ticket.
Acho que não é necessário dizer que se o que estou comentando é importante no SUS, onde a regra é única, na Saúde Suplementar o benchmarking é imprescindível, porque a quantidade e variedade das regras, tabelas de preços e tipos de lançamentos é infinitamente maior. Estamos iniciando preparativos para realizar um benchmarking completo e estruturado para grandes hospitais que atuam na saúde suplementar. Não é fácil, primeiro porque é necessário seguir uma metodologia prática, em que o produto final oriente de forma objetiva as mudanças na formação das contas.
E segundo, e mais importante, porque os hospitais “morrem de medo” de mostrar para os outros como faturam, porque acham que vão favorecer o concorrente, por isso comentei sobre a questão do sigilo. Fazemos o benchmarking onde os hospitais fornecem as informações, que são tabuladas em comparação com, no mínimo, mais 10 hospitais, e onde:
A questão do sigilo não para por aí.
Outro medo, completamente sem sentido, dos hospitais é o de suas informações serão “vendidas” para outros. Para eliminar este “medo absurdo” fazemos isso através de uma das mais renomadas, se não a mais renomada, instituição educacional, que atua como referência no segmento da saúde há anos.
Isso é apenas para que o hospital esqueça este “medo absurdo”, uma vez que se acha que estas informações são sigilosas deveria estar mais preocupado com o fato de que qualquer operadora de planos de saúde, ou qualquer empresa de auditoria de contas tem “escancaradas” estas informações de todos os hospitais com quem se relaciona … estas informações que o hospital acha que mantém sob sigilo.
Como vivemos uma época em que a retração do mercado está causando danos irreparáveis aos hospitais, buscar novos clientes para aumentar o faturamento é uma das coisas mais importantes para fazer no momento. Mas faturar adequadamente as contas do paciente que você já tem é tão importante quanto buscar novos clientes , nunca o benchmarking foi tão importante.