Polo de resseguro britânico inspira complexo no Rio
Valor Econômico
09/04/2013

Polo de resseguro britânico inspira complexo no Rio

Por Luciana Bruno | Do Rio
 
Divulgação / Divulgação
Gonçalves, da Bradesco Seguros, vê como fundamental o polo de resseguros no Rio

 

Há mais de 300 anos, comerciantes marítimos britânicos que costumavam se reunir em uma taverna perto das docas, em Londres, perceberam que se dividissem conjuntamente os prejuízos de eventuais acidentes poderiam ter perdas individuais menores. Assim nascia o Lloyd's, pool de companhias que se tornou o maior mercado de seguros e resseguros do mundo. Hoje, o polo britânico serve de inspiração para o Rio de Janeiro em seu ambicioso projeto de se tornar o principal centro de resseguros da América Latina.

Tendo movimentado R$ 5,7 bilhões no Brasil em 2012, a atividade de resseguro passou a ter concorrência no país a partir de 2008, quando houve o fim do monopólio do estatal Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Desde então, discute-se no âmbito governamental e na iniciativa privada a possibilidade de se criar um polo de resseguros no Rio, justamente pelo fato de a cidade abrigar o IRB, sedes de seguradoras líderes no mercado e a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão regulador do setor. O resseguro é a operação em que uma seguradora transfere parte ou a totalidade do risco de sua carteira à outra empresa - no caso uma resseguradora.

A possibilidade de um polo no Rio parece estar mais próxima de se tornar realidade com o projeto de construção - previsto para ser concluído em 2015 - de três torres na Cinelândia, centro da cidade, que reunirá em um só lugar seguradoras, resseguradoras, corretores e escritórios de advocacia especializados, em um empreendimento de mais de R$ 1 bilhão.

Há quem veja no projeto uma chance de, com a concentração das empresas em um mesmo edifício, fomentar o mercado. Como o risco das seguradoras normalmente é dividido em vários contratos de resseguros, os mais otimistas dizem acreditar que a proximidade física colabora para facilitar os negócios, nos moldes de uma bolsa de valores, facilitando também a vida dos corretores, que podem fazer várias cotações em um só local.

Por outro lado, os críticos ao projeto afirmam que, na era da internet, não haveria necessidade de as empresas estarem fisicamente no mesmo lugar e que o edifício é apenas mais um empreendimento imobiliário.

"No mercado de resseguros, a proximidade das empresas potencializa negócios e pode reduzir custos", defende Paulo Pereira, presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), entidade que vem trabalhando juntamente à agência municipal de fomento Rio Negócios para a criação do polo na cidade.

"Nossa intenção não é mudar a sede das seguradoras ou resseguradoras, mas fazer com que elas tenham ao menos um espaço ali", explica Marco Castro, diretor presidente do Lloyd's no Brasil e um dos entusiastas da ideia.

Das 98 resseguradoras cadastradas no Brasil, apenas 20 estão localizadas no Rio de Janeiro. No entanto, como o IRB representa 47% desse mercado, a participação da cidade em termos de volume é mais relevante. O Rio abriga a maior seguradora do país, a Bradesco Seguros, além da SulAmérica. Pelo fato de já contarem com instalações gigantescas, as empresas não pretendem se mudar para o novo edifício, apesar de apoiarem a criação do centro.

"Mesmo sendo possível fazer as cotações na internet, acredito que seja fundamental ter um polo de resseguros no Rio e o prédio é essencial para esse processo", afirma Marco Antônio Gonçalves, presidente da Bradesco Seguros e também presidente do conselho voltado para o setor na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Para uma fonte do setor, no entanto, há outros temas mais importantes que o centro que deveriam estar em debate. "Para o Brasil realmente ter um polo de resseguros é necessário suprir outras deficiências, como a falta de profissionais especializados, e possibilitar a liquidação de operações em moedas de vários países, com pagamento instantâneo dos sinistros."

As companhias, por sua vez, pedem mais independência das resseguradoras estrangeiras no Brasil em relação às suas matrizes. Felipe Smith, diretor-executivo da Tokio Marine, diz que o mercado ressegurador brasileiro tem capacidade para absorver o risco dos seguros de grandes obras. No setor de petróleo, no entanto, é necessário recorrer também ao mercado londrino, o que muitas vezes torna o processo mais lento. "A ideia de ter um polo é interessante desde que a seguradora tenha autonomia para aprovar os contratos", disse Smith.

A autonomia de uma resseguradora no Brasil depende de sua estratégia no país e de sua classificação na Susep. Existem três modalidades: local (que constitui sociedade anônima no Brasil, com capital mínimo de R$ 60 milhões e tem reserva de 40% do mercado); admitida (empresa com sede no exterior, mas com escritório de representação no Brasil, com capital mínimo de US$ 5 milhões); e eventual (que precisa apenas de um cadastro na Susep).

Registrado no segmento "admitido", o sindicato londrino Lloyd's ainda não tem planos de se tornar local, explicou Marco Castro, diretor geral do grupo no Brasil. De acordo com o executivo, a ideia do centro nacional de resseguros no Rio é "inspirada" no Lloyd's, mas não uma cópia deste.

Com um prédio considerado ícone da arquitetura londrina, o Lloyd's é um local de encontro em que vários membros (pessoas físicas e jurídicas) juntam-se para contribuir para um fundo comum e fornecer coberturas de seguros e resseguros. Os membros do sindicato ficam em um mesmo ambiente, para onde os corretores se dirigem para fazer cotações.

Diferentemente do Lloyd's, no centro de resseguros do Rio as empresas ficarão divididas em diferentes ambientes, como em um prédio corporativo comum.

Além do edifício, outra demanda do mercado é a redução de 5% para 2% da incidência do Imposto Sobre Serviços (ISS) sobre a corretagem de resseguros. O projeto está parado na Câmara dos Vereadores, mas recebeu na semana passada apoio público do prefeito do Rio, Eduardo Paes.

"É importante que também as corretoras estejam dispostas a participar do centro", disse José Hilário, presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg).

A ideia do centro surgiu após conversas entre a Rio Negócios e a Fenaber, que apresentaram a proposta à consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle. A previsão é que o prédio seja entregue em dois anos, mas a consultoria já apresenta propostas a empresas interessadas.

 

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