O colapso nos serviços públicos de saúde tem sido, parcialmente, atenuado pelos planos privados, ainda que procedimentos de média e alta complexidade sejam à conta do Sistema Único de Saúde. Mas as entidades de autogestão, com 5,3 milhões de associados em todo o país, começam a se curvar ante o impacto da crise econômica, que encareceu os serviços e os produtos médicos, principalmente equipamentos importados, balizados pelo dólar, que disparou nos últimos meses. Os valores ficaram bem acima da inflação oficial de 2015: 10,6%. Os insumos médicos tiveram correção de 20%.
Enquanto os custos sobem, as operadoras do planos de saúde vêm minguar a arrecadação. Em 2015, as contribuições caíram para R$ 12,25 bilhões contra R$ 14,81 bilhões em 2014. Para reduzir as perdas, uma das maiores administradoras e a principal dos servidores públicos federais, a Geap Autogestão em Saúde aplicou reajuste de 37,55%, em 2015, mais do que o dobro da correção do ano anterior, 14,62%. As aplicações financeiras já não asseguram rentabilidade do passado.
Mais: em alguns casos, o desemprego e os reajustes salariais dos inativos por percentuais inferiores à inflação têm levado à desistência ou ampliado o nível de inadimplência dos associados, pressionados pela elevação do custo de vida, incluídas aí as altas dos medicamentos que corroem o orçamento familiar, sobretudo, a renda dos idosos que vivem de aposentadoria ou pensão. À medida que o número de beneficiários cai, o rateio dos custos implica aumento dos valores cobrados dos associados.
A Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar (Abrapp) aponta quatro opções para vencer a dificuldade: 1) aprofundar o conhecimento sobre a massa dos usuários; 2) fazer estudos epidemiológicos para mapear as condições de saúde dos usuários; 3) identificar fatores de risco inerentes a essas condições de saúde; 4) prevenção de doenças para reduzir os riscos futuros.
Como tendências, a Abrap prevê o aumento do valor da coparticipação; a atração de beneficiários mais jovens, o que compensaria os gastos crescentes com os idosos. As propostas de superação são restritivas, pois poderiam inspirar, como ocorre na iniciativa privada, a imposição de obstáculos à associação de interessados, o que ocorre com frequência ante a elevação do valor mensal a ser pago.
Para os mais idosos, as aposentadorias foram depreciadas a tal ponto que os planos de saúde têm valores proibitivos. Entre os mais jovens, sobretudo as mulheres em idade de procriação, a elevação das contribuições mensais têm peso expressivo no orçamento individual e familiar. Essa pressão inibe a participação ou a expulsão desses segmentos nos planos de saúde.
Embora a assistência médico-hospitalar complementar seja importante para garantir o acesso à saúde, premente é rever o sistema público. O sucateamento da rede impõe ao Estado o reaparelhamento das unidades, com equipamentos, material e pessoal em qualidade e quantidade suficientes para dar conta da demanda. Trata-se de obrigação constitucional, e não favor, para garantir saúde de qualidade a todos os brasileiros.