A operadora paulista Prevent Senior caminha na contramão do setor de saúde suplementar: atende principalmente pessoas com mais de 60 anos, é comercializado exclusivamente na modalidade individual e tem preço máximo de R$ 585,25. Ou seja, possui todos os atributos que levariam um convênio médico à falência, segundo prega o mercado. E ainda assim, apurou em 2012 um lucro líquido de R$ 34,5 milhões. Como a conta fecha?
De acordo com Fernando Parrillo, CEO e fundador da Prevent Senior, a crença de que os idosos gastam mais é uma lenda. "A frequência com que eles usam o plano de saúde é seis a oito vezes superior, mas o custo não é necessariamente maior. Fazemos um forte trabalho de prevenção com ações para diabetes, pressão alta, depressão", justifica Parrillo, ao lado do seu irmão, o geriatra Eduardo Parrillo.
Ainda segundo Fernando, que há 18 anos era motorista de ambulância atendendo, principalmente, pacientes idosos, é comum o idoso ir várias vezes ao médico para ocupar seu tempo. "Temos psicólogos nas unidades para conversar com esse público e criamos atividades sociais para eles", complementou.
A Prevent Senior possui 190 mil clientes: 88% deles têm mais de 60 anos de idade e nenhum menos de 49. Segundo Fernando, as ocorrências com idosos são previsíveis e já são contabilizadas no orçamento. O fundador da operadora cita que a maior demanda é em ortopedia. Por isso, a rede possui um hospital próprio destinado exclusivamente a este procedimento. Há também unidades específicas para tratamento oftalmológico, devido à alta incidência de cirurgias de catarata, e ainda para cardiologia e oncologia.
Outro fator que torna possível a operadora fechar a conta no azul é ter 90% dos atendimentos realizados em uma rede própria com seis hospitais, quatro laboratórios e mais de 20 clínicas. Com o maior controle das contas, foi possível encerrar o balanço de 2012 com sinistralidade de 64%, enquanto a média do mercado ficou em 75%. "Acredito que é possível baixar esse número para 60%", diz o CEO.
Por outro lado, a Prevent Senior possui um elevado índice de reclamações na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em junho deste ano, a taxa de queixas de clientes da operadora foi de 1,93 contra a média de 0,99 entre as empresas de mesmo porte.
A taxa de ocupação nos hospitais próprios, da rede Sancta Maggiore, é de 100%. A demanda extra, que corresponde a 10% de seus procedimentos médicos, é atendida em rede credenciada. Para não extrapolar esse percentual e desequilibrar o balanço, a empresa está finalizando o sétimo hospital e um oitavo está em fase de elaboração.
Segundo o executivo, só este ano já foram investidos R$ 80 milhões e, a partir de 2014, a meta é construir dois hospitais por ano. A Prevent Senior tentou também adquirir o Hospital Santa Marina, com 265 leitos, em São Paulo. A operadora ofereceu em um lance R$ 50 milhões pelo hospital fechado em 2011, mas perdeu a disputa para a Amil, de Edson Bueno, que pagou R$ 55 milhões.
De acordo com Parrillo, esses investimentos são para atender à forte demanda que surgiu a partir do segundo semestre de 2012, com a quebra de cinco operadoras e também porque as outras empresas não querem mais vender planos individuais e para terceira idade.
Um fator delicado para as finanças da operadora são os clientes oriundos de outros convênios médicos que foram à bancarrota e podem migrar para outra operadora sem necessidade de cumprir carências, segundo normas da ANS. Trocando em miúdos: esses usuários já chegam gastando, mas não passaram por programas de prevenção.
Apostando na contramão do setor, a Prevent Senior espera crescimento expressivo neste ano. A projeção é encerrar o ano com faturamento de R$ 800 milhões, um crescimento de 42% em relação ao apurado em 2012.
É uma das maiores expansões da operadora fundada em 1996 pelos irmãos Parillo. Mas o maior salto foi mesmo em 1998, quando Eduardo serviu de garoto-propaganda da Prevent Senior em um programa de TV vespertino comandado pela apresentadora Claudete Troiano. Foram investidos R$ 2,5 mil em um comercial de TV oferecendo um plano de saúde para pessoas com mais de 60 anos e custo acessível. "Foi um 'boom'. O telefone não parou de tocar. Na época, só tínhamos 500 clientes e crescemos 120%", disse Fernando.
Daí em diante, a família toda foi trabalhar na empresa. "Meu irmão analisava os clientes do plano com maior propensão a ter problemas de saúde. Minha mãe acompanhava esses pacientes. Eles mediam a pressão na farmácia e ligavam do orelhão para minha mãe que anotava diariamente", contou. Atualmente, a mãe não está mais no negócio e os irmão Parillo dividem seu tempo entre o plano de saúde voltado para os idosos e apresentações para o público jovem. Fernando e Eduardo têm 45 e 47 anos de idade, respectivamente.