Incentivo à alimentação saudável, campanhas antitabagismo, exercícios laborais e até custeio em academias. Tudo isso tem feito a diferença na hora de combater o aumento dos preços dos planos empresariais no momento da renegociação, além de diminuir a taxa de sinistralidade entre os planos médicos.
Uma resolução normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) prevê o direito de premiação ou negociação aos beneficiários ou contratantes que ofereçam programas de saúde – como incentivo aos colaboradores, de acordo com a CEO da Aliança para Saúde Populacional (Asap), Milva Gois. No entanto, a adesão ao benefício ainda é pequena. Poucas empresas já usufruem da medida para conseguir melhor reajuste na renovação anual dos contratos.
Para Milva, felizmente este cenário está mudando. “O contratante tem de se tornar agente participativo”, afirma. O executivo acredita que a falta de conhecimento e engajamento das empresas faz com que percam a oportunidade de reduzir o gasto com plano de saúde. Outros equívocos comuns nas empresas, segundo ele, é não utilizarem informações de exames periódicos e obrigatórios, além de dados das operadoras de saúde para a negociação. “Muitas vezes a sinistralidade deve-se a um caso específico e a empresa pode solicitar as informações”, diz. Milva aponta que a solução não é mudar a operadora de saúde, mas mapear a população e negociar de forma mais transparente e assertiva com a operadora do plano.
“A renegociação não é boa para ninguém”, afirma o vice-presidente de Saúde e Odonto da SulAmérica Seguros, Maurício Lopes. De acordo com ele, se por um lado na renegociação anual a operadora consegue readequar o aumento dos custos, por outro é uma oportunidade de pedir ao cliente que vá embora. “Claro que não queremos isso. Acreditamos que seja necessária a sinergia. Se ambas as partes querem o mesmo é um ganho a ganho”, comenta.
Incentivos
Segundo o executivo, a operadora não apenas aceita a apresentação de programas de saúde, como também incentiva. Um de seus clientes, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, por exemplo, conseguiu ficar três anos sem reajuste após a implementação do Programa Bem-Estar, mencionado anteriormente pelo DCI. Na época, o gerente de qualidade de vida e saúde, Rodrigo Bornhausen Demarch, disse que o hospital conseguiu economizar mais de R$ 5 milhões com plano de saúde, que hoje é considerado o maior gasto das empresas brasileiras, perdendo apenas para a folha de pagamento.
Desafios
Ainda segundo Lopes, da SulAmérica, com a instabilidade econômica aumentou o número de empresas que querem implantar programas de saúde para uma renegociação mais vantajosa e até para diminuir a taxa de sinistralidade. No entanto, tem sido um desafio. Para Lopes, isso ocorre porque gerir programas de bem-estar na empresa em um momento que já sofre outras pressões financeiras é mais difícil.
De acordo com ele, o desafio independe do porte. Na hora de implementar um programa de saúde para beneficiários, Lopes aponta que a relação com funcionários de pequenas empresas é menos restrita, porque não existe uma área intermediária, o que dá maior flexibilidade e agilidade para as ações. “Mas também temos menos apoio entre as pequenas empresas. Nas grandes há uma interface entre o plano e o funcionário.”
Cadeia setorial
Para o sócio do escritório Dagoberto Advogados, Ricardo Ramires Filho, a sinergia pode ser utilizada não apenas entre operadoras e contratantes, mas também com outras empresas da cadeia, como a indústria farmacêutica. Segundo ele, já existem casos em que a operadora consegue um desconto maior no medicamento e aproveita o programa da fabricante para que o paciente se cuide corretamente. Um exemplo citado por Ramires é o de pacientes com doenças mais graves, como o câncer. “Em vez de a operadora prover só o exame, ela pode tentar parceria com a fabricante do remédio para ter desconto e buscar a cura mais rápida.”
Segundo ele, o interesse das operadoras em ajudar a reduzir o reajuste nos contratos não é em vão. Com a instabilidade econômica e o fluxo de caixa menor nas contratantes, os planos de saúde têm sofrido com o downgrade das carteiras (migração para planos mais baratos) e a perda de beneficiários do mercado privado, provocada principalmente, pelo desemprego. “Assim como o pessoal que aluga tem deixado de aplicar reajuste para manter o imóvel alugado, as contratantes estão com maior poder de barganha com as operadoras.”
Ele acredita que encontrar um reajuste consensual deixou de ser uma forma de decidir quem sairá ganhando e passou a ser uma forma de sobreviver. “Muitas operadoras estão quase no vermelho”, ressalta. Com a sinistralidade em torno de 82,4%, o executivo aponta que a margem acaba sendo extremamente baixa, sendo pior em operadoras menores. “Em média, as operadoras estão com uma margem de lucro entre 1,8% e 2%”, destaca.
Como o resultado, o setor tem cada vez menos fôlego para investimentos e sobrevivência, o que tem deixado o mercado mais concentrado. Depois de alcançar 2.400 operadoras médico-hospitalares no ano 2000, em setembro de 2015 o total foi de 999, das quais 843 com beneficiários. Sendo que 80% das vidas estão em 155 operadoras.
Outras estratégias apontadas por ele para diminuir a sinistralidade nas empresas é incentivando o funcionário a fazer um uso mais consciente do plano. “Além de diminuir o uso do Sistema Único de Saúde [SUS]”, afirma o executivo. De acordo com Ramires, 67% do ressarcimento das operadoras ao SUS se deve ao uso em atendimento ambulatorial, que já faz parte da cobertura dos planos. (DCI)