O que se vê na economia do país é o crescimento do desemprego, a desvalorização do real, a dificuldade para controlar a inflação, além da perda de receitas com a queda na arrecadação de impostos. Não há como fugir das consequências da crise. Ela atinge a todos, inclusive a saúde. Os setores público e privado lidam com a dificuldade de manter a sustentabilidade de um segmento que sofre com a elevação dos custos, enquanto as receitas caem. Entre os estados, aqueles dependentes da indústria de petróleo e gás são os que mais sofrem com a escassez de recursos financeiros. O resultado desse desequilíbrio, nós vemos no noticiário que expõe a crise nas redes hospitalares estaduais. O setor privado também vê a situação econômica assombrar com perspectivas nada animadoras.
O aumento do desemprego vem causando uma retração no mercado de planos de saúde. O saldo negativo de 1,5 milhão de vagas formais que o país apresentou ano passado ajuda a entender como os planos perderam mais de 440 mil clientes. Números assim afetam todo o sistema. Os hospitais membros da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), por exemplo, registraram, em 2015, uma queda de 1,8% na receita em comparação com 2014. Com a baixa de movimento dos hospitais, acaba-se empregando menos do que a expectativa.
No ano passado, o incremento de contratações pelos hospitais da Anahp foi de 4,1%, o que representa um terço do resultado de 2014, quando houve alta de 12%. Infelizmente, não há como evitar esse impacto, ainda mais considerando que há hospitais em que 90% dos atendimentos realizados são de pessoas com plano de saúde. Somente nos prontos-socorros houve redução de 7,2% de 2014 para 2015 (que representam algo como 150 mil atendimentos a menos). Caso o mercado de planos não reaja, provavelmente o saldo entre contratações e desligamentos será ainda mais distinto do que dois anos atrás, com enorme chance de encerrar no negativo.
Para piorar as perspectivas, a previsão é de que os custos hospitalares se elevem ainda mais este ano. Temor este baseado na alta do dólar. É o preço que se paga pelo Brasil estar longe de ser um dos principais fabricantes de insumos e equipamentos médicos, o que impõe aos estabelecimentos a necessidade de importar boa parte do que é utilizado diariamente. Não há um gestor hospitalar que não esteja aflito em como manter a sustentabilidade com o dólar por volta dos R$ 4. O mesmo sentimento deve estar presente nos secretários de saúde que veem suas cidades e estados com dificuldade para arcar com os salários dos funcionários.
Recursos limitados para um setor que necessita de investimentos contínuos. O país precisa de mais leitos. Tanto nos hospitais públicos quanto nos particulares, a oferta fica abaixo do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que são três leitos para cada grupo de mil habitantes. A média nacional é de 2,3 leitos por mil habitantes. Cenário longe de ser o ideal, ainda mais se compararmos com países desenvolvidos, como a Alemanha (8,3) e o Japão (13,3), que superam em muito a média da OMS. Como ampliar a infraestrutura se muitos hospitais sofrem para manter o equilíbrio financeiro?
A saúde privada acompanha atentamente as decisões e ações do governo federal na busca por soluções para a turbulência atual. Longe de querer disseminar o pessimismo, mas como o SUS, por exemplo, conseguirá absorver a demanda, caso o desemprego continue crescendo e mais pessoas deixem de ter planos de saúde? O que o governo fará se as Santas Casas, que já sofrem com a defasagem dos repasses feitos e atendem 55% de toda a demanda do SUS, fecharem as portas?
Em tempos de formação de um novo Conselho de Desenvolvimento Econômico, que pretende encontrar alternativas para que o Brasil supere a crise, talvez fosse vital que o governo federal propusesse iniciativas destinadas à saúde, dadas a dimensão, a complexidade e a importância social do setor para o país. Não se pode permitir que a economia coloque o setor na UTI.
Francisco Balestrin - Presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP)