Os planos de saúde ainda causam dor de cabeça aos brasileiros. As demandas referentes à assistência médica representam 32,68% do total de reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em 2015. E de acordo com o órgão, cresceram 64,8% em relação ao ano anterior.
A negativa de cobertura, o descredenciamento de hospitais e clínicas, os reajustes abusivos e o cancelamento de contratos unilateralmente pelas operadoras estão entre as principais queixas recebidas pelo Idec, segundo a advogada e pesquisadora do Instituto Joana Cruz.
"É a primeira vez que acontece de um setor concentrar tantas reclamações", destacou o gestor de Relacionamento do Idec, Alexandre Frigério. Para ele, os números representam ineficiência dos órgãos fiscalizadores e uma má qualidade dos serviços prestados pelas operadoras de plano de saúde. "Os serviços não estão sendo oferecidos como deveriam e a fiscalização não é efetiva", afirmou.
Problemas
No começo deste ano, o aposentado João Coelho Vitola, 65 anos, precisou marcar um exame pela Amil. Ele contou que, até conseguir solucionar o problema e finalizar o atendimento, teve a ligação transferida para vários ramais. "Os planos de saúde precisam dimensionar o telemarketing de modo a não demorar tanto", reclamou. "O consumidor continua pagando uma conta muito alta, sem receber o atendimento adequado", desabafou.
Sem emprego, Claudenir Aparecida, 40, cuida da mãe, de 72 anos, que há cinco anos é atendida em casa no sistema de home care, pago pelo plano da Geap. Segundo ela, semanalmente ou quinzenalmente, eles enviam os medicamentos e produtos como algodão, álcool, gaze, necessários para o tratamento. "Sempre falta alguma coisa e demoram 15 dias para receber o que falta", reclama. Claudenir ressalta que nesse tempo todo, nunca o plano enviou um médico para visitar a paciente e, mesmo após as reclamações, as soluções ficam apenas em promessas. "Sempre ligo, já registrei a queixa, mas ficam enrolando e transferindo a solução para os outros", disse.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulamentação dos planos de saúde, informou, por meio de nota, que em 2015 recebeu 366.813 reclamações por meios dos canais de relacionamento. E, que 87,4% foram resolvidas sem necessidade de processos administrativos. A agência explicou que, após uma reclamação registrada, a empresa prestadora do serviço é notificada e tem até 5 dias úteis para resolver o problema do beneficiário nos casos das demandas que envolvem relatos de não garantia da cobertura assistencial. Todo o processo pode ser acompanhado pelo usuário por meio do portal da agência.
Em caso de descumprimento das normas da ANS, as operadoras podem ser multadas e sofrer suspensões temporárias da comercialização. Atualmente, 46 planos de saúde de oito operadoras estão com a venda suspensa.