Que padrões um PEP deve ter para ser interoperável?
14/03/2016 - por Filipe Boldo

O tema é batido: interoperabilidade em Prontuários Eletrônicos (PEP). Mas a sua importância é tão grande que merece toda repetição. Isso porque, pela dinâmica do sistema de saúde, onde pacientes circulam por diversas instituições e os dados do todo são importantes, compartilhar informação de forma automática é pré-requisito para atingir próximos níveis na qualidade da prestação do serviço – o que, no final do dia, significa salvar vidas humanas.

Mas como garantir que sistemas de informação distintos troquem informações? Não é uma tarefa fácil e só é possível a partir doestabelecimento de padrões. É assim que a humanidade resolve problemas de compatibilidade em uma sociedade de livre comércio, onde qualquer grupo de pessoas pode colocar novos produtos no mercado. É pelo estabelecimento de padrões que nós conseguimos ligar um eletrodoméstico brasileiro lá na terra do Obama ou um mouse xing ling nos nossos computadores.

Para exemplificar o problema, imagine que eu posso criar e distribuir um software para saúde, meu vizinho pode e o vizinho dele também. Agora imagine que no meu software eu vou chamar o gênero do paciente de Sexo e vou colocar as opções M para Mulher e H para Homem. Meu vizinho vai chamar o gênero do paciente de Gênero e usar M para masculino e F para feminino. O vizinho do meu vizinho resolveu colocar por extenso, Masculino e Feminino. Deu para imaginar a confusão para juntar esses dados? A simples análise da incidência de diabetes por gênero em uma rede de hospitais usando esses diferentes sistemas seria um caos. E esse exemplo utiliza um dado de baixíssima complexidade, bem diferente da prática.

Existe um n de padrões de sistema de informação de saúde para que os dados tenham o mesmo significado em qualquer sistema. Isso não é só importante para saúde populacional, como para cada paciente individualmente, quando este é atendido em outra unidade ou instituição. De modo geral, os tipos de padrões presentes para tornar a interoperabilidade completa, são:

Vocabulários
Doenças, exames e procedimentos médicos tem nomes diferentes em diversas regiões e culturas. Para que os sistemas se entendam, é necessário que haja um vocabulário único, como um padrão de termos. Um exemplo é o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças versão 10). Nessa tabela, por exemplo, o código B20.1 se refere a Doença pelo HIV resultando em outras infecções bacterianas. Ainda em padrões de vocabulários, existem o SINOMED, LOINC, NIC, entre outros.

Transmissão / comunicação
Não adianta usar um walk talk para falar com alguém que está com o aparelho numa frequência diferente da sua. Padrões de transmissão e comunicação em sistemas de saúde fazem com que a forma que a informação saí de uma ponta, seja a mesma suportada para entrar na outra ponta. Um exemplo é o DICOM, usado para transmissão de imagens, ele torna possível que sistemas e equipamentos de imagens possam trocar dados facilmente, sem que seja necessário criar uma integração para cada aparelho.

Conteúdo
O que você espera encontrar no seu holerite no começo do mês? Descontos descriminados, impostos recolhidos, salário bruto… Da mesma forma, padrões de conteúdo determinam quais dados devem ser comunicados sobre o paciente e local de assistência, por exemplo. No Brasil, o RIPSA (Rede Interagencial de Informações para Saúde) discute isso através do comitê de Compatibillização de Sistemas e Bases de Dados.

Autenticação
Informações de saúde são importantes para provedores e pacientes. Por isso, saber a autenticidade dos dados é crucial. Por aqui, se o Prontuário Eletrônico não é assinado digitalmente pelo médico, ele precisa ser impresso, assinado e arquivado. Para que os sistemas, durante uma transferência de dados, confirmem a autenticidade da informação que está sendo trocada, existe um padrão para certificá-la digitalmente, comprovando sua origem. O ICP-Brasil é quem torna possível isso no país.

Através de padrões de vocabulários, transmissão, conteúdo e autenticação é possível fazer com que sistemas distintos trocarem informações de maneira automática. Os padrões não só tornam a interoperabilidade uma realidade, como também permitem a diminuição de tempo de treinamento, desenvolvimento e implementação de sistemas e equipamentos em um ambiente de informações complexas e extensas como o setor de saúde.

Então, que habemus padrões na saúde!





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