Os desdobramentos na economia, na política e nas contas fiscais brasileiras em 2016 têm sido decepcionantes até agora, afirmou ontem a diretora para a América Latina da Fitch Ratings, Shelly Shetty, que prevê mais um ano desafiador para o País.
Na avaliação da nota soberana do Brasil em 2016, Shelly disse que os três principais fatores que a agência de classificação de risco vai levar em conta são o desempenho da economia, o cenário político e a trajetória das contas fiscais. "Os desdobramentos até agora não são nada positivos, são bastante decepcionantes", afirmou Shelly em evento sobre o Brasil, organizado pela Fitch em Nova York.
A diretora ressaltou que na segunda-feira a agência rebaixou a previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2016 para 3,5%. A recuperação esperada em 2017 será mais lenta e gradual do que o previsto, disse ela. A inflação deve cair, mas também em ritmo mais lento do que o esperado.
Dívida bruta No lado fiscal, a recessão mais forte que a prevista, aliada aos altos juros básicos da economia, sinaliza que a dívida bruta do País deve piorar em ritmo mais acelerado que o esperado em dezembro, afirmou Shelly. Naquele mês a Fitch projetava dívida equivalente a 75% do PIB este ano.
No lado político, o cenário está ainda mais embaralhado.
"O novo estágio da Lava Jato contribuiu para aumentar a incerteza no País", disse a diretor da Fitch. Nesse cenário é difícil esperar o avanço de qualquer reforma estrutural, disse ela.
"Para fazer o PIB crescer de novo, é preciso estabilização da situação política", afirmou Shelly ao ser questionada por analistas sobre a piora da dívida do Brasil. "As distorções domésticas têm sido altas." Shelly ressaltou que a situação atual do Brasil não poderia ser mais diferente do que aquela vista em 2008, quando a Fitch atribuiu o grau de investimento ao Brasil. Naquela época o PIB crescia de forma vigorosa, havia superávit primário e o governo conseguia agir de forma rápida e apropriada a desafios de política econômica e choques externos. (Jornal do Commercio)