Resistência antimicrobiana: como isso pode influenciar a Europa?
08/03/2016

O estudo “Antimicrobial resistance: tackling a crisis for the health and wealth of nations”, realizado pela Rand Europe e pela consultoria KPMG no fim de 2014, estimou que os custos com tratamento de infecções causadas por bactérias resistentes poderão chegar a US$ 100 trilhões até 2050. Diante dessa e outras estatísticas alarmantes, países do continente europeu já começaram a adotar medidas no sentido de combater o problema. Nesse contexto, a Holanda tem sido um dos exemplos positivos.

Já há alguns anos, o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) faz o levantamento das estatísticas de resistência a antibióticos nos países da região. Desde 2010 até a última analise divulgada, de 2014, a Holanda apresenta índices mais favoráveis, quando comparados com os de países do sul e sudeste da Europa, como Itália, Espanha e Grécia. Uma das razões dessa diferença é o fato de a resistência antimicrobiana ser encarada como questão de estado desde a década passada.

Figure - Antibiotic Resistance Statistics

Fonte: European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC)

Em 2008, o governo holandês traçou uma parceria público-privada com pecuaristas para diminuir o uso de antibióticos no campo. A medida segue o conceito “One Health”, que envolve os domínios da saúde, animais, comida e meio ambiente com o fim de solucionar o problema. Na época, foi estabelecido o compromisso de redução de 50% no consumo de antibióticos no campo para o ano de 2013, com relação aos níveis de 2009. A meta acabou sendo atingida já em 2012, sendo que a queda das vendas de cefalosporinas de terceira e quarta gerações caíram mais de 90%.

No que diz respeito à assistência na saúde, os hospitais holandeses seguem guidelines rígidas para prevenir a disseminação de superbactérias e prescrever antibióticos. Quando pacientes comprovadamente são portadores de MRSA ou possuem alto risco em tê-lo, por exemplo, eles são encaminhados para isolamento rigoroso – semelhante ao que vemos com portadores de tuberculose no Brasil – e recebem atendimento de uma equipe de saúde exclusiva, como prevê a política “Search and Destroy”, vigente desde 1988. Apesar de o país possuir uma cultura bem estabelecida de baixo uso de antibióticos, o Ministério da Saúde, Bem-Estar e Esporte estabeleceu como meta no ano passado reduzir em 50% a prescrição incorreta de antibióticos bem como as infecções associadas ao cuidado de saúde consideradas evitáveis, em um prazo de 5 anos.

Figure - Antibiotic Use Statistics
Fonte: European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC)

No front internacional, aprimorar essa política com esforços de cooperação entre os países vizinhos e também com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é algo que vem sendo feito e tende a ser ampliado. Como bactérias resistentes não respeitam fronteiras, a ideia é reduzir a importação dessas cepas, o que só é possível com ações coordenadas entre os ministérios de saúde europeus, no entendimento dos holandeses. Além disso, o país oferece suporte técnico aos estados membros da OMS em medidas de vigilância a micro-organismos resistentes, baseado no modelo já aplicado na Holanda e buscando incentivar a redução do uso de antibióticos na pecuária.

No primeiro semestre deste ano, a Holanda ocupa a presidência da União Europeia. Em carta enviada ao Parlamento Holandês em junho do ano passado, a ministra da saúde, bem-estar e esporte Edith Schippers, juntamente com outros três secretários de Estado, deixaram claro que uma das prioridades do mandato holandês será a promoção de iniciativas ao nível do bloco contra a resistência antimicrobiana, como encontros conjuntos de ministros europeus da saúde e da agricultura.

Considerando que este é o último ano do atual plano de ação europeu, firmado em 2011, tratar a questão como uma das prioridades é bastante louvável. Uma conferência ministerial europeia realizada em Amsterdam no último dia 10 dá sinais de que novas medidas devem sair do papel em breve. Enquanto isso, nas demais regiões do globo, espera-se que os players da saúde possam seguir o exemplo e também se movimentar com relação ao problema.

Referências:

1- “Antimicrobial resistance: tackling a crisis for the health and wealth of nations” Chaired by Jim O’ Neill – http://amr-review.org/sites/default/files/AMR%20Review%20Paper%20-%20Tackling%20a%20crisis%20for%20the%20health%20and%20wealth%20of%20nations_1.pdf

2- European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) – EARS-Net http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial_resistance/database/Pages/database.aspx

3- European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) – ESAC-Net http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/antimicrobial_resistance/esac-net-database/Pages/database.aspx

4- Souverein D, Houtman P, Euser SM, Herpers BL, Kluytmans J, Den Boer JW. Costs and Benefits Associated with the MRSA Search and Destroy Policy in a Hospital in the Region Kennemerland, The Netherlands. PLoS One. 2016 Feb 5;11(2):e0148175. doi: 10.1371/journal.pone.0148175. eCollection 2016. PubMed PMID: 26849655





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