O último painel do 21º Encontro de Líderes consolidou o cenário político e econômico atual do Brasil, que veio de encontro com o resultado da pesquisa realizada com os participantes. Para 63% dos presentes, 2016 será um ano pior para o setor; outros 38% acham que será equivalente a 2015; e apenas 7% vislumbram um 2016 melhor do que foi 2015.
Para debater esse cenário, a CNseg chamou o economista Gustavo Loyola, o cientista político Fernando Schuler, o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, e o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, com mediação do jornalista Dony de Nuccio.
O cenário internacional é desafiador para o Brasil, principalmente pelas incertezas com Estados Unidos e com China. “Essas questões irão definir alguns aspectos cruciais, como o ritmo de crescimento da economia mundial, preços de commodities e taxas globais de juros e de câmbio”. Podem se agravar e, com isso, piorar ainda mais o cenário dos países emergentes, principalmente do Brasil, que é um grande exportador de commodities.
Há desequilíbrios em outras regiões do mundo, como Europa, tendo em vista estímulos do Banco Central europeu, com taxas de juros negativas, uma situação esdrúxula do ponto de vista econômico. A situação europeia também traz dúvidas sobre o sistema bancário europeu, que ainda não se recuperou da crise de 2008. Não que haja um risco de quebra, mas sim sobre como eles vão se comportar em um ambiente de economia que não cresce com taxas de juros negativas.
É um cenário ruim para o Brasil, ainda que já tenha enfrentado crises piores. No entanto, o País já perdeu o cobertor que tinha e enfrenta problemas estruturais que precisam ser resolvidas. A curto prazo, o quadro negativo da economia tende a seguir em razão da ausência de instrumentos na área fiscal que gerem mudanças imediatas. Por outro lado, o pessimismo deve se agravar pelos próximos meses, principalmente pela alta do desemprego. “Esse movimento de desemprego está apenas começando”, alertou Loyola. Além da projeção de o desemprego chegar a 12%, a tendência mostra forte queda de ganhos dos salários.
A médio e a longo prazos, a crise coloca em evidência limitações estruturais sérias do País. “Temos de enfrentar a baixa produtividade, gargalos na infraestrutura e custo de previdência”, enumerou o economista. A agenda econômica deverá mudar a partir de 2019, diante da crise politica que se desenrola atualmente com tamanha falta de governabilidade. “Vale dizer que, na história do País, só tivemos um período forte de recessão na crise de 1929”, ressaltou.
O agropecuário é um dos setores que devem seguir fortemente incentivados, enquanto indústria e serviços apresentam indicadores negativos. Importações melhoram e exportações caem. Em câmbio, Loyola acredita que o Banco Central deve manter o dólar estável e a taxa de juros em alta, numa tentativa de manter a inflação controlada. Aliado a isso, o cenário fiscal se mostra cada vez mais crítico, com déficit primário elevado. Em resposta, as agências de avaliação de risco deverão divulgar mais cortes nas notas brasileiras”. “Concluindo, as políticas dos últimos anos criaram vários desequilíbrios, não há reversão e deveremos continuar sofrendo até 2018”, finalizou.
Do ponto de vista político, a situação é ainda pior, pois não há consenso de uma única agenda para o País, disse Fernando Schuler, cientista político do Insper. Ele apresentou as questões que definem a conjuntura, como o risco institucional, a agenda de reforma estrutural, se há uma oposição e qual a possibilidade de um pacto de convivência. E qual o cenário para 2018.
Em parte, segundo ele, a crise hoje mostra o esgotamento de um modelo de coalizão presidencial. “O Brasil vive uma fratura política, que não tem solução a curto prazo. Nem sei se em 2018 terá saída. Pode ser eleita a oposição e o quadro político pode continuar. Temos um País tolerante com a corrupção. Há uma parcela de acadêmicos, políticos, juízes e trabalhadores que é mais apaixonada pelo seu partido do que pela ética”, comenta o cientista político. Uma das saídas é renovar a geração de lideres. Atrair novos talentos. E, para isso, é preciso uma reforma política”, enfatizou.
O ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, concorda com o cientista político, lembrando que nunca, nas turmas acadêmicas para as quais leciona, vê um aluno talentoso dizendo que pretende seguir uma carreira política. “Estamos vivendo um momento difícil. Temos crises política, econômica e de ética relevantes. Esse conjunto leva a uma sensação devastadora de que não vamos sair do lugar”, disse o ministro.
Barroso enfatizou que o foco de seu trabalho no STF é a proteção das instituições. “As crises política e econômica passam e mudam rapidamente”. O que nos mantém como País, e não uma republiqueta, é a preservação das instituições.
Para ele, o desalento não terá sido em vão se estivermos construindo um País melhor. “Essa cultura de tolerância com a corrupção está acabando. Precisamos mudar a ética pública e a ética privada. Há os que cobram moral pública e não seguem a ética em suas próprias vidas. Acredito que estamos fazendo um País melhor. Na minha vida, adoto dois princípios. Enquanto não vier a bonança, faço o melhor que posso dentro do que me cabe, cumprindo o meu papel e senso bom e correto, mesmo quando ninguém estiver olhando”.