O combate a dengue, chikungunya e zika no Brasil pode se tornar, em breve, mais uma fonte de receita para a Intrexon, empresa especializada em biotecnologia com sede nos Estados Unidos. Detentora da patente do Aedes aegypti transgênico ou Aedes “do bem”, usado para controle das populações do mosquito, a empresa já tem o selo de segurança do Ministério da Ciência e Tecnologia para iniciar a comercialização do produto no país. Falta apenas o sinal verde da Anvisa.
A aposta da Intrexon no mercado de combate ao mosquito Aedes aegypti no Brasil se concretizou a partir da compra da inglesa Oxitec em agosto, um mês antes de a epidemia de microcefalia eclodir no Nordeste. Com lucro de cerca de US$ 18,8 milhões (R$ 74 milhões) no último exercício, a Intrexon pagou US$ 160 milhões (R$ 631 milhões) em ações e dinheiro na transação. A Intrexon é avaliada na bolsa de valores americana em US$ 3,6 bilhões (R$ 14,2 bilhões).
Com berço na Universidade de Oxford, na Inglaterra, a Oxitec desenvolveu uma técnica de transmissão de um gene para o mosquito que estimula a superprodução de uma proteína que impede seus descendentes de chegarem à fase adulta. A técnica existe desde 2002, mas só recebeu autorização para iniciar os testes em campo aberto em 2010. Desde então, eles vêm sendo feitos no Brasil em parceira com a Moscamed, uma organização social com sede em Juazeiro (BA).
Os resultados, até agora, são “animadores”, conta Jair Virgínio, presidente da Moscamed. Em teste no município de Jacobina, interior da Bahia, houve uma redução de 90% da população de Aedes aegypti.
Após um teste em parceria com a Prefeitura de Piracicaba com o mosquito transgênico no bairro de Cecap, a Oxitec diz que a área tratada está com 82% menos mosquitos transmissores do que a área não tratada. A prefeitura já assinou um protocolo de intenções para expandir o projeto para uma área central da cidade.
Diante de uma possível liberação da comercialização no Brasil, a Oxitec, que tem uma unidade em Campinas, já está investindo na construção de uma nova fábrica em Piracicaba (SP). O investimento é de em torno de R$ 30 milhões. A unidade é capaz de atender uma região com mais de 300 mil habitantes e deve começar a funcionar plenamente no segundo semestre.
“Temos recursos disponíveis para, uma vez sendo liberada a comercialização, iniciar a construção de novas fábricas”, diz o gerente de negócio da Oxitec, Cláudio Fernandes.
O grande problema para o andamento dos negócios da empresa no país é a demora da análise da Anvisa. O órgão, que está com a demanda da Oxitec desde o ano passado, diz que ainda não é possível definir se o produto se encaixa entre aqueles passíveis de sua regulação, pois não se enquadra, a priori, em nenhum dos setores tradicionais, como limpeza, higiene, medicamentos, alimentos.
A Anvisa não dá previsão de quando vai concluir a análise do Aedes transgênico. Segundo Fernandes, a Food and Drug Administration (FDA) ¬ órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos ¬, caracterizou a tecnologia como destinada a animais e não à saúde humana. “Os nossos possíveis clientes são condomínios, governos do Estado, governos municipais e empresas”, diz Fernandes.
A seu favor, a Oxitec conta com a urgência do governo federal em combater o Aedes Aegypti a tempo de não prejudicar o turismo nas Olimpíadas. Há dez dias, a presidente Dilma Rousseff visitou a Moscamed em Juazeiro na Bahia e se disse “impressionada” com a tecnologia da Oxitec.
A técnica do Aedes transgênico é exclusiva da Oxitec e única no país com fins comerciais, mas há outro métodos para controle de populações do mosquisto sendo estudados no Brasil.
A Organização das Nações Unidas (ONU) está patrocinando um método, que usa irradiação com Cobalto 60 e produz mosquito estéril. A Moscamed deve receber um equipamento para este tipo de radiação em breve. “Ainda não é possível dizer qual técnica é mais econômica: a do mosquito estéril ou a do mosquito transgênico”, afirma Virgínio, da Moscamed.
Fernandes, da Oxitec, observa que o fato da tecnologia do mosquito estéril estar sendo patrocinada com fins humanitários, não significa que ela seja gratuita caso venha a ser usada em grande escala. “O momento é positivo para todas as tecnologias que envolvem o Aedes. Não vemos o mosquito estéril como concorrente”, diz.
Em Pernambuco, a Fiocruz e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) iniciaram testes com o Aedes estéril na ilha de Fernando de Noronha. Há ainda uma terceira tecnologia, também em estudo na Fiocruz, que estereliza o Aedes a partir da introdução de uma bactéria no seu organismo.
Nenhuma das tecnologias promete exterminar o mosquito em definitivo. “A ideia é que, com a redução das populações, a gente possa controlar as epidemias, mas não extinguir totalmente o número de casos das doenças”, explica Fernandes.