O adensamento da digitalização promete modificar a forma de atuação de setores inteiros. Na indústria, os especialistas em tecnologia apontam para a quarta revolução industrial onde a comunicação entre máquinas é tão intensa que os sistemas serão capazes de comandar a produção. A fábrica digital combina inteligência artificial, robotização e controle em tempo real de todos os processos. “Essa tendência tornase real com o avanço da internet das coisas, que conectará qualquer equipamento à estrutura de redes”, destaca Denis Balanguer, diretor do centro de inovação da EY.
Para Balanguer, a indústria 4.0 vai reconfigurar a economia. A explicação é simples: com controle total dos meios de produção e previsões mais acertadas sobre a demanda, haverá redução no uso de recursos e maior eficiência nos processos. O comportamento do consumidor também está em transformação, colocando em cheque o modelo de produção e consumo em massa. “Assistiremos a ciclos de crescimento econômico que estarão relacionados a coisas nãomateriais, o que é positivo do ponto de vista da sustentabilidade”, comenta.
Outra tecnologia que está abalando a estrutura da indústria é a impressão 3D. Com a evolução dos materiais para imprimir produtos e peças “em casa”, o valor ficará centrado nos projetos e nos desenhos. “Em vez de achar que não vai acontecer, é melhor criar regras para a propriedade intelectual, evitando a pirataria, uma vez que os projetos trafegarão livremente pela rede”, comenta Fernando Simões, diretor da Atos na América do Sul.
A tecnologia também está permitindo a personalização da produção. Em segmentos como o da saúde, a “impressão” de próteses tem animado médicos e pacientes por viabilizar implantes mais confortáveis e ajustados ao corpo de cada um. Ainda na área da saúde, a análise complexa de dados permitirá acompanhar pacientes a partir de dados enviados de relógios inteligentes, prontuários eletrônicos e outros bancos de informações.
Já na indústria farmacêutica, a expectativa é que soluções como a computação cognitiva acelerem os ciclos de descobertas científicas, em tratamentos, drogas e tecnologias. Além de reduzir custos das pesquisas clínicas. “O cruzamento correto dos dados pode prever que o teste de uma droga será negativo, antes de ele terminar, economizando tempo e recursos financeiros”, explica Simões.
Edgar D’Andrea, sócio da PwC, lembra que a intensificação da urbanização também exigirá mudanças na forma de gerir as cidades, que ficarão mais inteligentes, a partir de tecnologias como a internet das coisas. “É preciso utilizar a tecnologia para atender às expectativas das pessoas e proteger o planeta”, diz. Para ele, as tendências globais convergem para melhor qualidade de vida e equilíbrio entre produção e meio ambiente. “Não dá para conquistar isso sem tecnologia.”
Rodrigo Africani, especialista em gestão de dados do SAS América Latina, utiliza como exemplo a gestão das redes de abastecimento de água e energia. O uso de sensores e sistemas de monitoramento online tem o potencial de ajustar oferta à demanda, sinalizar e prever problemas nas redes. “A economia de recursos é imensa e necessária diante da concentração urbana”, diz.
Outro setor em transformação é o da educação. Para Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da Cisco, a forma como educamos hoje não faz mais sentido no mundo digital. “Os alunos não precisam mais decorar coisas que estão acessíveis por meio de um celular”, diz. “A experimentação tornase fundamental, assim como o estímulo à criatividade e a capacidade de resolver problemas”, destaca.
Na educação e em serviços técnicos, entra em cena a realidade virtual, já conhecida do mundo dos games. Para especialistas, o recurso traz ganhos nas aulas técnicas e atendimentos em que reparos estão envolvidos, uma vez que permite “manipular” peças e equipamentos de forma virtual, facilitando o entendimento sobre a ação necessária. “Para profissionais em campo, o ganho de tempo é incrível”, diz Simões, da Atos.