Economistas já preveem que alta do desemprego vai se estender até 2017
17/02/2016 - por Ana HP
A piora contínua das expectativas para a atividade econômica tem levado número crescente de consultorias e instituições financeiras a projetar avanço na taxa de desemprego não apenas neste ano, mas também em 2017. A dinâmica de contratações e demissões, diretamente ligada à do Produto Interno Bruto (PIB), explica parte do cenário, influenciado também pela defasagem entre a reação dos indicadores de atividade e os referentes ao mercado de trabalho, descompasso de cerca de dois trimestres, conforme algumas estimativas. Assim, diante de uma retomada prevista apenas para o próximo ano, dizem economistas, a tendência de alta do desemprego só começaria a ceder em 2018.

A taxa média apurada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), de acordo com cálculos da MCM Consultores, saltará dos atuais 6,9% para 10,1% neste ano e para 10,8% em 2017. Apesar do desemprego maior, ressalta Sarah Bretones, economista da instituição, o ritmo de corte de vagas deve ser mais intenso em 2016, por causa do desempenho da atividade ­ as quedas de 3,7% e de 2,8% esperadas para o PIB em 2015 e 2016, ela diz, conduziriam a ocupação à maior retração da série da pesquisa (2,5%).

Em 2017, diante de uma alta modesta de 0,5% do PIB, a ocupação cederia 0,3%. "Com uma reação da atividade, ainda que apática, o ritmo de cortes não deve ser tão intenso", diz Sarah. A maior pressão, portanto viria de uma busca mais intensa por vagas, traduzida em uma elevação da população economicamente ativa (PEA).

"As empresas que decidiram não demitir no ano passado estão com o colchão muito curto", pondera Bruno Campos, da LCA Consultores, justificando a expectativa de contribuição maior das demissões para o aumento de desemprego neste ano. Tomando como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que deve substituir a PME como indicador oficial a partir de março, a LCA calcula que a taxa média passará de 8,6% para 11,7% neste ano e subirá a 13% em 2017.

A retração da população ocupada respondeu por 0,3 dos 2,4 pontos percentuais de aumento do desemprego em outubro do ano passado, em relação a igual período de 2014, para 9%. Em maio deste ano, destaca o economista, quando o indicador deve atingir o pico de 11,6%, a contribuição dos cortes de vagas será de um ponto percentual dos 3,6 pontos que a taxa deve abrir de distância sobre igual intervalo do ano anterior.

Para Campos, a população ocupada deixará de pressionar a taxa no segundo semestre de 2017, com redução do desemprego apenas no segundo semestre de 2018. "Os mecanismos institucionais [que elevam custos de demissão e contratação] fazem com que o mercado de trabalho não funcione como o de soja, por exemplo. Ele demora bem mais para se reequilibrar."

O "grande destaque negativo" deste primeiro trimestre, afirma o economista chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, será o setor de serviços, que deve dar sequência ao ritmo mais intenso de demissões observado no fim do ano passado. "Boa parte do ajuste da indústria e da construção civil ficou em 2015. Essas empresas já se adequaram à queda forte da produção, já demitiram seus trabalhadores qualificados."

É essa expectativa que justifica em parte a projeção da Tendências Consultoria de queda de 2,7% no volume de empregados da PME neste ano. "Os serviços respondem por 60% da ocupação na pesquisa", diz Rafael Bacciotti, economista da instituição. A trajetória das projeções da Tendências em 2015 dá dimensão da piora de expectativas que marcou o período. Nos últimos 12 meses, a estimativa para a taxa média apurada pela PME em 2017 saltou de 7,3% para 11,1% 

"A gente foi sendo surpreendido [pelo desempenho negativo da atividade] e foi fazendo as revisões", afirma. As expectativas para o PIB de 2017, por sua vez, se deterioraram no mesmo ritmo, passando de 1,8% para 0,1%. Oliveira, do Fibra, chama atenção para o desafio que o país terá durante a retomada da atividade para absorver o contingente expressivo de

desempregados em formação. "Vamos ter um problema social grande, a qualidade de vida nas grandes cidades deve piorar", afirma, fazendo referência aos primeiros sinais dessa deterioração presentes no "índice de miséria" compilado pela instituição.

Um dos poucos desdobramentos positivos da queda expressiva dos rendimentos dos salários, diz ele, será o alívio que o mercado de trabalho proporcionará à inflação ­ cenário oposto àquele que marcou o período entre 2010 e 2014. Ambas as taxas apuradas pela PME e pela Pnad Contínua já atingiram o nível em que não exercem mais pressão sobre os índices de preços, que Oliveira calcula em 6,5% e em 8,2%, nessa ordem.

"A abertura do hiato [do emprego] deve manter o mercado de trabalho desinflacionário pelos próximos anos", concorda Bacciotti, da Tendências. No cenário da MCM, essa dinâmica se estende pelo menos até 2020, quando o desemprego pela PME estaria em 8,6%.
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