Para cortar custos, melhorar processos industriais e desenvolver produtos com menor impacto ambiental, empresas têm investido em diversas soluções que combinam inovação com sustentabilidade. Com investimentos de 3% a 4% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento ao longo das últimas duas décadas, a Embraco tem reforçado sua liderança no segmento de compressores herméticos, do qual detém cerca de um quarto do mercado mundial.
Dois pilares são essenciais na equação: interação estreita com a academia e pesquisas regulares com grandes clientes para antecipar tendências e ambições. Em 1982, a empresa fez seu primeiro convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi dessa interação que nasceu, em 1992, a ideia de desenvolver um reator a plasma, utilizado para revestir peças metal mecânicas com uma camada resistente e anti-corrosiva.
A inovação, que trazia embutida ganhos sustentáveis relevantes, ganhou o mercado em 2005 e, desde então, já foram produzidas 25 milhões de peças para o mercado interno e externo, sendo que a tecnologia brasileira é usada pelas filiais da empresa na Eslováquia, Itália, México e China. "Antes desse processo, a peça pronta passava por uma limpeza e depois por um processo de nitritação, um tratamento da superfície. Com a inovação, não se faz mais a limpeza, o que reduz o consumo de água, de energia, de substâncias químicas, enquanto o óleo residual fica armazenado, não sendo mais liberado. Isso é bom para todos, porque reduz custos e impactos ambientais", diz o diretor de inovação da Embraco, Fabio Klein.
Indústria economiza no consumo de energia, água e substâncias químicas para conquistar os consumidores
Preocupada em melhorar continuamente os processos, a empresa começou a estudar maneiras de eliminar a nitritação, o que reduziria mais uma etapa do processo. Há cinco anos, a empresa estuda o aço autolubrificante.
"Com um processo a menos, teremos menos consumo de energia, água e menos substâncias químicas envolvidas na fabricação", diz Klein. Lotes pilotos do aço autolubrificante estão sendo enviados para a indústria. A intenção é de que em dois anos a tecnologia esteja disponível no mercado. O novo material, cuja composição do metal é altamente resistente e feita de maneira que a lubrificação funcione durante toda a vida útil de uma peça, deve ser primeiramente aplicada na indústria automotiva. Mas a exploração gradual do pré-sal, que exigirá materiais mais resistentes para a perfuração de poços a altas profundidades, poderá abrir um nicho de negócios, diz Klein.
A fabricante de eletrodomésticos Whirlpool tem buscado reduzir o consumo de energia por produto fabricado, com base em duas vertentes: processos fabris e desenvolvimento de produtos mais eficientes. Nas unidades de produção, várias medidas têm sido implementadas, como projetos de melhoria da iluminação e troca de motores. Entre 2008 e 2012, o consumo de energia por produto fabricado caiu 14%. Outra frente de atuação é o desenvolvimento de produtos mais eficientes, com novas soluções criadas pela equipe de pesquisa da empresa. Um exemplo é uma nova linha de refrigerador, em que o freezer fica na parte inferior, e a geladeira, na superior.
"Uma série de inovações faz com que o consumo dele seja 35% menor do que o de um produto de selo de eficiência energética de classe A, que já é o mais eficiente", diz Vanderlei Niehues, gerente geral de sustentabilidade, EHS e regulamentações da Whirlpool Latin América. Adotou-se uma nova tecnologia de compressor, que passou a trabalhar em uma velocidade variável, em vez de sempre funcionar em uma velocidade fixa. Nesse novo aparelho, quando se abre a porta do refrigerador e a troca de calor é maior, o compressor trabalha mais, gastando mais energia. Já, de noite, quando se usa menos o aparelho, ele trabalha numa velocidade mínima, reduzindo o consumo. Outra novidade é o índice de reciclagem, que chega a 90%. "Identificamos o que poderíamos fazer para aumentar o indicador e buscamos trocar alguns materiais para facilitar a separação pós-consumo de aço, ferro, plástico", diz Niehues. Em alguns segmentos do refrigerador, o uso de PVC foi substituído por outra resina, o poliestireno.
A indústria automotiva também tem incorporado tecnologia para reduzir impactos ambientais. Em sua fábrica de Taubaté (SP), a Volkswagen está investindo cerca de R$ 420 milhões na nova linha de pintura da unidade. O novo processo utilizará 110 robôs, tornando a pintura interna e externa dos veículos totalmente automatizada. Essa novidade permite eliminar uma camada de tinta do processo, reduzindo o consumo de insumos básicos. As inovações tornam o processo produtivo ecológico, permitindo reduções de 30% no consumo de energia e de 20% no consumo de água por veículo produzido, em comparação a um processo de pintura convencional. A unidade também é ecológica, trabalhando com tinta totalmente à base de água.
Pequenas e médias empresas também têm investido em soluções ecologicamente corretas. Um exemplo nesse sentido é o da Hydronorth, que, apesar do nome, nasceu em 1981 no Paraná e ainda mantém controle 100% nacional e familiar. Líder nacional e pioneira do mercado de resinas impermeabilizantes, desde 2006, a empresa viu que era preciso ter produtos inovadores para crescer no mercado e disputar espaço com as rivais. Criou-se então a partir daquele ano uma rodada de inovação em que a empresa reúne, uma vez por ano, em um mesmo espaço, seus fornecedores para discutir tendências e antecipar ideias. "Copiar não ia levar a nada, portanto buscamos criar ideias para que tivéssemos um produto diferenciado e vimos que a sustentabilidade tem um apelo relevante", diz o vice-presidente da empresa, Matheus Góis. Um recente produto desenvolvido é uma resina acrílica para impermeabilização e proteção de telhas, conhecida com "telhado branco". O material consumiu um ano de pesquisas, com funcionários focados no desenvolvimento da novidade, que promete reduzir a temperatura de ambientes em até cinco graus. Além disso, ajuda a refletir até 90% do calor emitido por raios solares. A solução é feita à base de água, com baixo composto orgânico volátil e baixa emissão de gás carbônico.
A área de transportes, que lidera as emissões de poluentes globais no Brasil depois daquelas relacionadas ao desmatamento, é outra que tem buscado soluções inovadoras. A JadLog, que atua na entrega de cargas expressas fracionadas e cujo faturamento em 2012 chegou a R$ 325 milhões, iniciou esse ano com uma novidade nas ruas de algumas cidades do país: o serviço de coleta e entrega de encomendas é feita com o uso de um triciclo elétrico. "Estamos com 17 triciclos movidos à bateria elétrica que têm autonomia para circular por 30 quilômetros, o que permite seu uso em cidades médias", diz o diretor comercial da empresa, Ronan Hudson. Os equipamentos estão sendo usados em 14 cidades brasileiras, nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará e Acre.
O projeto piloto deverá ser gradualmente estendido à rede de franqueados da empresa. Além do apelo ambiental, o triciclo tem uma outra vantagem: facilidade de locomoção em meio a ruas cada vez mais congestionadas nas cidades.
© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.
Leia mais em: